Conheça o maior evento de mobilidade urbana do Brasil
Ao longo do século 20, dois fenômenos ganharam grandes proporções e devem continuar sendo a tônica no desenvolvimento social no século 21: a urbanização e o envelhecimento da população.
No Brasil, em apenas nove anos, a população idosa aumentou quase 40%. Atualmente, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o País tem 31,23 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representa cerca de 15% da população.
Segundo uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil deve alcançar a marca de ter 30% da população acima dos 60 anos até 2050. Ainda em 2030, serão mais idosos do que crianças e adolescentes até 14 anos, mas, com essa tendência de envelhecimento, por que ainda é tão comum as cidades negligenciarem o cuidado com os idosos?
O cuidado aos idosos no Brasil
Muito da falta de cuidado com os idosos vem de uma tendência de etarismo, o ato de discriminar pessoas com base em estereótipos de idade. Em todo o mundo, é comum ver pessoas acusando os mais velhos de serem um “peso” para a sociedade e de não contribuírem mais com o trabalho deles.
Esse raciocínio já parte de uma premissa errada, afinal boa parte dos idosos brasileiros usa suas aposentadorias para ajudar a manter a família e, em muitos casos, são eles que são os donos de casas que abrigam várias pessoas.
Essa relação entre idosos e família é bem mais complexa do que pode aparentar. No Brasil e na América Latina, ocorre o chamado familismo, segundo o inquérito Saúde, bem-estar e envelhecimento (Sabe), da Universidade de São Paulo (USP), coordenado pela professora Yeda Duarte.
Nesse processo, a falta de políticas públicas para pessoas idosas retira o dever do Estado de cuidar desse contingente da população e repassa toda a obrigação para as famílias.
As famílias de idosos nem sempre têm a capacidade e a vontade de assumir essa função. Sem assistência para ir atrás do cuidado à saúde e com uma cidade pouco amigável, os idosos tendem a se distanciar do convívio social e não cuidar de doenças que precisam de controle, como diabete e hipertensão. Duarte afirma que o Estado criminaliza famílias em casos de negligência com pessoas mais velhas, mas ninguém criminaliza o Estado por negligenciar essas famílias.
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Cidade amiga
Mas o que o Estado pode fazer pelos idosos? Segundo o Guia global das cidades amigas das pessoas idosas, da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma cidade que acolhe o idoso deve ter uma atenção especial nos seguintes itens:
- transporte público;
- habitação;
- participação social;
- respeito;
- inclusão;
- participação cívica;
- emprego;
- comunicação;
- informação;
- apoio comunitário;
- serviços de saúde;
- espaços exteriores;
- edifícios.
Pode-se notar que a maioria desses itens está ligada à questão de mobilidade, bem como de supervisão e prestação de assistência. A infraestrutura urbana é fundamental para proteger os idosos, mas as melhorias não atingem apenas essa parcela da população. Calçadas, rampas e escadas bem-feitas não apenas auxiliam os idosos, como também crianças, pessoas com deficiência (PCDs) e todos os demais cidadãos.
Um transporte público bem pensado, que apresente soluções para os gargalos urbanos e que contemple os idosos também, naturalmente, será um melhor transporte público para todos. Portanto, notamos que pensar uma cidade amiga dos idosos é também refletir sobre uma cidade mais humana, democrática e acessível.
No Brasil, algumas das experiências que funcionam em relação ao apoio comunitário e ao cuidado com os mais velhos vêm de políticas municipais. Na maioria dessas cidades, são empregados Agentes Comunitários de Saúde e a utilização do Sistema Único de Saúde (SUS) na realização de visitas a idosos mais necessitados.
Alguns exemplos de programas de cidades conseguem reunir grupos de idosos, criando convívio e sociabilidade que dão sentido a essa fase da vida. Para isso, é preciso que os lugares caminháveis estejam nivelados e o transporte público acessível.
Tendo uma estrutura competente, os idosos têm inúmeras possibilidades a mais de convívio social, de buscar colocações profissionais e de encontrar formas de lazer.
Moradias
A questão habitacional também é um ponto delicado para as pessoas mais velhas. Como vimos, ruas e casas com acesso dificultado podem fazer que idosos fiquem “presos” em casa, sem poder se deslocar. Pensando nisso, muitas construtoras por todo o País estão investindo na construção de edifícios adaptados para idosos.
Segundo uma reportagem do Expresso Estadão, essas construções têm cuidados em uma série de detalhes que podem fazer a diferença para evitar que os idosos se machuquem e podem, inclusive, salvar vidas.
De acordo com o texto, edifícios ideais têm melhorias como pisos antiderrapantes, condomínios com a presença de enfermeiros ou equipes de saúde, vidros sinalizados, rampas dentro das especificações e elevadores amplos.
Dentro dos apartamentos também há melhorias que podem ser feitas, como:
- portas amplas, que comportem passagem de cadeira de rodas;
- mobiliários sem cantos vivos;
- cadeiras com braços;
- maçanetas retas ou fechaduras digitais;
- botão antipânico em diferentes cômodos.
Fonte: OMS – Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas, Agência EBC Brasil
Expresso Estadão, Fiocruz, Caos Planejado, Expresso Estadão