Conheça o túnel de La Línea, o maior das Américas

21 de outubro de 2020 5 mins. de leitura

Inaugurada em setembro deste ano, construção tem 8,6 quilômetros de extensão e corta a cordilheira que divide a Colômbia há séculos

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Obras de mobilidade têm o potencial de transformar comunidades, mas algumas têm tanta importância que podem impactar um país inteiro. É o caso do Túnel de La Línea, o maior das das Américas, inaugurado no início de setembro na Colômbia. “É a obra de infraestrutura mais importante já feita na história de nosso país”, disse o presidente Ivan Duque à imprensa, no momento da inauguração.

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Com 8,6 quilômetros de extensão e saídas a mais de 2,4 mil metros do nível do mar, o Túnel de La Línea fica entre as cidades de Calarcá e Cajamarca, no centro do país. Seu principal objetivo é facilitar o transporte de cargas entre a capital, Bogotá (na altitude) e o porto de Buenaventura, no oceano Pacífico. 

Durante séculos, esse trajeto de Bogotá a Buenaventura era feito por uma estrada sinuosa e movimentada. O trecho, que ficou conhecido como “Alto de La Línea” precisava subir e descer as montanhas da Cordillera Central, cadeia que divide a Colômbia, a mais de 3 mil metros de altitude. O diagrama abaixo, publicado pelo jornal colombiano Vanguardia, ajuda a entender a obra:

Túnel de La Línea corta montanha com mais de 3 mil metros de altitude. (Fonte: Vanguardia/Reprodução)
Túnel de La Línea corta montanha com mais de 3 mil metros de altitude. (Fonte: Vanguardia/Reprodução)

Muitos acidentes aconteciam na antiga estrada. Além disso, a velha infraestrutura dificultava o comércio exterior da Colômbia — com um gargalo no escoamento de cargas pelo seu principal porto no Pacífico — e causava um distanciamento sociocultural entre as diferentes regiões do país, já que Cali (a segunda maior cidade colombiana) também fica próxima do outro lado da Cordillera Central.

Uma obra que demorou mais de 100 anos

Como conta o jornal colombiano El Tiempo, os primeiros esboços de um túnel pelo meio da montanha surgiram no início do século XX. Porém, não havia tecnologia para realizar uma obra de tamanha complexidade na época. Apenas nos anos 2000 a construção foi iniciada, com a abertura dos primeiros túneis piloto. 

Nessa época, descobriu-se que a obra seria ainda mais difícil do que o imaginado, por conta das falhas geológicas da Cordillera Central. Além disso, a empresa contratada pelo governo se viu às voltas com estouros de orçamento e escândalos de corrupção, que paralisaram a construção diversas vezes. 

Foi apenas na gestão de Ivan Duque, a partir de 2018, que o Túnel de La Línea voltou a ser aberto definitivamente, com a contratação de uma nova empreiteira. Ao todo, estima-se que a obra tenha custado 2,9 trilhões de pesos colombianos, muito mais do que o previsto anteriormente. 

Túnel vai diminuir tempo de viagem entre os dois lados da Cordillera Central, que divide a Colômbia. (Fonte: El Tiempo/Reprodução)
Túnel vai diminuir tempo de viagem entre os dois lados da Cordillera Central, que divide a Colômbia. (Fonte: El Tiempo/Reprodução)

Um túnel para conectar a Colômbia

Desde o momento em que os trabalhadores das obras dos dois lados do túnel conseguiram se encontrar no meio do trajeto — sinalizando que a construção monumental finalmente estava sendo encerrada —, a novidade foi recebida com festa em todo o país. 

Na prática, os motoristas não precisarão mais encarar os 21 quilômetros de estradas sinuosas do Alto de La Línea e poderão reduzir o tempo de viagem entre o porto de Buenaventura e Bogotá em cerca de uma hora (ao todo, são necessárias de 10 a 12 horas para cobrir os mais de 500 quilômetros entre as duas cidades). 

Para as regiões próximas à saída do túnel, ter uma conexão mais rápida com a capital é uma grande oportunidade para atrair muito mais visitantes e se posicionar como um centro logístico para o país. “Sem dúvida, muitas pessoas vão se animar a viajar para estas terras só para cruzar o túnel”, disse ao El Tiempo o porta-voz do Parque Nacional do Café, que fica a cerca de uma hora de Calarca, a oeste da Cordillera Central. 

Dessa forma, o túnel pode diminuir os acidentes no trajeto em 75% e representar um incremento de US$ 77 milhões ao ano na economia do país, em comércio e turismo, segundo estimativas divulgadas pela BBC News. De acordo com a INVÍAS (sigla para Instituto Nacional de Vías, agência governamental que administra as estradas colombianas), mais de 3,6 mil veículos cruzaram o Túnel de La Línea só nas primeiras 21 horas de funcionamento — um incremento de 40% sobre a média dos últimos meses. 

Fonte: El Tiempo, BBC News, El País

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