Cargo bikes já fazem parte do cenário na Europa; será que a moda pode pegar no Brasil?
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Bicicletas de carga (conhecidas como cargo bike, box bike ou carrier cycle) são uma evolução das bikes com modificações para permitir a otimização do transporte de carga. Existem os mais variados modelos, das mais diversas marcas, todos buscando a melhor forma de distribuir o peso extra.
O uso de bikes de transporte é tão disseminado que na Holanda, por exemplo, é comum ver bicicletas adaptadas para o transporte de crianças para o jardim de infância.
Enquanto algumas cargo bikes parecem uma evolução da bicicleta com o tradicional cestinho na frente, outras mais parecem um minicaminhão. Mesmo com as variedades, todas têm vantagens em comum que as fizeram ganhar o coração dos europeus. Como grande parte das cidades do Velho Continente tem ótima estrutura para ciclismo, as bicicletas de carga são uma opção viável para a entrega de produtos de forma barata e rápida.
Existe uma grande preocupação do setor de logística em como aprimorar a “última milha” nas entregas. Esse termo é utilizado para descrever a distância entre o último centro de estocagem de produtos e o consumidor final. Normalmente, esse trajeto é realizado por caminhões ou vans, o que costuma encarecer o processo, já que manobrar, estacionar e enfrentar o trânsito das grandes cidades é uma tarefa cada vez mais árdua. A situação se complicou com a pandemia de covid-19 e a popularização massiva das compras online, quando, em pouco tempo, o volume de entregas de produtos se multiplicou.
Para as cidades acostumadas a conviver com as bikes, a solução dos modelos de carga não foi tão inovadora, afinal ela nada mais é do que a evolução dos veículos que entregavam cartas ou leite em outros tempos. Somadas ao esforço de muitas localidades em reduzir as emissões de carbono e não incentivar o uso de carros, as cargo bikes surgem como uma resposta natural.
O Reino Unido tem menos tradição no uso de bicicletas do que o restante da Europa, então, para incentivar a mudança, a organização Green Alliance realizou o estudo Sharing the load: the potential of e-cargo bikes. O artigo analisa o impacto da substituição do transporte em vans por cargo bikes elétricas. Lá, as vans são a principal forma de entrega de mercadorias, havendo mais de 4,6 milhões de unidades em atividade. Substituir 7,5% dessa frota por bicicletas elétricas de carga (chamadas de e-cargo bikes) geraria redução das emissões de gases causadores de efeito estufa correspondente a todas as descargas da indústria de aviação do país.
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O Brasil tem um potencial enorme para o avanço e a popularização dos serviços de bicicleta de carga. O e-commerce também ganhou espaço por aqui, e muitos trabalhadores já têm expertise em atividades de entrega com bike.
Algumas experiências se destacam, como a adoção das bicicletas de carga dos modelos Long-John (carga na parte dianteira) e Long-Tail (carga localizada na parte traseira) pelos Correios de Praia Grande (SP). Várias outras empresas oferecem os serviços em capitais e nas principais regiões metropolitanas do País, porém o estabelecimento desses serviços encontra um problema principal: a falta de investimento nas ciclovias.
Mesmo com o grande número de usuários de bikes no País, são poucas as cidades que contam com malhas cicloviárias cuidadas o suficiente para que deem segurança ao transporte de cargas com bikes. A qualificação e a expansão das ciclofaixas são fundamentais para que o serviço não fique restrito às áreas nobres ou turísticas, que costumam ter os melhores trajetos.
Também é preciso facilitar a legislação para que empresas consigam utilizar bicicletas elétricas de carga. Apesar de não serem tão não nocivos para o meio ambiente, os modelos elétricos emitem cargas muito menores de gases do efeito estufa durante o processo de fabricação e de carregamento do que carros e veículos a combustão.
Assim como as bicicletas normais, as cargo bikes precisam do incentivo do governo e da iniciativa privada para se popularizar no Brasil. A falta de infraestrutura faz que ciclistas se coloquem em situações de risco e, em muitos casos, vidas sejam ceifadas.
Se o Brasil quiser levar a sério os compromissos de redução de emissões de poluentes, precisa fazer uma grande transformação nas principais cidades. O espaço para as bicicletas não pode continuar sendo improvisado e contar com pouca manutenção. As bikes podem cumprir uma importante função na micromobilidade nas cidades, mas os cidadãos precisam se sentir seguros para adotar esse transporte.
Fonte: Green Alliance, Mobilize, Cycling Industry, Transporte Ativo, Aliança Bike