Berlim, capital do “país dos automóveis”, viu as bicicletas ganharem as ruas durante a crise provocada pela pandemia de coronavírus
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Berço de empresas como VolksWagen, Mercedes-Benz, Porsche, Audio e BMW, a Alemanha é considerada o país dos automóveis. Por isso, qualquer decisão para a restrição de carros é vista como muita resistência. A infraestrutura de sua capital, Berlim, é voltada para os automóveis, mesmo que 40% de seus moradores não possuam veículos.
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Há poucas áreas de circulação para bicicletas na infraestrutura da mobilidade berlinense. As vias são, geralmente, estreitas e totalmente dedicadas aos carros. Algumas são de mão dupla e oferecem até uma faixa para estacionamento, mas não há espaços dedicados para ciclovias. Embora houvesse planos para melhoria cicloviária que nunca foram concretizados (até a chegada da pandemia de coronavírus).
A crise provocada pela covid-19 afetou drasticamente todos os aspectos da vida urbana no mundo. Em Berlim, com uma queda de 60% da circulação de carros nas ruas, segundo levantamento da Apple, e de 40% do transporte público, de acordo com o Google, as bicicletas ganharam as cidades.
Pedalar se tornou o meio mais seguro de se locomover durante a pandemia. Dessa forma, as bicicletas aceleraram, pelo menos temporariamente, uma transformação completa na mobilidade de Berlim.
Novas ciclovias foram criadas, e as antigas ampliadas para manter uma distância recomendada de pelo menos 1,5 metro entre os ciclistas. A nova infraestrutura cicloviária ainda é provisória.
Compostas de sinalizadores de aviso em vermelho e branco, sinais temporários e barreiras de alumínio amarelo, a infraestrutura pode ser facilmente removida, assim que a crise passar por completo.
E se os veículos particulares financiassem o transporte público?
No entanto, boa parte dos moradores da cidade parece acreditar que a bike veio para ficar. Uma pesquisa realizada na capital alemã aponta que as ciclovias pop-up (termo usado para se referir a ciclovias temporárias) são amplamente aceitas por 94% dos ciclistas, 79% dos usuários de transporte público e 75% dos pedestres. Apenas os motoristas não estão entusiasmados com a estratégia – só 11% são a favor das ciclovias.
Segundo a prefeitura da cidade, os ônibus e trens em Berlim voltaram a funcionar em uma “quase” normalidade. O uso da máscara, ou uma cobertura para a boca e o nariz, é obrigatório no transporte público. Além disso, as autoridades recomendam manter uma distância suficiente entre os passageiros.
Por que o transporte público de Curitiba é copiado no mundo?
Os motoristas de ônibus coletivos estão protegidos e não podem mais vender passagens. Todas as portas de ônibus devem abrir automaticamente em cada parada. A programação de limpeza de veículos também foi intensificada. Regras de higiene especiais estão sendo aplicadas nos veículos, centros de operações e escritórios.
O serviço de trem regional também está em operação, mas com limitações. Antes de se deslocar pelo sistema ferroviário, os passageiros devem verificar a disponibilidade do transporte público, conforme alertam as autoridades berlinenses.
A transformação no perfil da mobilidade de Berlim provocou uma mudança significativa na qualidade de vida da cidade. Menos carros circulando nas ruas e a queda abrupta do tráfego aéreo significaram uma importante redução nas emissões ligadas ao aquecimento global. Porém, a diminuição da poluição atmosférica pode ser observada também em um nível local.
Em Berlim, nas últimas semanas, a qualidade do ar registrada em estações de medição foi avaliada como muito boa. Desde abril, a cidade registra a presença de micropartículas e gases (ozônio, nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono) abaixo do nível considerado prejudicial para a saúde humana.
Outro tipo de poluição que foi reduzida por ter menos deslocamentos de carros nas ruas é a sonora. Houve uma redução estimada em 1,5 decibel (dB) no geral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição constante a ruídos que ultrapassam 55 decibéis é prejudicial à saúde, causando estresse, insônia, depressão e doenças cardiovasculares. Em muitos locais de Berlim, esse nível era constantemente ultrapassado.
Fonte: Deustche Welle, Story Maps, Apple, IASS/Postdam, Prefeitura de Berlim, Aqicn.
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