Saiba por que muitas cidades têm apostado nas zonas de baixa velocidade como forma de garantir a segurança no trânsito
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Em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu início à Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021-2030). Durante o evento, foram revelados dados atualizados e preocupantes sobre a segurança no trânsito de todo o mundo. Globalmente, 1,35 milhão de pessoas perdem a vida por ano em decorrência de acidentes de trânsito, totalizando mais de 3.500 mortes por dia.
A OMS também mostrou a relação do aumento da velocidade com a crescente no número de acidentes e da fatalidade no trânsito. Por isso, uma das principais ações para garantir a segurança no trânsito é a criação e ampliação de zonas de baixa velocidade nas cidades.
Já sabemos que a maioria das grandes cidades foi pensada para os carros. Boa parte das áreas e espaços viários ficam destinados a veículos que são pouco efetivos (por transportarem pouca gente) e mais poluentes. Neste cenário, os usuários que desempenham a mobilidade ativa e sustentável, como pedestres e ciclistas, são desfavorecidos e colocados em risco. Isto é acentuado em países de baixa renda ou em desenvolvimento, onde normalmente a infraestrutura urbana é inferior e faz com que usuários vulneráveis divida o espaço com veículos maiores e mais perigosos nas ruas.
Segundo estudos apresentados no Guia Para Áreas de trânsito Calmo, do World Resource Institute e do Global Road Safety Facility, existe uma relação direta entre maior velocidade e probabilidade de sinistros no trânsito. A velocidade diminui o campo de visão de motoristas e dificulta as chances de reação contra colisões. Além disso, a velocidade aumenta a força em colisões e demanda maior distância para frenagem do veículo. Com isso, a falta de segurança no trânsito continua sendo a principal causa de mortes e lesões entre pessoas de 5 a 29 anos, em todo o mundo.
Para combater estes efeitos, foram criadas as zonas de trânsito calmo ou zonas de baixa velocidade nas cidades. As primeiras experiências pensadas como política pública foram implantadas na Holanda, na década de 1980. A partir daí, diversas cidades desenvolveram programas similares que obtiveram sucesso. Um exemplo é o de Londres: um estudo de 2009 mapeou 119 ruas que tiveram redução de velocidade de 48 km/h para 32,2 km/h. A mudança resultou na queda de 46% no número de acidentes com mortos ou feridos, e de 50% de acidentes envolvendo crianças e adolescentes.
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Sozinha, a redução de velocidade pode não ser efetiva. Outro estudo mostrou que ruas com limite menor de velocidade que não sofreram outras alterações tiveram uma redução menor do que ruas com outras intervenções. Entre as mudanças mais efetivas, estão ruas com desenhos e avisos horizontais em diferentes cores, rotatórias, estreitamento de faixas, chicanas, travessias elevadas e afunilamentos.
Estes tipos de intervenção nas ruas acabam funcionando como um modo de autofiscalização, pois os motoristas precisam prestar mais atenção para não baterem e, automaticamente, reduzem a velocidade.
As experiências de redução de velocidade se mostraram um sucesso também no Brasil. Em 2015, Curitiba (PR) limitou a velocidade em 40km/h em mais de 140 quarteirões na área central e arredores. Em um ano, o número de acidentes caiu 46,7% e os acidentes com vítimas 24,7%. São Paulo foi outro exemplo de sucesso: entre 2013 e 2015, o Programa de Proteção à Vida (PVV) implementou zonas de baixa velocidade, com limite de 40 km/h, as chamadas Áreas 40. Além disso, a velocidade nas marginais e em vias expressas também diminuiu de 70 km/h para 50 km/h. Por fim, o número de mortes em acidentes de trânsito caiu 20,6%.
Além da redução no número de mortes e acidentes com lesões, as áreas de trânsito calmo trazem uma série de benefícios para as cidades. Estudos, como “Desenvolvimento econômico em decorrência de ambientes mais seguros e mais convidativos para os pedestres, o que os incentiva a permanecer, socializar e utilizar o comércio local” (Tolley, 2011) e “Melhora na saúde pública por meio da redução de emissões de poluentes, do aumento da atividade física relacionada a caminhadas e ciclismo” (Steer Davies Gleave, 2014), citados no relatório do World Resource Institute mostram as vantagens da diminuição do trânsito. A migração para outros tipos de transporte leva a menor poluição do ar e sonora, aumento da mobilidade ativa (principalmente caminhada e ciclismo), desenvolvimento econômico devido ao aumento do número de pedestres nas ruas e melhora da saúde pública.
A maioria das cidades que adota zonas de baixa velocidade em alguma área estabelece a velocidade máxima de 30 km/h. Este número não é arbitrário, o Guia Para Áreas de Trânsito Calmo informa que a 30 km/h o risco de morte do pedestre, em caso de acidente, é de 5%. Em 40 km/h, o risco chega a 13% e, no caso de 50 km/h, o risco já é de 29%. Ademais, as chances de lesões graves, inclusive com risco de invalidez permanente, aumentam exponencialmente.
O indicado é que, em áreas de alto fluxo de pedestres, o limite seja de 40 km/h. Em áreas com compartilhamento de faixas, o limite não deve exceder 30 km/h. O mesmo deve ser observado em zonas residenciais. Em lugares mais perigosos, como dentro de condomínios ou em áreas escolares, o limite deve ser de 20 km/h.
Sabendo que, ao diminuir a velocidade, você pode estar salvando vidas, fica mais fácil obedecer às novas regras de trânsito, não é mesmo?
Fonte: Organização Mundial da Saúde, World Resource Institute, Somos Cidade, ArchDaily
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