Arábia Saudita foi o último país a proibir carteira de habilitação para mulheres

9 de março de 2020 4 mins. de leitura

Até metade de 2018, as sauditas eram proibidas de frequentar autoescolas

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Até a metade de 2018, as mulheres da Arábia Saudita eram proibidas de frequentar autoescolas e, consequentemente, de ter carteira de habilitação. O país era o único do mundo que ainda impedia que suas cidadãs pudessem estar atrás do volante.

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A ordem foi suspensa por um decreto real feito pelo rei Salman, e a medida muda completamente o cenário da mobilidade urbana local, visto que as famílias sauditas constituídas por mulheres necessitavam de um motorista particular para conseguirem se locomover no dia a dia.

Com um transporte público longe do ideal, a mobilidade urbana do país dificultava ainda mais a vida das donas de casa e trabalhadoras sauditas. Por exemplo: o metrô da capital Riad, situada no centro da Arábia Saudita, só tem previsão de inauguração para este ano. Sem poder conduzir seus próprios veículos e com a locomoção totalmente prejudicada pela falta de infraestrutura, as mulheres tinham que gastar de 800 riyals a 3.000 riyals (moeda local com valor praticamente igual ao do real) por mês para ter um motorista.

De acordo com o governo saudita, os 33 milhões de habitantes do país gastavam em torno de 25 bilhões de riyals por ano para empregar pouco mais de 1 milhão de motoristas particulares. Portanto, a decisão governamental não afeta apenas a vida das mulheres, que agora podem se locomover com autonomia pelas vias do país, mas também o modelo de negócio voltado para a mobilidade urbana local, com vários profissionais desempregados.

A mudança na mobilidade saudita

(Fonte: Unsplash)

A Arábia Saudita tem passado por uma série de transformações para diminuir a dependência do dinheiro proveniente do petróleo. Comandada pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, a reforma ganhou o nome de Visão 2030, na qual os sauditas se comprometem a difundir um modelo de vida mais sustentável e agregador. Com isso, a previsão é de que a cidade de Riad passe de US$ 46 bilhões de renda não petroleira em 2015 para US$ 267 bilhões em 2030.

Em questão de mobilidade urbana, um dos objetivos primordiais do Visão 2030 é que as mulheres passem a ser pelo menos 30% da força de trabalho saudita. Por forte influência da religião e das antigas proibições, a população feminina representava apenas 10% da comunidade trabalhadora.

Após o decreto real que deu a elas o direito de tirarem carteira de motorista, algumas novas oportunidades de trabalho surgiram no mercado. Se antes elas necessitavam de um motorista particular para se locomoverem, agora os aplicativos de transporte, como Uber e Careem (braço da Uber no Oriente Médio), abrem as portas para que as sauditas possam fazer o uso de seus direitos como uma fonte de renda.

As barreiras remanescentes

(Fonte: Unsplash)

O processo para as mulheres obterem uma carteira de motorista saudita ainda requer adaptações, apesar de ser um dos poucos trâmites administrativos em que as mulheres não precisam da chancela de pai, irmãos, marido ou tutores masculinos. Uma das grandes dificuldades encontradas é a escassez de autoescolas femininas. Após a queda da proibição, o governo autorizou apenas 14 cursos de direção a ministrarem aulas para as mulheres do país. A falta de ambientes para a prática gera lentidão no sistema de aprendizado e demora para que um maior número de mulheres possa utilizar carros nas ruas.

Além disso, a precificação dos cursos ainda demonstra uma grande disparidade cultural. Enquanto as mulheres pagam 2.500 riyals por 20 horas de aula teórica e 30 horas de aula prática, os homens têm que desembolsar apenas 400 riyals pelo serviço. Portanto, apesar das recentes mudanças na sociedade saudita, ainda existem diversos desafios que a população feminina deve enfrentar no futuro do país.

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