Covid-19: Ipea aponta importância da mobilidade no acesso à saúde

16 de junho de 2020 5 mins. de leitura

População precisa de serviços de mobilidade urbana funcionais

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No dia 8 de abril deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou um estudo em que analisa o acesso ao SUS por parte de pessoas que apresentam os sintomas da covid-19. A ideia é do documento é investigar o ponto de vista da mobilidade urbana.

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O relatório, chamado Mobilidade urbana e o acesso ao Sistema Único de Saúde para casos suspeitos e graves de covid-19 nas vinte maiores cidades do Brasil, levou em consideração o tempo e a distância para acessar cuidado de saúde especializado.

O que muda no cenário das cidades após a pandemia?

Em se tratando de uma doença infectocontagiosa, é um documento importante não apenas do ponto de vista da garantia do direito à saúde de quem demanda esse tipo de atenção. Afinal, não convém às demais pessoas que alguém adoentado precise percorrer longas distâncias, expondo a si e aos demais.

Territorialização

Estrutura de saúde pública é pensada de forma territorializada, mas os centros de referência para covid-19 não seguem a mesma lógica. (Fonte: Shutterstock)

A covid-19 costuma demandar um atendimento médico incomum: em vez de serem territorializados (como acontece fora dos tempos de pandemia), os locais de referência são centralizados, seja para evitar a disseminação do vírus por diversos espaços, seja porque em alguns casos há necessidade de intervenção intensiva, para controle dos sinais vitais e auxílio de respiradores, por exemplo.

Assim, pacientes vulneráveis, que em geral têm atenção de saúde próxima de seu local de moradia, se veem diante de uma barreira logística e geográfica no acesso ao atendimento médico.

Resultados

Tão importante quanto disponibilizar leitos para o tratamento do novo coronavírus é garantir o acesso das pessoas até os hospitais. (Fonte: Shutterstock)

O relatório do Ipea considera especialmente vulneráveis as pessoas de baixa renda e acima de 50 anos de idade, pois terão mais dificuldade para se locomoverem até o centro de referência. Isso se acentua quando se observa que pacientes com suspeita de covid-19 costumam apresentar sintomas severos, que dificultam a mobilidade.

Segundo o instituto, apenas nas 20 maiores cidades do país, há cerca de 228 mil pessoas que residem a mais de 30 minutos de caminhada até o centro referenciado para casos suspeitos de covid-19. Além disso, há aproximadamente 1,6 milhão de pessoas morando a distâncias maiores do que 5 quilômetros de um hospital com capacidade para internação em UTI.

Os impactos do coronavírus na mobilidade urbana

Diante desse quadro, o Ipea entende que “é fundamental desenvolver estratégias de atendimento e de transporte para essas pessoas, porque dificilmente elas teriam outra opção de mobilidade”.

Além disso, os resultados revelam que a maior parte dos 20 maiores municípios do Brasil (ou seja, aqueles que em tese possuem melhor estrutura hospitalar) apresentam número de leitos de UTI muito próximos do mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde para períodos regulares.

Em fases excepcionais, como a atual pandemia, a tendência é de que se observe o estrangulamento do serviço intensivo em diversos locais, com a provável ocorrência de óbitos sem assistência.

4 relações entre doenças e transformações urbanas

O relatório aponta ainda que essa situação é mais grave nas periferias desses centros. É provável que “a baixa oferta de equipamentos de saúde, combinada com piores condições de urbanização e de renda, aumentem o potencial de propagação da covid-19 diante de uma baixa capacidade de atendimento do sistema de saúde”, diz o estudo.

Por razões como essa, o Centro de Estudos Periféricos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tem chamado a atenção para a necessidade de abertura de leitos de cuidado intensivo em regiões como a zona leste paulistana.

Contando com a colaboração de associações de moradores e outros movimentos locais, essa entidade tem feito a gestão junto à prefeitura de São Paulo para organizar uma rede de acolhimento à população dessa região, que possui mais de 3 milhões de habitantes.

Transporte coletivo

O relatório do Ipea conclui também que, embora a redução do transporte urbano seja uma estratégia para limitar o contágio do novo coronavírus, é possível que ela traga efeitos colaterais, como o aumento da aglomeração de pessoas nos pontos de espera e dentro do próprio veículo.

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Além disso, reduzir a frota de ônibus pode restringir o acesso à saúde para pacientes, familiares e profissionais do setor. Por isso, qualquer medida de restrição de oferta de transporte deve ser combinada com políticas específicas que deem atenção a esse aspecto.

Em Cuba, por exemplo, todo o transporte público da cidade foi suspenso. Em contrapartida, foram criadas linhas exclusivas para garantir a circulação de profissionais da saúde, que deixam de circular por espaços e veículos compartilhados entre o hospital e suas residências, diminuindo assim a possibilidade de contaminação a partir das suas logísticas cotidianas.

Fonte: Ipea, CNM.

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