Uso de rampas por pessoas com mobilidade reduzida era comum, segundo pesquisa recente de universidade dos Estados Unidos
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Um estudo da Universidade Estadual da Califórnia (Estados Unidos) mostrou que os gregos já se preocupavam com a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida há milhares de anos.
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Segundo a arqueóloga Debby Sneed, templos religiosos de mais de 2,3 mil anos tinham rampas e pontes para possibilitar o acesso daqueles que usavam bengalas, muletas ou eram carregados em macas. A descoberta foi divulgada em um artigo publicado no fim de julho na revista científica de arqueologia Antiquity.
Para chegar a essa conclusão, Sneed analisou diversos achados arqueológicos e fez visitas a templos antigos, especialmente os construídos no século 4 a.C., época em que começaram a surgir mais estruturas para Asclépio, deus da cura e da medicina. Os estudos costumavam justificar a existência das rampas para o transporte de animais e materiais de construção, mas a especialista argumenta que isso vai contra a lógica.
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Em primeiro lugar, sabe-se que os animais eram sacrificados do lado de fora e, como muitos templos não têm rampas, isso provavelmente não fazia parte das técnicas de engenharia da época. Além disso, análises de esqueletos mostram muitos gregos com problemas como artrite, e há muitas obras artísticas retratando pessoas que se apoiam em bengalas ou muletas.
Como dito, nem todos os templos tinham rampas, mas, além de demonstrar que elas não estavam lá para transportar materiais de construção, Sneed ganhou um ponto a mais em sua teoria da acessibilidade. Isso porque as estruturas estão presentes em número muito maior nos lugares associados à cura: há apenas duas no Santuário de Zeus, em Olímpia, por exemplo, enquanto o templo para Asclépio em Epidauro tem 11, mesmo sendo menor. Algo similar acontece em um local de culto ao deus da cura em Corinto, que tem amplo acesso por rampas, apesar de seu tamanho.
“A distribuição é muito clara: as rampas aparecem em locais onde há mais pessoas com deficiência“, afirmou Sneed à revista Science. Essa e as outras evidências descritas anteriormente fizeram a arqueóloga acreditar que o principal propósito dessas estruturas era mesmo a acessibilidade. Contudo, isso não é consenso entre especialistas.
Para Katja Sporn, do Instituto Arqueológico Alemão, as rampas eram uma tendência de arquitetura efêmera da época em toda a região grega do Peloponeso e serviam para múltiplos usos, o que inclui o acesso de pessoas com deficiência, é claro, mas ela afirma que é improvável que tenham sido construídas apenas para isso.
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Já a historiadora Jane Draycott, da Universidade de Glasgow (Escócia), acredita que Sneed criou um argumento bastante sólido e pondera: “Se esses locais eram visitados por pessoas com deficiência, predominantemente, não faz sentido que eles fossem mais acolhedores?”.
De maneira geral, arqueólogos comentam que o estudo de Sneed promove um entendimento mais profundo de como a acessibilidade tem sido discutida ao longo da história — o que é sempre bem-vindo, já que essa é uma pauta importante até hoje.
Fonte: Science