Bike não melhora saúde dos entregadores, mostra estudo

11 de agosto de 2022 5 mins. de leitura

Entenda por que a saúde dos entregadores não melhora com os benefícios da bicicleta

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Os serviços de entrega por bicicleta são vistos como empregos sustentáveis e modernos. Mas, para os entregadores, a rotina física extenuante e a pressão inerente ao tipo de trabalho fazem que estejam sujeitos a diversos problemas físicos e mentais. É o que mostra uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP).

Serviços de delivey com bikes se popularizam em todo o mundo como uma alternativa para driblar os problemas do trânsito nas grandes cidades. (Fonte: Unsplash/Reprodução)
Serviços de delivery com bikes se popularizam em todo o mundo como uma alternativa para driblar os problemas de trânsito nas grandes cidades. (Fonte: Unsplash/Reprodução)

Pesquisa sobre qualidade de vida de entregadores

O pesquisador Eduardo Rumenig de Souza realizou uma tese de doutorado na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP em que analisou a qualidade de vida de ciclistas entregadores na cidade de São Paulo.

Para ele, esse tipo de serviço precariza a vida dos ciclistas e os deixa vulneráveis a diversos problemas da vida urbana, sem as vantagens e as seguranças que um vínculo empregatício tradicional gera.

Para realizar o trabalho, Souza acompanhou a rotina de cinco entregadores que atuam na capital paulista e utilizou a etnografia como técnica metodológica, que é uma ferramenta criada pela antropologia para descrever e entender a cultura de diferentes povos ou de grupos sociais.

Com o uso dessa metodologia, o estudioso mapeou conceitos e significados que os entregadores atribuem às experiências sociais a que são submetidos. Além disso, mapeou dados quantitativos como os índices de poluição a que os entregadores são expostos e o volume e intensidade dos esforços físicos.

Baixos salários e pressão psicológica

Um dos pontos ressaltados pela pesquisa é o tamanho da pressão sentida pelos entregadores para que as corridas sejam feitas de maneira mais rápida e eficiente. O medo de não conseguir uma renda adequada ou de perder pontos e ser banido das plataformas faz que entregadores aceitem muitas corridas, deixando de fazer pausas para alimentação e hidratação.

A obrigação de ser mais eficiente leva, também, a sobrecarga das bicicletas e a não atenção às regras de trânsito. Isso coloca a saúde e até a vida dos entregadores em risco constante. Apesar disso, o pesquisador notou forte laço de companheirismo entre os entregadores e a ajuda entre eles para enfrentar o dia a dia.

Outra pesquisa realizada pelo departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fez constatações similares. Muitos entregadores trabalham em processos de adoecimento físico e mental, mas sem diagnóstico.

A correria e a pressão por resultados levam a dificuldade e baixa qualidade da alimentação, problemas posturais relacionados à carga excessiva, doenças gastrointestinais e até renais.

Além disso, a ansiedade pela espera por corridas e o estresse do trabalho com constante corrida contra o relógio podem causar uma série de problemas psicológicos.

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Riscos da falta de infraestrutura

Além dos perigos enfrentados no trânsito comum, os entregadores precisam encarar questões de infraestrutura urbana que dificultam o cotidiano do serviço. Apesar de São Paulo ter a maior malha cicloviária do País, diversos trechos apresentam problemas, e muitas outras regiões não têm espaço para ciclovia, o que leva dividir o trânsito com os carros ser um fato comum.

Ter que utilizar vias e dividir o trânsito com os carros é um dos principais perigos para os ciclistas.(Fonte: Unsplash/Reprodução)
Ter que utilizar vias e dividir o trânsito com os carros é um dos principais perigos para os ciclistas. (Fonte: Unsplash/Reprodução)

A pesquisa de Souza também mediu os níveis de poluição a que os entregadores são submetidos e achou dados alarmantes. Pessoas em deslocamento ativo chegam a inalar cinco vezes mais poluentes do que as em carros ou ônibus. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, portanto, atualmente, a situação da poluição pode ser pior para os entregadores.

Condições de trabalho

Um relatório realizado pela Aliança Bike demonstrou, com um intervalo de confiança de 90%, que 75% dos trabalhadores que fazem entregas com bicicleta trabalham mais de 12 horas por dia para ter um rendimento mensal médio de R$ 995. Quem trabalha até 5 horas por dia fatura em média R$ 466 e encara o serviço como um “bico” para complementar a renda.

Porém, a facilidade de entrada nos aplicativos acaba sendo uma opção para fugir do desemprego em um momento em que o trabalho formal está cada vez mais difícil de encontrar. Alguns trabalhadores analisados por Souza afirmaram que conseguem rendimentos maiores do que já ganharam com carteira assinada.

Quer saber mais? Confira aqui a opinião e a explicação de nossos parceiros especialistas em Mobilidade.

Fonte: Jornal da USP, UFF, MTB Brasília, Aliança Bike, Revista Ciência e Saúde Coletiva, Teses USP

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