Explorar o potencial que pode ser utilizado para a implantação de hidrovias é um passo importante para reduzir a dependência em relação a outros modais. Entretanto, nem todos os países dispõem de uma grande extensão de rios para avançar nesse sentido.
No Brasil, apesar da presença de rios em 12 regiões hidrográficas, que totalizam 63 km de áreas navegáveis, aproveita-se apenas um terço delas, conforme destaca um relatório publicado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).
Mas afinal, por que um melhor aproveitamento não ocorre? Entenda a seguir os possíveis motivos para a falta de investimento nas hidrovias brasileiras.
Baixa adesão a hidrovias é realidade no País
Segundo o estudo citado acima, enquanto na Região Norte do País pode ser observado um maior uso das hidrovias para o transporte de milho e soja, nas hidrovias do Sudeste uma menor parte de sua extensão é aproveitada nesse sentido. Apesar disso, esta é a única região que possui integração entre os três modais (hidroviário, ferroviário e rodoviário) para o transporte de grãos.
De modo geral, pode-se dizer que a baixa adesão do transporte hidroviário reflete tanto a falta de equilíbrio da matriz de transportes, quanto a ausência de investimentos contínuos na multimodalidade. Isso significa dizer ainda que o seu avanço depende de forma direta da boa gestão dos portos e áreas de conexão.
Vale destacar que, em meio às discussões envolvendo a redução de custos econômicos e socioambientais, as hidrovias apresentam um papel chave, dado o menor custo envolvido na sua implementação e operação, quando comparado ao da rodovia. Porém, há outros benefícios que merecem ser lembrados.
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Principais vantagens envolvendo o uso de hidrovias
Dentre as vantagens envolvidas na sua adoção, destaca-se o menor custo logístico e a maior capacidade de transportar cargas, o que evita atrasos no envio de mercadorias. Ao considerar o uso das áreas navegáveis para o transporte de pessoas, por outro lado, a possibilidade de reduzir o congestionamento se apresenta como um benefício substancial.
Ao observar exemplos ao redor do mundo, é possível compreender melhor como uma série de dinâmicas presentes nas cidades podem ser transformadas com o uso das águas para o transporte.
Utrecht, na Holanda, é uma das localidades que investiu nesse modelo, de modo que empresas de entregas de mercadorias utilizam barcos para a realização dos serviços. Inclusive, ao considerar o aspecto ambiental, vale destacar que por lá, a partir de 2010, os barcos movidos a combustível foram substituídos por barcos elétricos, reduzindo a emissão de gases poluentes no ar.
Na capital, Amsterdã, não é diferente. A DHL, empresa de grande porte do segmento logístico, instalou um centro de distribuição flutuante, a fim de tornar o serviço de entrega mais ágil. Com isso, os canais da cidade são aproveitados para que seja realizada a integração da mercadoria e as entregas possam ser concluídas por meio de bicicletas ou veículos.
Em busca de avanços
No Brasil, apesar de ainda haver muito que se discutir sobre esse tema, pode-se dizer que já é possível notar alguns avanços nesse sentido, visto que nos últimos meses a implantação de uma hidrovia que interligue o Brasil ao Uruguai tem ganhado destaque.
Ao longo do início deste ano, projetos para a futura Hidrovia da Lagoa Mirim foram entregues ao governo. É considerada grande a importância de interligar o Sudeste gaúcho ao Sudeste uruguaio, principalmente ao considerar que o comércio bilateral entre os países responde por cerca de US$ 3 bilhões anualmente.
Dado seguimento ao projeto, será possível realizar o embarque de mercadorias utilizando uma conexão entre a Lagoa Mirim e a dos Patos por meio do canal de São Gonçalo, o que tende a gerar um importante fluxo de investimentos destinados ao sul do Brasil.
Fonte: ANTAQ, Unesp, Eurosender, Governo Federal, Reuters, ANTAQ