Por que Luxemburgo é o primeiro país a ter transporte gratuito?

7 de maio de 2020 4 mins. de leitura

Grão-ducado quer reduzir congestionamentos, melhorar as condições ambientais e, sobretudo, ampliar o acesso ao transporte a famílias de baixa renda

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Uma pesquisa da Eurostat, o gabinete de estatísticas da União Europeia, mostrou que Luxemburgo tem 6,2 carros para cada dez habitantes. O índice, que é o maior da UE, é bem próximo do maior do mundo — o dos Estados Unidos, país que possui oito veículos para cada dez pessoas.

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No entanto, uma medida estatal do grão-ducado, que está entre as nações mais dependentes do transporte individual, pretende reverter esse panorama. Desde o fim de fevereiro, Luxemburgo é, oficialmente, o primeiro país do mundo a oferecer transporte público gratuito não apenas a todos os seus cidadãos, mas também a turistas. A proposta já havia sido anunciada no ano passado pelo primeiro-ministro Xavier Bettel.

O ministro dos transportes, François Bausch, celebrou a medida oficializada no dia 29 de fevereiro deste ano. Desde então, já não é preciso mais adquirir quaisquer passagens para embarcar em ônibus, trens ou bondes nacionais, de acordo com o consórcio de transporte público de Luxemburgo.

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Calcula-se que a medida deve acarretar em uma economia mensal de aproximadamente 100 euros por família no país, e boa parte desse suporte será financiado por impostos que integram o orçamento nacional.

Medida social

(Fonte: Shutterstock)

A gratuidade tem facilitado bastante a vida dos mais de 600 mil habitantes do grão-ducado. Um dos objetivos era exatamente ampliar o acesso à cidade para famílias de baixa renda. “É uma medida principalmente social. O objetivo é acabar com o aumento do vão entre ricos e pobres. Para as pessoas de baixa renda, as despesas dos transportes são importantes. É, portanto, mais fácil torná-los grátis para todos”, disse François Bausch, em entrevista ao canal britânico BBC.

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Isso não quer dizer que a proposta não tenha também seus impactos ambientais, embora o movimento ecológico de Luxemburgo defenda que mais do que um transporte público gratuito, é importante que seja de qualidade.

Assim, mais pessoas optarão por ele e menos gases poluentes serão lançados na atmosfera. “A qualidade da oferta — e não a mera gratuidade — é o ponto-chave para tornar o transporte público mais atrativo. Nos horários de pico, a capacidade se esgota”, diz o presidente da Associação Ambiental, Blanche Weber.

Estrangeiros também são beneficiados

(Fonte: Grisha Bruev / Shutterstock.com)

Indivíduos que moram em países vizinhos e trabalham diariamente em Luxemburgo (onde os salários são cerca de 40% mais altos do que a média europeia) estão entre os mais beneficiados pela novidade.

Calcula-se que milhares de estrangeiros atravessam a fronteira todos os dias para trabalhar, sobretudo, provenientes da França, Bélgica e Alemanha. Conforme ponderou o pesquisador do Instituto de Pesquisa Socioeconômica de Luxemburgo, essa relação é similar a uma grande cidade que tem subúrbios ao redor.

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Só a capital luxemburguesa, por exemplo, que tem 110 mil habitantes, recebe aproximadamente 400 mil trabalhadores provenientes de outras cidades e também de outros países. Em torno de 175 mil são estrangeiros.

É por isso que uma estrutura de transporte coletivo eficaz e viável se faz fundamental em meio a esse cenário. Até mesmo para desafogar o trânsito e evitar os congestionamentos.

Segundo dados do Índice de Tráfego Global da empresa de análise de dados INRIX, quem dirigiu na capital luxemburguesa no ano de 2018, por exemplo, passou, em média, 28 horas preso no trânsito. O número coloca a cidade de Luxemburgo como a 15ª em que se passa mais tempo dentro do carro em horários de pico.

Histórico

Embora a gratuidade possa ser considerada a “cereja do bolo” no que tange à ampliação do acesso ao transporte público, essa não foi a primeira iniciativa nesse sentido. As viagens de ônibus, trens e bondes já eram gratuitas aos sábados, assim como jovens e idosos inclusos em determinada faixa etária estabelecida pelo Estado eram isentos das passagens.

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Em entrevista à BBC, François Bausch ressaltou também que os custos de implementação da rede gratuita seriam “mínimos”. Isso porque a receita anual dos bilhetes cobria menos de 10% (41 milhões de euros) dos custos operacionais do sistema de transportes, que era de cerca de 491 milhões de euros.

Fonte: Archdaily, Inrix, BBC, Público, Eurostat.

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