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Um estudo divulgado em maio de 2022 mostra que São Paulo foi uma das cidades que não conseguiram atingir as metas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ter um ar saudável para a população.
A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e monitorou o índice de três poluentes: material particulado (MP2,5 e 10), ozônio (O3) e dióxido de nitrogênio (NO2) ao longo de 22 anos. Em todo esse período, a poluição não ficou abaixo do nível considerado saudável em nenhuma das estações de monitoramento do ar da cidade.
Alguns pontos relativos à poluição em São Paulo melhoraram, como o nível de concentração do dióxido de nitrogênio (NO2), que foi reduzido na atmosfera da cidade.
Na estação de monitoramento do Ibirapuera, por exemplo, a queda do NO2 foi de 41 microgramas por metro cúbico (µg/m3) para 24 no período do estudo. Porém, o mínimo recomendado pela OMS é de 10µg/m3.
Na estação de monitoramento da Marginal Tietê, afetada mais diretamente pelo fluxo de veículos, a concentração de NO2 foi de 49 µg/m3, ou seja, quase cinco vezes a mais do que o recomendado.
Apesar do maior risco de poluição perto das vias com muito tráfego, até mesmo a estação de monitoramento do Pico do Jaraguá (que fica em local de alta altitude, dentro de um parque e afastado da cidade), foram marcados índices de poluição acima do recomendado. Isso demonstra como o ar em toda a região pode estar comprometido.
Poluição em São Paulo e os riscos à saúde
Todos os poluentes monitorados causam efeitos nocivos à saúde; por isso, a exposição a eles a longo prazo pode causar doenças no sistema respiratório e problemas cardiovasculares.
Um dos poluentes que mais assusta é o chamado material particulado (PM). Ele se refere a partículas poluentes geradas como consequência da queima de combustíveis fósseis, com tamanhos que variam entre 10 e 2,5 microns (µm) de diâmetro (PM10 e PM2,5, respectivamente).
Essas partículas podem adentrar o pulmão e penetrar na corrente sanguínea, podendo afetar órgãos do corpo inteiro. Desde 2013, o material particulado é considerado cancerígeno.
Um estudo da Universidade Harvard demonstrou que a situação da poluição do ar causada por combustíveis fósseis no planeta pode ser pior do que se imaginava. Segundo a pesquisa, doenças decorrentes da poluição por material particulado (PM 2,5) podem ser responsáveis por uma a cada cinco mortes no mundo. Só em 2018, foram 8,7 milhões de pessoas que morreram por causa de doenças diretamente ligadas à poluição do ar.
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Pouco tempo de exposição à poluição pode causar efeitos nocivos
Outra pesquisa desenvolvida para o projeto Clean Air Engineering for Cities (CArE-Cities), da Universidade de Surrey (Reino Unido), mostrou que os efeitos nocivos da poluição no trânsito podem agir mais rápido do que se pensava. Motoristas expostos ao trânsito pesado e à área de engarrafamento podem inalar doses significativas de partículas materiais (PM2,5).
Essa pesquisa foi realizada em dez cidades pelo mundo, inclusive São Paulo. Na capital paulista, os dados foram coletados em um trajeto de 12 quilômetros, que levou uma hora para ser concluído.
Os trechos mais lentos e de trânsito mais pesado foram nos quais as maiores taxas de poluição foram verificadas. Em apenas oito minutos, 17% do tempo de rota, o motorista ficou exposto a 35% da poluição de todo o trajeto.
A cidade de São Paulo tem uma frota de quase 31,5 milhões de veículos. Apesar de existir a aplicação das regras de rodízio para diminuir a quantidade de carros em circulação, muitas famílias têm dois ou mais carros para poder circular todos os dias.
Os estudos mais recentes sobre mobilidade urbana e as experiências bem-sucedidas de diminuição da poluição nas cidades demonstram que é preciso fazer a população enxergar o transporte público como uma alternativa viável para deixar de usar carros particulares.
Para isso, é preciso investimento em infraestrutura e qualificação do transporte público, assim desencorajando o uso de veículos particulares, seja por meio de rodízios, seja pelo pedágio urbano, seja pela proibição de circulação de carros em determinadas vias.
Concomitantemente, a população precisa se sentir segura para usar a mobilidade ativa ou micromobilidade, os deslocamentos por bicicletas, patinetes elétricos ou a pé.
Sem a qualificação da malha cicloviária e maior segurança para pedestres, dificilmente o Brasil vai superar a dependência do transporte rodoviário, o que deixa toda a população da cidade, até quem não usa carros particulares, à mercê de mais poluição.
Fonte: OMS, IEMA, Mobilize, Ciclo Vivo, O Eco.