Movimento pode se traduzir em menos mortes e maior qualidade do ar, afirmam defensores das estratégias
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Diminuir o risco de mortes por acidentes de trânsito e aprimorar a qualidade do ar. Essas são as justificativas mais comuns de países da Europa para a redução do limite de velocidade em suas estradas. Em novembro, a Espanha estabeleceu deslocamentos a no máximo 30 quilômetros por hora em todas as vias urbanas de duas pistas em vez de 50 km/h, afetando cerca de 80% de Madrid. A Holanda pretende fazer o mesmo, mas em todo o território; para isso, está conduzindo consultas públicas.
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A tendência também abarca grandes estradas. Em setembro, o Reino Unido decidiu implementar um projeto piloto por meio do qual três de suas principais vias mantêm trechos que caem de 70 milhas por hora (112,6 km/h) para 60 mph (96,5 km/h), visando, se tudo der certo, contemplar o país todo; os Países Baixos determinaram o teto de 100 km/h durante o dia em março deste ano.
“Estamos certos de que 95% dos acidentes poderiam ser evitados se os condutores tivessem a perícia e o conhecimento adequados”, afirma Juan Manuel Reyes, presidente da Associação Mutua Motera, que é contra as mudanças. “A reforma não é acertada”, defende, alegando sobrecarregamento de tráfego e outros problemas.
Mark Rutte, primeiro-ministro holandês, reconhece o descontentamento: “É um passo extremo. Ninguém gosta. Entretanto, serve a um interesse maior”.
Enquanto muitas decisões se justificam na pandemia de covid-19, de acordo com o Bloomberg CityLab, o cenário não passou de um catalisador de algo que já estava em andamento. O movimento de carros nas ruas aumentou pelo medo do contágio — na área metropolitana de Barcelona, eles respondem por 52% do total; antes, eram 27%.
Entre 2018 e 2019, as mortes nas rodovias cresceram 6% também na Espanha. Reduzindo-se a velocidade de 50 km/h para 30 km/h, tais chances seriam cinco vezes mais baixas, segundo o primeiro-ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska. Aliás, há lugares por lá em que o limite é de 20 km/h, justo nos locais em que não há distinção clara do espaço direcionado a pedestres e daquele dedicado a veículos.
De qualquer modo, a Ilha de Man, na Grã-Bretanha, atribui suas regras universais de 40 mph (64,3 km/h) somente à covid-19, já que tem apenas dois hospitais e população com idade avançada.
De acordo com um estudo das estradas do País de Gales divulgado em outubro, foi constatada queda de até 47% da poluição quando se reduziu o limite de 70 mph (112,6 km/h) para 50 mph (80,4 km/h). Além disso, a maior eficiência de consumo de combustíveis pelos automóveis é um benefício, pois, segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente, se a lei fosse obedecida à risca, uma queda de 120 km/h para 75 km/h se traduziria em economia entre 12% e 18% — argumento que funcionou nos anos 1970.
Com menos tráfego durante a pandemia, motoristas deixaram precauções de lado, gerando número recorde de multas e mortes nos Estados Unidos, e isso pode complicar a situação de instituições de saúde já soterradas por infecções, levando, inclusive, a transferências internacionais de pacientes, a exemplo do que já ocorreu na Europa. Ainda nessa linha, um estudo publicado em outubro pela Sociedade Europeia de Cardiologia revelou que a má qualidade do ar parece aumentar o risco de morte por covid-19 em até 15%.
Ainda que essas medidas não surtam efeito em curto prazo, é certo que a doença deu ferramentas suficientes para que nações repensem a direção para a qual desejam encaminhar suas rodovias.
Fonte: Bloomberg, La Moncloa, Larazon, Daily Mail
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