Embora o termo seja bastante utilizado desde o início da epidemia de covid-19, é interessante entender melhor o que significa lockdown
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O uso da palavra inglesa lockdown (confinamento, em português) tem sido cada vez mais frequente em noticiários e discursos de autoridades. Mas em que ela consiste?
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E qual é a diferença entre lockdown e outras medidas de isolamento? Esse tipo de questionamento se tornou mais frequente depois da publicação de um relatório da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 12 de maio, dizendo que “o lockdown será inevitável em São Paulo se o isolamento social não aumentar”.
Como a própria tradução da palavra sugere, lockdown é uma medida mais drástica e restritiva do que a que se vê em boa parte do Brasil até agora, em que ficar em casa é uma recomendação, mas não uma obrigação. A ação compreende restrições generalizadas à circulação de pessoas, permitindo saídas apenas por motivos muito específicos e aplicando sanções (como multas ou prisão) para quem descumprir as regras.
Como ficar em casa deixa de ser uma recomendação para se tornar uma obrigação de todos os cidadãos, o lockdown acarreta mudanças mais perceptíveis nas dinâmicas de mobilidade do que outras medidas de distanciamento. Em primeiro lugar, os carros praticamente deixam de estar nas ruas, salvo os veículos de serviço público.
Qualquer outro motorista (assim como pedestres, ciclistas ou usuários de transporte público) pode ser abordado por autoridades para explicar o motivo de sua saída. As regras podem variar, mas a maioria das ações permite apenas deslocamentos por motivos de saúde e compras em mercado ou farmácia durante o lockdown. Em algumas regiões, é possível sair para fazer exercícios ou passear com animais, enquanto outras organizam essa permissão com rodízios para evitar aglomerações.
O que muda no cenário das cidades após a pandemia?
Naturalmente, isso também implica um uso quase nulo dos sistemas de transporte público. Em Madri, por exemplo, o lockdown foi implantado em meados de março, e como resultado foi registrada queda de 90% no número de passageiros, afinal apenas trabalhadores de serviços essenciais utilizavam o transporte. Além disso, para diminuir a possibilidade de contágio, o metrô de Madri fechou mais de 180 acessos a estações.
Os impactos do coronavírus na mobilidade urbana
Outro exemplo vem da Lombardia, no norte da Itália, uma das regiões mais afetadas pelo novo coronavírus em toda a Europa. Depois que o lockdown foi iniciado e as pessoas poderiam receber multas se saíssem de casa sem motivo, os índices de mobilidade nas ruas diminuíram 75%. Para efeito de comparação, os deslocamentos em São Paulo diminuíram apenas 21% com as recomendações de isolamento em vigor.
As recomendações de distanciamento já adotadas foram importantes para que o contágio diminuísse, mas a questão levantada por especialistas é que elas são insuficientes para conter a disseminação do novo coronavírus. Segundo um estudo divulgado em 9 de maio pela Imperial College de Londres, a taxa de reprodução da covid-19 em São Paulo está em 1,46.
Isso quer dizer que a cada 100 pessoas com o novo coronavírus, outras 146 são infectadas. Para que o número de novos casos comece a diminuir e a epidemia seja controlada em um local, a taxa de reprodução precisa estar abaixo de 1. Na Lombardia, com o lockdown e a diminuição na mobilidade, esse índice caiu para 0,58.
4 relações entre doenças e transformações urbanas
Uma linha de pensamento semelhante foi adotada pelos pesquisadores da Unicamp para afirmar que o lockdown será inevitável em São Paulo se o isolamento voluntário não aumentar. Pelos cálculos dos especialistas, a taxa de contágio na capital paulista está em 1,44, próximo de 1,46 estimado pelos pesquisadores da Imperial College. Isso seria suficiente para gerar uma busca ainda maior pelos serviços de saúde da cidade e causar o colapso do sistema até o fim de maio, segundo o estudo.
Como a pandemia afeta o desenvolvimento de carros elétricos?
Até 13 de maio, o lockdown havia sido adotado na Ilha de São Luís (MA), em Belém (PA), Fortaleza (CE) e Niterói (RJ), além de alguns bairros da capital do Rio de Janeiro. São Paulo, que é considerada epicentro da covid-19 no Brasil e utilizada nos cálculos da Unicamp, por enquanto não anunciou medidas mais restritas de confinamento, já que cada estado e município tem poder para determinar as próprias regras.
Fonte: Agência Brasil, Estadão, Imperial College London, Unicamp.