O que o fim de um elevado em Madri pode ensinar ao Minhocão?

22 de maio de 2021 4 mins. de leitura

Transformação de viaduto em parque pode estimular a mobilidade ativa, além de reduzir a poluição sonora e atmosférica

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Quem passa com frequência pelo Elevado Presidente João Goulart, em São Paulo, conhece bem o estresse causado por buzinas e motores barulhentos. É fácil entender o motivo: embaixo do famoso Minhocão, estão alguns dos piores índices de poluição sonora da capital paulista, conforme aponta um estudo da Universidade de São Paulo (USP).

Mas não é só isso. Além de projetar uma imensa sombra sobre o espaço público e concentrar um ar de má qualidade, a estrutura contribui para a desigualdade, dividindo cenários socioeconômicos bem diferentes, como Barra Funda e Higienópolis.

A área do Minhocão é 79% mais poluída do que o restante da cidade de São Paulo. (Fonte: Shutterstock)
A área do Minhocão é 79% mais poluída do que o restante da cidade de São Paulo. (Fonte: Shutterstock)

Segundo a pesquisa, que é dirigida pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, a área do elevado é 79% mais poluída do que o restante da cidade. É por esses motivos e outros que o Plano Diretor de São Paulo prevê a remoção dessa estrutura ou a transformação dela em parque. 

Inspirações não faltarão ao Brasil, como a reformulação do elevado da autopista M30, de Madri, que dará lugar a uma área verde. Em um artigo para o site ArchDaily, o arquiteto urbanista Marcos O. Costa explica que, assim como o Minhocão, o viaduto madrileno separa uma região rica de uma região pobre, além de causar sombra e poluição sonora e atmosférica. Dessa forma, o parlamento municipal da capital espanhola resolveu demoli-lo. 

O elevado da autopista M30

Elevado da autopista M30, de Madri, será transformado em um parque. (Fonte: ArchDaily/Reprodução)
Elevado da autopista M30, de Madri, será transformado em um parque. (Fonte: ArchDaily/Reprodução)

Com tráfego intenso, o elevado da autopista M30, contribui para que Madri tenha a maior taxa de mortalidade por dióxido de nitrogênio de toda a Europa. Por volta de 170 mil carros passam por ali todos os dias. 

Mas, desde 2004, essa passagem passou a ser menos importante para a estratégia viária da cidade. Naquele ano, foram inaugurados túneis que receberam boa parte do fluxo da autopista M30, o que ajudou a reduzir em 42% a circulação de veículos na região. 

Além disso, foram lançados estudos apontando que a retirada do elevado poderia movimentar a economia do local, impulsionando sobretudo o comércio. Enquanto se pensava no que fazer no espaço após o fim do viaduto, a ideia da construção de um parque caiu como uma luva no atual cenário. A ampliação de áreas verdes e a consolidação de ruas abertas para pedestres e ciclistas é um movimento crescente durante a pandemia.

Desafios

A mudança está prevista para acontecer até 2023. A ideia é bonita, inspiradora, mas vem acompanhada de muitos desafios. Um deles é financeiro. A área a ser transformada tem 133 mil metros quadrados, e a mudança impactará significativamente os cofres públicos. Só para a demolição, deverão ser investidos 30 milhões de euros. Já as obras de urbanização do lugar custarão aproximadamente 45 milhões.

Outro ponto que preocupa os urbanistas é uma possível gentrificação. Para lidar com isso, a prefeitura deverá criar um plano de regeneração urbana do entorno, construindo novas moradias mediante regras para limitar os preços dos aluguéis. Assim, será possível garantir uma transformação minimamente igualitária. 

Um grupo de trabalho tem avaliado possibilidades para viabilizar essa grande obra, que, mesmo produzida em um país bem diferente do Brasil, poderá trazer grandes lições — do que pode ou não dar certo nessa empreitada. 

Fonte: ArchDaily, Conexão Planeta.

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