Como combater a crise que o transporte público vivencia? Em meio ao colapso do sistema nos últimos anos, potencializado com a queda da demanda desde o início da pandemia, o aumento da tarifa se mostra como uma consequência imediata.
Mas por não constituir uma solução efetiva capaz de reverter esse cenário, além de onerar a população, ela evidencia a necessidade de adotar outros caminhos. No painel Financiamento do transporte em tempos de crise, mediado por Luciana Garbin, que é editora-executiva do Estadão, tivemos o encontro de especialistas para debater propostas para o setor.
São eles: Beto Pereira, deputado federal por Mato Grosso do Sul; Lúcio Gregori, engenheiro e ex-secretário municipal de transportes no governo de Luiza Erundina; Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Tiago Terra, Superintendente de Administração dos Contratos de Concessão da CCR Mobilidade.
Confira, agora, um resumo de tudo o que foi abordado sobre a temática no Summit Mobilidade 2023:
Refletindo sobre o cenário dos transportes
Tiago Terra defende que a mobilidade urbana pode ser tanto a grande propulsora quanto o entrave ao desenvolvimento. Ainda segundo ele, é fundamental entender o diagnóstico do sistema sem deixar de ter o olhar voltado para o cenário atual.
Ao destacar a necessidade que os avanços ocorram de forma coordenada, Beto Pereira pensa que a existência de um plano nacional que incentive a modernização das frotas é fundamental nesse sentido. Além disso, é crucial obter novas fontes de financiamento para o transporte público.
Segundo levantamento realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o prejuízo acumulado no setor seria de R$ 36 bilhões. Além disso, pelo menos 90 mil empregos teriam sido cortados desde o início da pandemia.
Ao refletir sobre as causas que levaram a esse cenário, Lúcio Gregori lembra que, dentre as distâncias percorridas, 57% delas são realizadas por meio do transporte público, enquanto 31% ocorrem por meio de automóveis. Ainda assim, dos gastos públicos com mobilidade, 77% deles são direcionados aos veículos de uso individual.
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Buscando alternativas para financiar o transporte coletivo
Lúcio também argumenta: considerando que diferentes serviços públicos são financiados por meio do pagamento de taxas, como a de lixo e iluminação das ruas, levar esse mesmo mecanismo para o transporte público seria um caminho para remodelar o sistema.
Carlos Henrique ainda lembra que, no modelo atual, são os usuários que custeiam o transporte público. Por outro lado, aqueles que utilizam automóveis não contribuem com o financiamento do sistema coletivo. Esse é um dos grandes problemas presentes, visto que eles ocupam as vias e reduzem as áreas destinadas à circulação de veículos.
Mudar isso por meio de um sistema de compensação, seria, portanto, uma maneira de obter nova fonte de custeio para a operação dos transportes. Na rodada de perguntas, ao considerar a possibilidade de adotar a tarifa zero como solução, Tiago acredita que a visão de longo prazo deve ser priorizada. Assim, a questão envolvendo o financiamento do sistema deve ser sanada antes de avançar nesse debate.
Para Beto Pereira, a perda de eficiência do transporte é um dos motivos que contribuiu para a redução na demanda de usuários. Pensando nisso, ele entende que é preciso investir em meios que tragam eficiência ao sistema, além de financiá-lo.
Fonte: NTU