Crise dos sistemas de transporte público e aumento do tráfego de carros particulares poderão causar mudanças drásticas nas grandes cidades
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Durante o encontro, a jornalista Mariana Ramos conversou com a especialista em transporte urbano Bianca Bianchi Alves, do Banco Mundial, e com a presidente da Fundação Toyota, Viviane Regina Mansi, sobre o futuro da mobilidade e dos meios de transporte com o fim da pandemia do novo coronavírus.
Um relatório elaborado pelo Banco Mundial a respeito do uso do transporte público durante o período da pandemia revelou que os sistemas de transporte coletivo de países da América Latina já perderam cerca de US$ 1,1 bilhão por mês.
Segundo Bianca, durante os primeiros meses da pandemia, houve queda de 90% no número de passageiros. Hoje, ela está em torno de 60%. “Além do isolamento social que muitas pessoas estão cumprindo ainda, a queda de usuários está sendo causada pelo aumento do desemprego”, explica.
De acordo com o documento, os sistemas de transporte que já contavam com o subsídio dos governos locais foram os menos prejudicados. Já empresas que não recebem recursos públicos, como o sistema de trens do Rio de Janeiro, estão enfrentando uma grave crise.
“Alguns setores, como os de ônibus, conseguiram ajustar os seus serviços e diminuir custos. Mas isso não está sendo possível em todos os países, pois muitas legislações exigem distância mínima entre os usuários de transporte; então, não há como diminuir a frota”, completa.
Segundo Bianca, ainda é cedo para falar de mudanças permanentes, mas ela acredita que a desaceleração econômica causada pela pandemia provocará transformações no modelo de mobilidade e geografia das oportunidades das cidades.
“Com o aumento das oportunidades de teletrabalho, é provável que alguns polos comerciais fechem e novos abram. Mesmo com uma menor demanda, o transporte público continuará sendo necessário”, diz.
A especialista crê ainda que haverá um crescimento no uso de automóveis pessoais, em virtude do medo de usar o transporte coletivo. “É provável que, quando a economia voltar a se aquecer, tenhamos que enfrentar um aumento dos congestionamentos e dos acidentes”, comenta.
Para Viviane Mansi, a pandemia acabou acelerando uma série de movimentos que já vinham acontecendo. “Há algum tempo a Toyota não trabalha mais apenas para ser uma empresa de automóveis. Somos uma empresa de mobilidade, que vai muito além do carro e começa dentro de casa”, explica.
Entre as pesquisas que a empresa está desenvolvendo está a de um robô doméstico para dar apoio às atividades domésticas dos idosos, carros cada vez mais inteligentes e interativos — com ou sem motorista — e veículos que usam células de hidrogênio como combustível. Alguns protótipos seriam apresentados durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho deste ano, mas tiveram que ser adiados por conta da pandemia.
Um dos projetos mais ousados da empresa é a construção da Woven City, localizada na base do Monte Fuji e planejada para ter alimentação por células de combustível de hidrogênio. Além de abrigar as famílias dos colaboradores da empresa, funcionará como campo de testes para soluções de mobilidade, robótica e condução autônoma.
Viviane também falou sobre a Kinto, um braço da Toyota que apresenta diferentes soluções de mobilidade, entre elas o serviço de compartilhamento de veículos para empresas e pessoas físicas.
“Olhamos para o futuro de forma bastante inclusiva, com a intenção de atender a diferentes perfis de usuários: aqueles que gostam de estar ao volante, os que se preocupam com a sustentabilidade e aqueles que não querem comprar um carro, mas precisam desse tipo de transporte temporariamente.”
Para a presidente da Fundação Toyota, a pandemia está servindo como uma oportunidade de repensar a maneira como se usa o transporte. “Não existe uma solução única para enfrentar os problemas que ainda vão surgir. O compromisso da empresa é viabilizar que todo mundo possa se movimentar: ir e vir”, explica.
Fonte: Momento Mobilidade/Summit Mobilidade