Como projetar ruas para carros autônomos e motoristas

19 de fevereiro de 2020 5 mins. de leitura

A revolução dos veículos autônomos e sua utilização no transporte público evocam questões urgentes sobre como as ruas deverão ser projetadas e compartilhadas

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A chegada dos veículos autônomos traz um leque de possibilidades capazes de alterar tanto a dinâmica dos sistemas de transporte quanto a estrutura das cidades. Tecnologias já incorporadas a modelos de veículos recentes, como o Park Assist, que estaciona o carro sem a interferência do motorista, ou o Lane Keep Assist, a assistência de permanência em faixa, transferem a autonomia das mãos do condutor para o sistema de navegação do automóvel.

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E a própria autonomia total já se tornou realidade: em outubro de 2019, moradores de um subúrbio da cidade de Phoenix, no estado norte-americano do Arizona, receberam emails da Waymo, subsidiária de veículos autônomos da Alphabet, informando a chegada de táxis sem motorista para testes gratuitos na comunidade.

À medida que a autonomia veicular vai atingindo seus níveis mais altos, interferindo na forma de locomoção das pessoas, urbanistas começam a pensar e planejar arquiteturas de reformulação da paisagem urbana.

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Os veículos da Waymo, popularmente chamados de “carros da Google”, por serem empresas do mesmo conglomerado, necessitam de um conjunto minucioso de mapas e de sensores capazes de “enxergar” a paisagem para seguir trajetos, evitar acidentes e fazer correções de rota. Embora tenham alcançado um índice elevado de autonomia e estabilidade que permitiu a dispensa do motorista de segurança, que apenas ficava atrás do volante sem interferir, os sensores ainda demandam aperfeiçoamentos que possibilitem a condução autônoma do carro em condições de mau tempo ou em ruas periféricas.

Esse trabalho de aprimoramento e adaptação dos veículos autônomos tem reflexos em questões relacionadas ao planejamento do tráfego urbano não apenas das cidades piloto mas também das grandes metrópoles, desde o dimensionamento de estacionamentos até políticas de acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. As consequências da interatividade inevitável entre os carros autônomos e aqueles conduzidos por seres humanos acrescentam uma incerteza na infraestrutura urbana, a qual alguns analistas já tentam antever.

(Fonte: Shutterstock)

Urbanismo autônomo

Muitos especialistas em planejamento urbano estão vendo a revolução dos transportes autônomos como uma oportunidade de corrigir ou até mesmo evitar os equívocos de uma infraestrutura “carrocêntrica” implantada desde o surgimento do Ford T, no início do século XX: engarrafamentos, poluição e destinação majoritária do espaço urbano para os automóveis em detrimento dos pedestres.

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As possibilidades do emprego da tecnologia autônoma em transportes urbanos fazem com que engenheiros de tráfego proponham um futuro com um número menor de carros particulares. Funcionários responsáveis pelo transporte público de 81 cidades norte-americanas acreditam que é um bom momento para repensar e reformatar a operacionalização das cidades.

Nesse sentido, a National Association of City Transportation Officials (Nacto) lançou, em 2019, a segunda edição do Blueprint for Autonomous Urbanism ou Projeto para Urbanismo Autônomo, que, “temperando” o otimismo cauteloso que caracterizou a primeira edição de 2017, reconhece a grandeza do esforço político que deve ser empreendido para que um futuro autônomo seja focado nos seres humanos.

Revolução autônoma humanizada

Essa evocação, que abre a segunda edição do relatório da Nacto, é de sua presidente, Janette Sadik-Khan, que trabalhou na transformação das ruas de Nova York durante o mandato do Prefeito Michael Bloomberg e, posteriormente, com administradores de diversas cidades do mundo, como Roma (Itália), Cidade do México (México) e Rio de Janeiro (Brasil).

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Complementando a visão do primeiro relatório, o atual aponta que as inovações tecnológicas necessárias para o funcionamento de uma frota veicular autônoma podem resultar em cidades mais seguras, sustentáveis, igualitárias e vibrantes. Com base na premissa de que “se todos se deslocam em veículos elétricos autônomos e robô-táxis, ninguém precisa ter um carro”, teóricos priorizam um espaço urbano com pessoas caminhando, andando de bicicleta ou lendo nas praças. Além de colocar os cidadãos no centro da vida urbana e reformatar o design das vias públicas, o relatório preconiza a utilização das novas tecnologias para reduzir as emissões de carbono, diminuir os acidentes de trânsito e criar oportunidades para novos investimentos.

(Fonte: Shutterstock)

Uma visão liberal

Alguns pensadores liberais não compactuam com essa visão otimista dos operadores da Nacto e defendem que, sem prejuízo das iniciativas centradas em pessoas, as autoridades deveriam permitir que os projetistas de veículos autônomos trabalhassem dentro de suas limitações.

Para Brent Skorup, do Mercatus Center da George Mason University, nos Estados Unidos, a execução da infraestrutura necessária à implantação da autonomia veicular deveria ser delegada às empresas beneficiárias do serviço, com seus próprios recursos. Isso evitaria que os entraves políticos levassem à instalação de tecnologias ultrapassadas e permitiria a internalização dos custos com transporte entre empresas de veículos autônomos e consumidores, os quais seriam, de uma forma ou de outra, repassados ao público em geral.

Fontes: Washington Post, Wired, The Verge, National Association of City Transportation Officials.

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