Número de motoristas por aplicativo cresce 137% em 8 anos

23 de abril de 2020 4 mins. de leitura

Aumento está relacionado ao crescimento das taxas de desemprego e trabalho informal

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No início de 2012, o Brasil tinha 484 mil pessoas cuja principal fonte de renda eram serviços de transporte por aplicativo, de acordo com a Pesquisa Nacional de Empregados e Desempregados (Pnad) Contínua Trimestral. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, no fim de 2019, esse número saltou para mais de 1 milhão, com crescimento de 137,6% em oito anos.

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A alta rotatividade do segmento torna difícil mensurar quantas pessoas trabalham no setor, mas uma pesquisa do Instituto Locomotiva, divulgada em 2019, indica que aproximadamente 5,5 milhões de brasileiros estão cadastrados em aplicativos como Uber, 99, iFood e Rappi. O número inclui aqueles que ainda usam os apps para trabalhar e aqueles que não atuam mais nesses serviços.

O impacto dos apps de delivery na mobilidade urbana

Para se ter uma ideia do tamanho do mercado por aqui, por volta de 20% dos motoristas da Uber no mundo são brasileiros. Muito preferem alugar veículos para trabalhar, o que vem se tornando um novo modelo de negócios, já que boa parte deles não tem veículo próprio nem tem condições de financiar um automóvel.

O crescimento expressivo do número de motoristas por aplicativo modificou a expansão do crédito para compras de veículos em 2019, segundo dados do Banco Central. A popularização dos apps de transporte fez os financiamentos de veículo avançarem 80% em 12 meses, alcançando um volume de R$ 47,8 bilhões em crédito. Antes, o perfil desse mercado era dominado por pessoas físicas; agora, com a venda direta para locadoras, os financiamentos para pessoas jurídicas têm aumentado.

Causas do crescimento do número de motoristas por aplicativo

(Fonte: Unsplash)

Desde a chegada do primeiro aplicativo de transporte no Brasil, em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não parou de crescer até o fim de 2013, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas (Ipea). No segundo semestre de 2014, a economia começou a dar sinais de desaceleração.

As taxas de desemprego, que já estiveram em 4,3% no fim de 2013, alcançaram 12,7% em 2017, quando 12,3 milhões de pessoas no Brasil estavam desempregadas, segundo o IBGE. Com a crise fechando vagas de emprego, houve uma mudança radical no mercado de trabalho no País, a informalidade cresceu e alcançou o nível recorde de 41,1% da população ocupada em 2019, atingindo mais de 38 milhões de cidadãos.

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Ao mesmo tempo, a chegada de novos apps popularizou o transporte por demanda. Isso fez com que muitos brasileiros encontrassem nas tecnologias de mobilidade uma nova forma de garantir a subsistência. Entre 2012 e 2019, 666 mil brasileiros se tornaram motoristas de aplicativo.

Os números mostram que o desemprego atingiu também os profissionais mais qualificados. Ainda segundo o IBGE, a maioria dos motoristas tem entre 30 anos e 49 anos de idade e representa 52% no total. Por volta de 12% têm ensino superior incompleto e 5% têm o superior completo.

Precarização do trabalho

(Fonte: Unsplash)

A expansão do número de motoristas tem refletido em menor renda para os motoristas. Os profissionais têm de arcar com todos os custos de manutenção do veículo e do celular e a maioria acaba não conseguindo recursos suficientes para contribuir com a previdência.

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Uma pesquisa pioneira realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a expansão das plataformas de aplicativos de transporte pode precarizar as relações de trabalho. Para o professor Fábio Tozi, autor do estudo, a alternativa ajuda os profissionais a se manterem apenas por um curto prazo. Na visão do pesquisador, a adesão dos motoristas substitui a velha estratégia do “bico”, usada pelas camadas pobres para sobreviver.

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Para Tozi, existe uma falsa autonomia do motorista. Mecanismos como estilo de direção no aplicativo e avaliação individual dos usuários colocam o profissional em constante estado de pressão. “O motorista, por exemplo, é penalizado se recusar certo número de corridas. Ele fica refém da empresa, que determina seu local de atuação”, argumenta.

Fonte: IBGE, Estadão, Uber, Ipea, UFMG, Agência Brasil

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