Entre as alternativas para diminuir o uso de veículos particulares, a bicicleta se mostra uma opção mais saudável e sustentável, segundo estudos
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Embora seja ponto pacífico que a resolução dos problemas de mobilidade urbana passa por uma diminuição no uso de automóveis particulares, ainda há um grande debate sobre quais são as melhores alternativas a eles. Naturalmente, o transporte público é uma peça-chave nesse processo, mas também são necessários outros meios que funcionem como complemento, principalmente para que as pessoas possam chegar até as estações de metrô ou ônibus. É nesse contexto que surge o conceito de micromobilidade, criado em 2017 pelo especialista em tecnologia romeno Horace Dediu, em um festival na Dinamarca.
Sua definição engloba veículos com até 500 quilos, movidos por motores elétricos e que sejam oferecidos como serviços de transporte. O termo ganhou popularidade à medida que as empresas de aluguel de patinetes elétricos ganhavam espaço no mundo todo. Tanto eles quanto as bicicletas de aluguel são as principais expressões da micromobilidade nas grandes cidades, embora definições mais amplas incluam também os serviços de caronas por aplicativo e as bicicletas convencionais.
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A questão é que, dentre essas alternativas, as bicicletas com pedal se mostram a alternativa mais vantajosa às cidades e aos usuários, seja do ponto de vista ambiental ou da saúde.
Bicicletas são mesmo micromobilidades?
As bicicletas, principalmente as compartilhadas, são incluídas nas definições e políticas de micromobilidade. Em grande parte, porque são utilizadas com objetivos parecidos aos dos patinetes elétricos: cobrir distâncias curtas e funcionar como um complemento do transporte coletivo, dentro do conceito de primeira e última milha (first and last mile).
Contudo, a inclusão das bicicletas nesse conceito levanta questionamentos. Frente a um projeto de lei municipal que, em 2019, propunha a regulamentação dos serviços de micromobilidade — incluindo o aluguel de bicicletas —, a Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo publicou um artigo refutando essa definição.
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Segundo o grupo, tanto as bicicletas particulares quanto as compartilhadas podem assumir um papel muito maior nas políticas de mobilidade urbana, atendendo a trajetos maiores e mais importantes do que as pequenas distâncias percorridas com os patinetes. Além disso, questiona-se a própria definição dos serviços de micromobilidade como algo sustentável.
O mesmo questionamento é endossado por um relatório da EEA (Agência Europeia para o Meio Ambiente, na sigla em inglês). O documento aponta diversas razões pelas quais os serviços de micromobilidade com patinetes elétricos podem não ser tão sustentáveis quanto parecem.
Em primeiro lugar, porque não estão tirando carros das ruas: três dos quatro usuários de patinetes na França teriam caminhado caso o serviço não estivesse disponível. Além disso, os veículos precisam ser trocados com frequência, e sua fabricação — eles têm baterias feitas com minérios — gera bastante poluição. Por fim, vale lembrar que os patinetes precisam ser recolhidos para serem recarregados durante a noite, o que é feito por carros.
Dessa maneira, conclui-se que as bicicletas são alternativas mais sustentáveis, uma vez que não precisam de recarga, duram mais tempo e realmente ajudam a tirar os carros das ruas. Por demandarem que o usuário pedale para se locomover, elas também funcionam como exercício físico e, indiretamente, ajudam a diminuir os custos com saúde pública ou faltas de funcionários em empresas por motivos de doença.
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Mesmo as bicicletas elétricas, aquelas com o auxílio de motor, exigem mais esforço físico do usuário do que os patinetes e também apresentam benefícios à saúde.
Naturalmente, toda alternativa aos automóveis é bem-vinda — o que inclui os patinetes. Contudo, o relatório aponta que uma integração entre o transporte público, caminhadas e bicicletas para a última milha são um modelo mais interessante para diminuir efetivamente a emissão de gases do efeito estufa nas grandes cidades.
Especialistas da organização internacional World Resources Institute (WRI) indicam a integração entre os diferentes modais como chave para uma mobilidade urbana eficiente. Nesse contexto, as bicicletas se mostram uma ferramenta interessante para aumentar o acesso ao transporte coletivo e ser uma solução eficiente para a primeira ou a última milha.
Considere que uma pessoa mora perto do transporte público e pode facilmente acessá-lo a pé quando está a, no máximo, 500 metros dos corredores de ônibus ou dentro de 1 quilômetro até as estações de metrô, trem ou BRT. Porém, quando a bicicleta entra na conta, esse raio é expandido para 3 quilômetros, aumentando substancialmente o número de pessoas que podem usar o transporte coletivo.
Quando o metrô é uma alternativa viável?
As administrações municipais que queiram integrar as bicicletas ao transporte público podem realizar iniciativas que vão desde criar espaço para as pessoas levarem o veículo consigo no ônibus ou metrô, oferecer bons bicicletários nas estações ou até criar serviços de aluguel de bicicletas com foco nos usuários de coletivos.
Foi o que fez Fortaleza, capital do Ceará, com seu programa Bicicleta Integrada inaugurado em 2014. As estações ficam sempre próximas dos terminais de ônibus, e o período de aluguel dura 14 horas, o que foi essencial para que o serviço se tornasse uma alternativa de mobilidade viável aos trabalhadores. Assim, por exemplo, eles podem alugar uma bicicleta quando descem do ônibus, ir até o trabalho, ficar com ela durante o expediente e fazer o trajeto de volta.
O instituto WRI Brasil conclui que os desafios de mobilidade urbana das grandes cidades são resolvidos de forma mais eficiente quando os modais são vistos como complementares e não concorrentes, criando uma rede integrada de transporte com todos eles. Como no exemplo de Fortaleza, as bicicletas constituem uma ferramenta interessante para cumprir a primeira ou a última milha — papel dos serviços de micromobilidade — nesse contexto de integração.
Fonte: WRI Brasil, Federação Europeia de Ciclismo, Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo, Projeto Draft, Agência Europeia para o meio ambiente
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