Pesquisa mostra a importância das linhas diretas no transporte público para o deslocamento de diaristas na América Latina
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As diaristas representam um quarto de todos os empregados assalariados na América Latina, de acordo com a Organização Internacional de Trabalho (ILO). São 17 milhões de pessoas que precisam se deslocar, diariamente, para seus locais de trabalho, em geral, residências em bairros nobres.
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Apesar de esse contingente, falta planejamento para proporcionar um transporte público mais eficiente a essas trabalhadoras. O padrão de mobilidade urbana foi pensado no deslocamento de homens, conectando os trabalhadores da periferia com os centros comerciais, segundo um estudo elaborado por Valentina Montoya-Robledo, doutora em Ciência Jurídica pela Harvard Law School.
Um grande problema é que faltam linhas diretas entre a periferia e os bairros nobres que atendam a necessidade diária das diaristas. Isso acaba gerando deslocamentos longos, aumentando a desigualdade da mobilidade urbana, atingindo essas funcionárias tanto por seu gênero quanto pela sua condição social.
O estudo realizado por Montoya-Robledo buscou entender as dificuldades enfrentadas pelas diaristas no que diz respeito ao deslocamento. Para tanto, a pesquisadora realizou, durante quatro anos, mais de 180 entrevistas com elas, autoridades, especialistas e empregadores de Medellin e Bogotá.
Também analisou dados de 2019 do aplicativo HogarU, que conecta esse tipo de profissional e contratantes, para descobrir o tempo médio de deslocamento. Existem cerca de 150 mil diaristas na capital colombiana, e aproximadamente 54 mil em Medellin.
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Segundo o aplicativo, em Bogotá, essas funcionárias gastam em média 86 minutos para se deslocar diariamente de casa para o trabalho; já em Medellin, 68 minutos.
Esse tempo representa 42% a mais do que a média entre trabalhadores e de outras trabalhadoras em geral. Isso acontece, principalmente, pela falta de conexão das áreas residenciais de alta renda com as redes de transporte coletivo.
Planejadores e urbanistas devem reconsiderar a cidade como um organismo dinâmico e vivo, onde todas as partes são conectadas por meio de sistemas de transporte coletivo, segundo Montoya-Robledo.
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Linhas conectando diretamente bairros populares entre si e a outros mais nobres podem reduzir os tempos de deslocamento e melhorar a qualidade de vida das diaristas, dando a elas mais tempo para descansar, estudar, cuidar dos filhos e se envolver com sua comunidade ou cidade de forma mais ampla.
Melhores conexões de transporte também beneficiam a cidade. “Se queremos que a mobilidade esteja disponível para todos e reduza os congestionamentos e a poluição, os bairros de alta renda não podem permanecer excludentes e desconectados”, defendeu a pesquisadora.
Um exemplo positivo de mobilidade urbana, apontado pela pesquisadora, que ajuda no cotidiano das trabalhadoras domésticas na América Latina é a construção da linha-5 Lilás do Metrô de São Paulo. Esta conecta os bairros populares do Capão Redondo e Campo Limpo, que têm cerca de meio milhão de moradores, com a rede metroviária da cidade.
A construção começou em 1998 como parte do Plano Integrado de Mobilidade Urbana da cidade, e o serviço metroviário começou a operar em 2002, com cinco estações, permitindo a chegada ao centro da cidade e aos bairros de alta renda com menos baldeações. Antes, os locais atendidos pela linha Lilás se conectavam por meio de uma linha ferroviária suburbana com o sistema do metrô.
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Em entrevistas com diaristas, a pesquisadora Montoya-Robledo constatou uma economia significativa de tempo. Antes, era necessário se deslocar dos bairros populares até a zona central da cidade para, então, conseguir chegar aos bairros nobres onde elas trabalham.
Fonte: The City Fix, Internacional Labour Office, Metrô CPTM.
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