Como os diferentes modais podem afetar sua qualidade de vida?

1 de setembro de 2023 6 mins. de leitura

Os modais utilizados e o tempo que alguém leva para se dirigir da sua origem ao destino podem influenciar a forma como se vive e percebe o ambiente ao redor. Saiba mais.

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Qualidade de vida é um conceito amplo que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), envolve uma série de valores, assim como o bem-estar, seja físico, mental, entre outros. E dentro desse conjunto de elementos está a forma como a pessoa se desloca.

Dessa forma, os modais utilizados e o tempo que alguém leva para se dirigir da sua origem ao destino podem influenciar a qualidade de vida. Porém, para cada tipo de modal, um impacto é diferente, sobretudo na saúde mental.

Pesquisa analisa relação entre pessoas e cidades

A forma como os espaços urbanos são configurados estabelece, indiretamente, uma disputa tanto social quanto territorial por parte de quem os ocupa. Nesse contexto, as pessoas buscam formas não somente de estarem presentes, mas de encontrarem meios para manter sua qualidade de vida elevada.

Controle e liberdade são primordiais na escolha do transporte utilizado, impactando a qualidade de vida individual. Porém, ao passo que uma parcela da população se beneficia com um modal, outra pode ser prejudicada.

pesquisa “Relações Pessoa-Cidade: Mobilidade Urbana e Qualidade de Vida em Porto Alegre (RS)”, de Lutiely Neves Parenza e Sheila Gonçalves Câmara, identificou que desde a década de 1950 investe-se fortemente no Brasil na indústria automobilística, embora o uso de transporte individual motorizado seja feito por uma pequena fatia da população.

As autoras aplicaram uma pesquisa junto a 417 participantes entre abril e maio de 2019, em Porto Alegre, e avaliaram que 178 usam transporte público, enquanto 125 optam por bicicletas ou caminhadas, contra 114 que preferem dirigir carro ou usar por aplicativo. No último grupo, constatou-se que eles possuem idade, renda e escolaridade maiores, bem como mais dependentes.

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Impacto do uso de carros nas cidades

Cerca de 80% do trânsito nas regiões urbanas é ocupado por automóveis, mas apenas 20% da população têm acesso a eles. Além disso, as pesquisadoras explicam que possuir um carro próprio estimula maior percepção de autonomia e controle sobre a mobilidade.

Contudo, ignoram-se problemas como aumento da poluição, devido à emissão de gases que promovem o efeito estufa, e a poluição sonora, pelos ruídos e buzinas dos veículos. Além disso, o uso irrestrito de automóveis também amplia o sedentarismo.

Sem contar o aumento dos congestionamentos pela ampliação da frota, fazendo que os motoristas passem mais tempo dentro dos carros. Consequentemente, estimula o estresse que compromete o bem-estar mental.

Hugo Alexander Martins Pereira, professor dos cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Positivo, em Curitiba, alerta que, além do status social diretamente relacionado a quem faz uso de automóvel, a saúde mental e física ficam comprometidas. “Em Curitiba, há mais de 1 milhão de automóveis, além dos veículos que trafegam pela capital e têm sua origem ou destino na região metropolitana”, detalha.

Ou seja, se por um lado a adoção de carros e motocicletas promove maior autonomia para realizar os deslocamentos, ela também gera impactos negativos para o meio ambiente e a vida em sociedade.

Transporte ativo e não motorizado contribui para a saúde física e psicológica

Parenza e Câmara pontuam que o uso de transportes alternativos, como as bicicletas, vão na contramão de modais motorizados, promovendo os seguintes benefícios:

  • Deslocamento rápido pelo espaço;
  • Aumento do contato com a cidade;
  • Hábitos de vida mais saudáveis;
  • Elevação da mobilidade urbana;
  • Movimentação silenciosa;
  • Diminuição do trânsito.

Andar a pé também tem a mesma proposta, embora exija um aporte físico e de tempo maiores. Entretanto, caminhar e andar de bicicleta exigem maior infraestrutura por parte das autoridades, que devem promover melhores condições de mobilidade, entre elas:

  • Segurança, como guarda-corpo em pontes e passarelas;
  • Calçadas pavimentadas e sinalizadas;
  • Iluminação, sobretudo à noite;
  • Ciclovias e ciclofaixas;
  • Faixas de segurança.

Contudo, para que isso seja realidade, as pesquisadoras observam a necessidade de existir uma mudança cultural e política da mobilidade, sobretudo em transporte coletivos e não motorizados.

O bem-estar social está ligado à mobilidade urbana devido à Psicologia Ambiental. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Bem-estar social está ligado à mobilidade urbana devido à Psicologia Ambiental. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Psicologia Ambiental e relação das pessoas com a mobilidade

Para que o desenvolvimento social nas cidades aconteça é preciso que haja uma conexão entre as pessoas e o ambiente que as cercam. E tal questão está ligada à Psicologia Ambiental, determinando como se dá a relação entre usuários e os modais mais presentes nos espaços urbanos.

As pesquisadoras fazem paralelos em relação aos usos de cada modal e o comportamento humano. Em resumo:

  • circular de bicicleta movimenta o corpo, além de estar em contato maior com pessoas e ruas;
  • usar transporte coletivo promove maior interação social, mesmo que forçosamente;
  • andar de carro ou moto é uma ação individual e mais fechada;
  • caminhar exige maior interação ambiental e social.

Porém, para além da infraestrutura necessária, outros fatores condicionam as pessoas a usarem determinado modal. É o caso do aumento da violência que passa, indiretamente, a fomentar um maior uso de transporte motorizado para evitá-la.

Por estarem com um contato maior com a cidade sem precisar ter a atenção no trânsito, aqueles que andam de transporte público teriam uma relação afetiva maior com a cidade. Isso porque podem observar o entorno e, em algumas situações, de forma relaxada, impactando positivamente o bem-estar.

Pereira também ressalta tal fator, destacando que quem usa transporte coletivo não têm a preocupação dos movimentos e dinâmicas do trânsito, uma vez que o condutor é um motorista profissional.

Contudo, quem precisa andar de ônibus por falta de opção tende a ter uma visão negativa sobre o controle de tempo, influenciando sua satisfação pessoal. Aqueles que preferem andar a pé ou de bicicleta costumam residir em áreas centrais, com acesso à infraestrutura, portanto, beneficiando sua qualidade de vida.

Fonte: Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, Revista Psicologia: Ciência e Profissão

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