Carros autônomos podem piorar a mobilidade urbana?

13 de abril de 2020 5 mins. de leitura

A ideia de veículos sem motorista é interessante, mas especialistas apontam que ela pode trazer não apenas melhorias

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Os carros autônomos podem trazer melhorias significativas para os motoristas: como o carro “dirige sozinho” e não é necessário controlar volante e pedais, o condutor se torna um passageiro e pode aproveitar o tempo de deslocamento para fazer outras coisas, como ler, trabalhar e até dormir.

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Isso, contudo, não significa que as cidades se veriam livres dos grandes congestionamentos — talvez a mudança, inclusive, fosse no sentido contrário.

Os impactos dos carros autônomos nas cidades

Para que funcione perfeitamente, esse tipo de veículo demanda infraestrutura. É necessário que exista um bom sinal de internet para que os sensores e os GPS calculem as rotas e os dispositivos se comuniquem. Além disso, a cidade precisa ter boa sinalização, uma vez que os carros autônomos leem as placas de trânsito para conhecer e seguir as regras locais.

Também é necessário levar em conta que os carros autônomos terão que conviver com os veículos conduzidos por seres humanos. Como motoristas de diferentes lugares do mundo costumam dirigir de formas variadas, é importante pensar de que maneira as inteligências artificiais irão se integrar nos ambientes urbanos e que impactos isso poderá gerar.

Por um lado, pode-se acreditar que as máquinas seriam mais eficientes que os humanos na hora de escolher as melhores rotas, o que por si só já diminuiria os congestionamentos. Elas podem acelerar e frear de forma automática, observando o movimento dos outros veículos e fazendo isso de maneira mais rápida e melhorando o fluxo.

Embora essas linhas de pensamento tenham fundamento, existem outros aspectos que precisam ser levados em conta antes de considerar que o impacto dos carros autônomos nas cidades será necessariamente positivo.

(Fonte: Volvo/Divulgação)

Inteligências artificiais podem causar mais trânsito

Uma pesquisa divulgada recentemente pela Universidade da Califórnia mostrou que o modo como os carros autônomos são programados pode contribuir para que existam mais congestionamentos nas cidades, e não o contrário.

Para começar, esses veículos podem andar sozinhos, mesmo vazios. Considerando o baixo número de vagas em muitas regiões e o preço dos estacionamentos disponíveis, muitas inteligências artificiais podem calcular que é mais barato simplesmente ficar andando em círculos do que parar em algum lugar até que seu dono precise se deslocar novamente — isso, fatalmente, aumentaria o número de carros nas ruas.

Quem já observou um congestionamento em uma metrópole sabe que parte do problema é o grande número de automóveis com apenas uma pessoa dentro. Imagine, então, como ficaria o trânsito de uma cidade como São Paulo (SP) com uma infinidade de carros andando sozinhos, sem ninguém.

A pesquisa também aponta que, para economizar energia, os carros autônomos decidem andar a uma velocidade menor e constante do que realizar grandes acelerações. Dessa maneira, em vez de procurar rotas menos movimentadas, as inteligências artificiais fariam justamente o contrário: procurariam as vias mais congestionadas e andariam mais lentamente, piorando o problema.

(Fonte: Wikimedia)

Outros estudos já chegaram a essa conclusão

A pesquisa da Universidade da Califórnia não foi a primeira a indicar possíveis pioras na mobilidade urbana causadas pelos veículos sem motorista. Uma análise realizada em Boston se baseou nos deslocamentos realizados na cidade para chegar à conclusão de que os carros autônomos podem melhorar o trânsito na periferia, mas piorá-lo na região central.

De acordo com os envolvidos, o compartilhamento de veículos autônomos por aplicativos faria com que mais pessoas dividissem a mesma viagem e diminuiria o número de carros nas ruas. Já nas áreas centrais, o efeito seria o contrário: mais pessoas passariam a utilizar os carros em detrimento de outros meios de transporte.

Um relatório da Universidade de Michigan apontou que o tempo perdido no trânsito é justamente um dos fatores que fazem com que as pessoas evitem deslocamentos de carro quando possível. A possibilidade de aproveitar esse tempo de forma produtiva, por não precisar dirigir, induzir um número maior de viagens de carro.

Ainda na pesquisa realizada na Califórnia, os especialistas apontaram algumas medidas que podem evitar o problema. A primeira seria uma taxa de congestionamento, cobrada de qualquer carro que circulasse por determinadas áreas. Esse tipo de imposto já existe em Londres (Inglaterra) desde 2003, estimulando o uso de outros meios de transporte.

O relatório também recomenda frotas compartilhadas em vez de veículos particulares. De acordo com ele, as medidas precisam ser implementadas desde já; assim, quando os carros autônomos tomarem conta das ruas das grandes cidades, elas já estarão consolidadas.

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