Como o pedágio urbano pode reduzir os acidentes de trânsito?

29 de abril de 2020 5 mins. de leitura

Estudo demonstra que a taxação de congestionamentos contribui para a redução do número de ocorrências nas ruas

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A taxação de congestionamentos é uma política urbana cujo objetivo é diminuir o fluxo nas vias com maior circulação. Após alguns anos de experimentação em cidades importantes, como Londres (Inglaterra), que tem em torno de 9 milhões de habitantes, o projeto vem ganhando destaque por outras razões: mais do que melhorar o trânsito e evitar congestionamentos, mostra uma considerável queda do número de acidentes.

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Esse é um fator que costuma estar relacionado ao planejamento de mobilidade urbana e cujas variáveis são complexas. No caso da capital inglesa, temia-se que a redução do número de carros circulando permitisse aumento da velocidade média dos veículos e que isso elevasse o risco de acidentes nas vias que adotam a taxação, o que não ocorreu.

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A preocupação tinha fundamento. Segundo dados do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza (CE), quando um pedestre é atropelado por um veículo a 60 quilômetros por hora, há 98% de chance de o evento ser fatal, diante de 35% de chance em acidentes com automóveis a 40 quilômetros por hora.

Os números vão ao encontro das informações da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), que reúne as companhias do setor em atuação no Brasil: o aumento de 1 km/h na velocidade média de um veículo resulta em elevação de 4% a 5% na incidência de acidentes fatais.

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Em vez disso, percebeu-se uma queda significativa dos acidentes em Londres. Segundo pesquisa liderada pelo professor Colin Green, do Departamento de Economia da Universidade de Lancaster, o centro londrino teve redução de 40% nos acidentes em comparação com o início da aplicação da taxação de congestionamentos, em 2003. O estudo também verificou que a queda não ocorreu apenas no perímetro de aplicação do pedágio urbano mas também nas regiões adjacentes, uma vez que havia menos carros circulando por elas em direção ao centro da cidade.

Educação para o trânsito

(Fonte: Shutterstock)

Ainda assim, foi verificado pequeno aumento no número de acidentes com bicicletas em um primeiro momento: até 2005, houve 18 acidentes a mais por ano; a partir de 2006, essa taxa caiu e acompanhou os demais modais. Isso se justifica, em parte, pelo sucesso da política, que mais que triplicou o índice de ciclomobilidade, além de o transporte coletivo ter crescido em relação ao uso de veículos particulares. Mas o fato acendeu um sinal de alerta.

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A hipótese provável de que esses acidentes ocorressem com os “ciclistas de primeira viagem” coloca na agenda da mobilidade outro fator: assim como novos modais são necessários, há a necessidade de uma educação para a mobilidade. Se é verdade que ninguém esquece como andar de bicicleta, pode ser também que muitas pessoas não tenham aprendido a usá-la como opção de transporte cotidiano, compartilhando vias com outros veículos.

Entenda a taxação de congestionamento

(Fonte: Aivita Arika / Shutterstock.com)

Também conhecido como pedágio urbano, o modelo de taxação de congestionamentos prevê uma contrapartida financeira aos motoristas que optarem por transitar de carro nas vias centrais em horário de maior fluxo. Em Londres, por exemplo, que é considerada uma cidade cuja aplicação da política ocorreu de forma eficiente, paga-se 11,50 libras para transitar de carro na área central durante o dia.

O preço alto é uma das principais razões pelas quais a aplicação do pedágio urbano é polêmica. Ainda que o sistema auxilie quem usa o carro prioritariamente, por diminuir o trânsito, e o valor arrecadado normalmente seja aplicado no investimento de modais alternativos, o fato é que mexer no bolso do cidadão exige uma disposição política que torna sua implementação delicada.

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Além disso, optar pelo pedágio urbano exige repensar as saídas mais comuns, ainda centradas no carro, como investir em estradas. Embora o movimento seja necessário e cidades como Estocolmo (Suécia) usem o valor da taxação para melhorar a estrutura viária, isso alimenta um círculo vicioso: melhor estrutura para carros tende a fomentar o uso de veículos. Por isso, é necessário que outros modais, como ônibus e bicicleta, supram a demanda satisfatoriamente e haja políticas dessa natureza em conjunto com a implementação do pedágio urbano.

O modelo de Nova York (Estados Unidos), que iniciará em 2021, tem recebido muitas críticas: os carros que transitarem por Manhattan das 6h às 18h deverão pagar U$ 8, mas a estrutura de transporte coletivo ainda é considerada insuficiente para dar conta da mobilidade de quem reside em regiões afastadas.

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Apesar das condicionantes, a taxação de congestionamentos é considerada interessante porque é capaz de diminuir a circulação sem restringi-la diretamente, como ocorre no rodízio de placas de São Paulo, e permite que a cobrança feita sobre quem opta por transitar de carro financie o aprimoramento de modais mais sustentáveis.

Fonte: The Guardian, CNSeg, Observatório do Trânsito de Fortaleza

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