A capital de Pernambuco completa 486 anos em março, e muitos desafios estruturais ainda precisam ser superados
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Recife, capital de Pernambuco, é uma das principais cidades brasileiras e completa hoje, 12 de março, 486 anos. A história dela remonta, praticamente, à instalação dos portugueses no Brasil, tendo o território sido palco de conflitos internacionais. Pela importância, a região metropolitana é atualmente a mais populosa do Nordeste e a nona mais populosa do País.
Apesar de toda a relevância, Recife ainda sofre com a falta de planejamento em mobilidade urbana. Os habitantes, principalmente os que vivem distantes do centro, precisam enfrentar longas jornadas para estudar ou trabalhar.
A cidade de Recife tem cerca de 1,6 milhão de habitantes; quando somados os 14 municípios da região metropolitana, a população ultrapassa 4 milhões. O transporte público local é composto de ônibus, metrô e ônibus de trânsito rápido (BRT). Devido ao tamanho e à importância da região, esse serviço é gerido pelo Estado, e não pelo município, como é comum no restante do Brasil.
O transporte público da capital pernambucana enfrenta os mesmos problemas das principais grandes cidades brasileiras, precarizando cada vez mais a qualidade do deslocamento da população. Com grande desconfiança desse serviço, os habitantes apostam cada vez mais no transporte individual, o que gera grandes congestionamentos.
Segundo uma pesquisa da companhia holandesa TomTom Traffic Index, a capital pernambucana tem o maior nível de congestionamento do País. Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que moradores de Recife gastam, em média, 24 minutos a mais por viagem do que a média nacional. Somados esses minutos, são 193 horas gastas em deslocamento por ano.
A região metropolitana da capital pernambucana conta com sistema de ônibus integrado cuja tarifa varia de R$ 4,10 a R$ 5,60, dependendo do percurso. O bilhete dá o direito à baldeação em determinadas linhas, porém uma das queixas comuns é o conflito na realização destas, com terminais lotados e poucos ônibus nos horários de pico. A impossibilidade da ligação com o metrô também não facilita o deslocamento pela cidade.
Outro problema é a velocidade dos ônibus; devido ao trânsito lotado, a duração dos deslocamentos é muito alta. Em 2014, a cidade chegou a implementar um sistema de BRT que prometia mudar esse panorama, mas anos depois o que se viu foi o contrário, e o sistema quase acabou.
Com o início da pandemia de covid-19, o número de usuários do BRT caiu, mas não os custos de manutenção. Com o tempo, várias estações foram depredadas, veículos tiveram equipamentos de ar-condicionado roubados e muitos começaram a operar como ônibus normais, com o embarque acontecendo pela direita e sem ser no mesmo nível das portas.
Outro fator de impacto é que mais estações foram desativadas, e quem dependia das linhas precisava se deslocar às próximas paradas ou procurar alternativas. Agora, com uma nova licitação, o sistema começa a ser normalizado, depois de dois anos de descaso.
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Assim como a maioria das grandes cidades brasileiras, Recife passou por um intenso processo de urbanização em meados do século 20. Com isso, grandes contingentes populacionais fixaram residência em áreas periféricas e, inclusive, em morros com risco de deslizamento. O novo desenho da cidade fugiu dos antigos planejamentos urbanos que remontavam aos séculos 17 e 18.
Em dezembro de 2021, depois de anos de problema de mobilidade urbana, Recife aprovou a Lei nº. 18.887/2021, também chamada de Plano de Mobilidade Urbana do Recife (PMU). A nova lei estimula diversas ações avançadas de mobilidade urbana, como o desincentivo ao uso de veículos individuais, a qualificação da infraestrutura de ciclovias e para a mobilidade ativa, a melhora e o estímulo do uso do transporte coletivo.
Entre os principais desafios enfrentados pelo poder público estão integrar as ciclovias da cidade com as áreas em que trabalhadores vivem. Boa parte das ciclofaixas com melhor qualidade se localiza nas áreas litorâneas e turísticas; por essa razão, a prefeitura planeja alcançar 175 quilômetros de ciclovias até 2024. Também é preciso priorizar o deslocamento de ônibus, principais modais de transporte público, com a criação de faixas exclusivas para os veículos e a recuperação do BRT sendo fundamentais.
A integração dos diferentes modais com cartões de transporte que conectem ônibus e metrô também é um possível caminho para diminuir o tempo de deslocamento de trabalhadores e o custo das viagens.
Outra ação prevista na capital pernambucana é a recuperação de calçadas. Essenciais para a mobilidade ativa e para o deslocamento de última milha, esses espaços apresentam más condições. Na Campanha Calçadas do Brasil, realizada pelo Instituto Mobilize em 2019, as calçadas da cidade alcançaram nota 5,9 (de 10). Alguns pontos têm ótima estrutura, mas apenas nos bairros nobres ou turísticos. É preciso qualificar a infraestrutura para democratizar o acesso à cidade.
Recife vai chegando perto de completar 500 anos, mas ainda existem muitos desafios quanto à qualidade de vida da população, como garantir o bom deslocamento pela cidade e, consequentemente, o acesso de todos a estudo, trabalho, saúde e diversão.
Fonte: Plano de Mobilidade do Recife – Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana, ICPS Recife, Prefeitura Recife, Mobilidade Estadão, Mobilize, JC