Grandes cidades precisam lidar com o calor gerado por suas atividades e a forma como são construídas
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Em 2021, a Cidade do Kuwait foi apontada como o lugar mais quente do planeta, com temperatura de 53,5°C. Outras metrópoles ao redor do mundo estão passando pelo mesmo problema: em Doha (Qatar) é comum ver termômetros marcando 48°C, assim como em Karachi (Paquistão), nos Estados Unidos e até no Canadá, onde uma onda de calor extremo causou mortes e incêndios, em junho.
Esse fenômeno está ligado ao aquecimento global. E especialmente nas grandes cidades, ele pode ser relacionado a suas atividades e a forma como são construídas.
As últimas ondas de calor na maior cidade do Paquistão, com temperaturas de até 44,5°C, mataram mais de 1,2 mil pessoas, segundo dados divulgados pela rede britânica BBC. Karachi tem cerca de 16 milhões de habitantes.
Para sobreviver nesse clima extremo, as pessoas estão usando cada vez mais ar-condicionado. Porém, esses aparelhos consomem energia elétrica que vem de combustíveis fósseis — o que emite carbono e alimenta o efeito estufa, gerando ainda mais calor.
De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, 10% da eletricidade no mundo vai para o ar-condicionado, mas essa parcela deve triplicar até 2050. Trata-se de um círculo vicioso para o planeta.
Um jeito bastante eficiente de diminuir as temperaturas em grandes cidades é plantando mais árvores. Segundo a Organização das Nações Unidas, o ideal é ter ao menos 18 metros quadrados de área verde por habitante. No caso de Karachi, estima-se que apenas 1% da cidade esteja coberta de verde, quando o ideal seria em torno de 25%.
Buscando mudar essa realidade, o empresário Shahzad Qureshi criou a organização Urban Forests, que constrói áreas verdes em toda Karachi. A primeira delas foi realizada com um projeto de financiamento coletivo, mas recentemente a organização de Qureshi recebeu apoio das autoridades paquistanesas. A ideia é plantar 70 mil árvores em dezenas de áreas nos próximos cinco anos.
A diferença que as áreas verdes podem fazer na temperatura pode ser observada na prática em Phoenix, Arizona, uma das cidades mais quentes dos Estados Unidos. Nos últimos anos, temperaturas acima dos 44°C se tornaram comuns por lá — porém, analisando um mapa de calor e outro de pobreza, é possível observar que as áreas mais quentes são também as mais vulneráveis socialmente.
Isso acontece porque algumas empresas e órgãos governamentais até oferecem mudas de plantas aos moradores, porém o custo de manutenção (como água) deve ser pago pelo domicílio.
Os moradores em áreas ricas têm condições de manter ruas mais arborizadas, mas os mais pobres não. Em Central City South, um dos bairros menos favorecidos de Phoenix, há poucas árvores, mas muito asfalto e pavimentos nas calçadas. Isso somado às indústrias e ao fluxo de carros, torna Central City South ainda mais quente que a média de Phoenix.
O pavimento e a alvenaria (especialmente em cores escuras) absorvem o calor e jogam-no de novo na atmosfera, aumentando a temperatura nas cidades. Plantas, por sua vez, absorvem o calor em seu processo de evapotranspiração, além de prevenir que o calor do sol chegue ao asfalto e seja absorvido. Segundo uma pesquisa da Universidade do Arizona, cobrir 25% de uma área pavimentada com árvores pode diminuir 4,4°C na temperatura.
Se pensarmos que o mundo se reúne para impedir um aumento de 1,5°C na temperatura até o fim do século, essa estimativa da Universidade do Arizona mostra um ótimo caminho para lidar com o calor extremo nas grandes cidades — e com o aquecimento global.
Fonte: Vox.