A busca por soluções para lidar com congestionamentos tem sido presente nos grandes centros urbanos, levantando a discussão de alternativas, como o rodízio de veículos e a adoção da taxa de congestionamento. Essa última solução, que tem sido considerada em São Paulo, colocou a ilha de Manhattan, em Nova York (EUA), na mira.
A proposta implica o pagamento de faixas de valor que variam conforme o horário. Com previsão de vigorar a partir de 2023, busca ir além da redução dos congestionamentos nas vias mais procuradas, mitigando também as emissões de poluentes.
A estimativa é que ela reduza de 15% a 20% o fluxo de veículos na região central. Outros locais já adotaram esse modelo, apresentando resultados que reforçam o impacto, como Singapura, Estocolmo e Londres. Na cidade inglesa, a adoção do sistema contribuiu com o maior uso de bicicletas e do transporte coletivo.
Horas perdidas nos deslocamentos
Segundo um levantamento realizado pela INRIX, empresa de dados na área de mobilidade com sede nos Estados Unidos, nas cidades que apresentam maior tráfego, as pessoas perdem mais de cem horas em congestionamentos ao longo do ano.
Londres liderou o ranking mundial de 2022, com 156 horas, em média. São Paulo não figura entre as maiores, mas aparece na sexta posição na América do Sul, com 56 horas perdidas.
A situação é reflexo do grande fluxo de veículos destinados ao transporte individual, que aumenta ano a ano, enquanto não há ampliação das áreas na mesma proporção, já que não há espaço para os 8,3 milhões de veículos presentes na metrópole paulistana.
No entanto, é precipitado considerar que as obras que ampliam as faixas podem mudar esse cenário, uma vez que aumentam também o espaço que pode ser ocupado por mais veículos, perpetuando os congestionamentos.
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Impactos das medidas na mobilidade urbana
Se por um lado a ampliação das vias acaba servindo como estímulo ao uso de automóveis, sem necessariamente estar associada à redução dos congestionamentos, por outro medidas que visam restringir o tráfego acabam se mostrando mais bem-sucedidas para reduzir o fluxo intenso.
Essas iniciativas, de forma geral, modificam o trajeto adotado por condutores, levando as pessoas para áreas mais próximas da própria residência ou fazendo que sejam adotados desvios que podem tornar as viagens ainda mais longas. Com isso, sozinhas, elas não são capazes de promover um impacto positivo na mobilidade urbana.
Adoção de estratégias combinadas é o caminho
A ampliação da capacidade do transporte público também tem sido associada à redução dos congestionamentos, desempenhando um papel estratégico na mudança de cenário. Na cidade de São Paulo, em particular, os corredores de ônibus contribuíram para reduzir o tempo gasto no deslocamento de passageiros em até 40 minutos por dia, segundo um levantamento realizado em 2014 pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Investir nas medidas para reduzir o fluxo de veículos é importante, e a taxa de congestionamento pode ser uma alternativa para tornar ainda mais intenso o controle de veículos que já é realizado na capital paulista. Mas a adoção deve vir acompanhada de outras ações que atraiam mais usuários para o transporte público.
Considerando que muitos passageiros se mostram receptivos ao uso de outros meios de transporte, como ônibus, trem e metrô, quando os benefícios se mostram substanciais, indo além da redução de gastos, é possível reverter, com planejamento, o cenário apresentado nas últimas décadas, o qual gerou a ampliação da frota de automóveis destinados ao transporte individual.
Fonte: Inrix, Unifesp, Estadão