A falta de estrutura urbana costuma afetar os mais pobres, e isso inclui as questões de mobilidade. Quem reside nas regiões mais distantes do centro da cidade e está sob maior vulnerabilidade socioeconômica encontra mais dificuldade em transitar com qualidade e segurança. Mas como reverter esse quadro?
Confira aqui quatro ideias que podem melhorar a mobilidade urbana e o acesso à cidade nas favelas brasileiras.
1. Melhorar a infraestrutura para a caminhabilidade
Quando o assunto é mobilidade, é comum vir à mente os veículos-padrão: carro, ônibus, trem e metrô. Mas a principal forma de circulação sobre o solo urbano é a pé. Por isso, a caminhabilidade deve ser a prioridade número um para melhorar o acesso à cidade.
No caso das vias localizadas na região periférica, é necessário fazer uma leitura sensível. Segundo a legislação brasileira, cabe ao proprietário cuidar da calçada em frente à própria casa, mas isso nem sempre é possível em regiões mais pobres, razão por que os espaços para caminhar podem ser um problema. Crianças, idosos, pessoas com deficiência e mulheres (ainda responsabilizadas por cuidados domésticos) são os mais prejudicados.
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2. Fortalecer a rede de transporte coletivo
Em razão do preço alto e da má qualidade do transporte coletivo, optar pelo transporte individual é a saída mais confortável. Mas quem mora na periferia das cidades brasileiras está entre a parcela que mais usa transporte coletivo, e isso deve ser visto como um ponto positivo, já que são menos veículos na rua.
Por isso, melhorar a rede de transporte coletivo deve estar no centro do debate sobre o direito de se deslocar de quem vive na periferia dos centros urbanos.
Mais ônibus circulando são apenas o começo: é preciso interseccionar o debate da mobilidade com outros eixos sociais. O aplicativo Nina, que mapeia casos de assédio em ônibus do Recife, é um exemplo de como estimular o uso de transporte coletivo e garantir o bem-estar de quem o usa.
3. Apostar na ciclomobilidade
Para transitar dentro e fora do espaço das favelas, a bicicleta pode ser uma alternativa interessante. Ela é barata, saudável e sustentável de se locomover, além de poder servir como lazer.
Uma boa alternativa passa por fortalecer projetos de ciclomobilidade que já existem nos territórios. Um exemplo bacana é o Preta Vem de Bike, que estimula o uso de bicicleta por mulheres negras, que estão entre as mais vulneráveis quando o assunto é transitar pela cidade — esse é outro caso de interseccionalidade aplicada ao transporte.
4. Melhorar a segurança por meio dos equipamentos públicos
Segurança é um problema geral, e não apenas das favelas, mas a ausência de proteção social nessas áreas pode torná-las mais suscetíveis ao tráfico e às milícias. Por isso, fortalecer os equipamentos de segurança é fundamental, mas não o suficiente.
Isso deve ser considerado, sobretudo porque é frequente que as abordagens policiais criminalizem a população dos territórios pobres. Assim, a questão de segurança deve considerar diversos outros elementos de proteção do Estado.
Uma saída importante é apostar na ocupação do espaço urbano pela população, incluindo as pessoas nas soluções. Aprimorar a iluminação pública e fortalecer os equipamentos de esporte e lazer coletivos são exemplos de como a segurança pode ser beneficiada com ações do Estado e da sociedade civil, como associações de bairro.
Fonte: Prefeitura de São Paulo, ArchDaily.