Como é possível comprovar que a mobilidade caiu na quarentena?

25 de maio de 2020 5 mins. de leitura

Empresas e autoridades estão usando dados de GPS de celulares para observar adesão ao isolamento

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Um relatório divulgado pela Imperial College London em 8 de maio mostrou que as medidas de isolamento social no Brasil surtiram efeito para diminuir a transmissão do novo coronavírus, mas ainda estão aquém do ideal. De acordo com os pesquisadores, os deslocamentos no País baixaram 29%, em média.

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Dessa maneira, a taxa de reprodução da covid-19 caiu de três a quatro novas infecções para cada indivíduo contaminado para números entre 1,14 e 1,9, dependendo do estado. Esses dados são importantes para entender o estágio em que a pandemia está no País e decidir se as medidas de isolamento podem ser relaxadas ou, pelo contrário, devem ser ainda mais restritas.

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Os estudiosos da Imperial College afirmam que o Brasil deveria optar pelo segundo caminho. Em comparação, os deslocamentos na Lombardia, região mais afetada pela pandemia na Itália, diminuíram 75% com o lockdown e fizeram a taxa de reprodução recuar para 0,58.

A questão é: de que maneira os pesquisadores puderam ter ideia desses dados e que medidas de restrição mais severas deveriam ser tomadas? Para isso, houve um grande auxílio da tecnologia: nas notas metodológicas do estudo, os envolvidos afirmam utilizar relatórios de mobilidade da Google para compreender deslocamentos e fazer seus cálculos.

A Google tem publicado, periodicamente, relatórios de mobilidade de 130 países; os arquivos são gratuitos e podem ser acessados por qualquer usuário. No Brasil, os dados são refinados pelas unidades da federação.

Fonte da imagem: Freepik

(Fonte: Freepik)

Como as empresas criam os relatórios?

Para criar os relatórios, a Google utiliza os dados da ferramenta “Histórico de Localização” existentes em aplicativos da empresa, como Google Maps, e sistemas Android. De maneira geral, o serviço mostra recomendações sobre locais públicos visitados pelo usuário ou para que o dispositivo seja encontrado em casos de perda ou roubo.

Agora, em meio à pandemia de covid-19, a companhia está usando essas informações para mostrar a adesão dos cidadãos de cada país às medidas que restringem a circulação de pessoas.

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Por meio do histórico de localização, foi possível observar como está a procura por locais como parques, lojas, escritórios ou estações de transporte público. Porém, a empresa não divulga números absolutos, apenas informa quanto a circulação por esses locais diminuiu em relação ao movimento normal.

Por exemplo: no relatório mais recente, referente a 2 de maio, os deslocamentos para locais de varejo e recreação diminuíram 54% no Brasil, em média. No Ceará, caíram 72%, enquanto no Mato Grosso do Sul houve baixa de apenas 33%.

De maneira semelhante, a Apple utiliza as pesquisas no Maps, aplicativo de navegação nativo dos dispositivos com iOS, para criar relatórios diários de mobilidade de cada país. Segundo dados de 9 de maio, os deslocamentos de carro caíram 27%, os trajetos a pé diminuíram 47% e o uso do transporte público apresentou variação negativa de 78% na média nacional. Nos relatórios da companhia também é feita uma comparação com dias normais, mas sem mostrar dados absolutos.

Fonte da imagem: Unsplash

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Dados são utilizados por autoridades

Desde 20 de abril, as quatro principais operadoras de telefonia móvel do País (Vivo, TIM, Oi e Claro) se reuniram para criar uma plataforma que usa dados de GPS dos celulares para que as autoridades possam acompanhar a adesão dos usuários à quarentena em cidades com mais de 500 mil habitantes.

A ferramenta vai além das citadas e mostra mapas de calor, indicando em quais locais há aglomerações. Contudo, essa plataforma está disponível apenas para gestores públicos federais, estaduais e municipais.

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A empresa de tecnologia pernambucana In Loco criou um sistema semelhante que está sendo utilizado por 13 unidades federativas, de acordo com matéria divulgada pelo jornal Estadão. A empresa já utilizava dados de GPS, telefonia e WiFi de 60 milhões de usuários de apps de parceiros, como Magazine Luiza e Santander, para enviar publicidade personalizada por localização.

A partir disso, foi possível reunir os dados em mapas que mostram o fluxo de pessoas pelas cidades no dia anterior. A ferramenta permitiu à Polícia Militar do Piauí, primeiro estado a utilizá-la, realizar dezenas de operações contra aglomerações. “A maioria dos casos era de comércios que abriram as portas”, afirmou Gustavo Campelo, comandante do Centro de Operações da PM do Piauí ao jornal Estadão.

A In Loco afirma que os dados são vistos em bloco, sem identificar os locais em que cada pessoa esteve. A privacidade tem sido um dos principais pontos no debate sobre o uso da geolocalização para monitoramento da quarentena.

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De maneira semelhante, a Apple afirma que as buscas no Maps não são associadas ao Apple ID, portanto são anônimas. A Google indica que seus relatórios utilizam somente dados agregados em blocos e anônimos. Além disso, pondera que o “Histórico de Localização” é ativado pelos usuários e pode ser desligado a qualquer momento.

Fonte: Apple, Google, Imperial College London, Estadão

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