A história do Segway PT, promessa de mobilidade nos anos 2000

26 de setembro de 2020 5 mins. de leitura

Veículo alternativo que ajudou a pautar demandas importantes no âmbito da micromobilidade tem sua produção encerrada

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Carro-chefe da empresa estadunidense Segway, o Segway PT (personal transporter) teve sua produção encerrada em julho deste ano. O veículo de duas rodas definido pelo inventor Dean Kamen como um “transportador humano com equilíbrio automático”, era uma das promessas do segmento de mobilidade no início dos anos 2000.

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Foram várias as razões que levaram o promissor modal ao triste fim. Entenda como essa trajetória pode contribuir com a elaboração de novos meios de transporte alternativos.

Segway PT: do auge à decadência

“O Segway será para o carro o que o carro foi para o cavalo e a charrete.” A promessa nada modesta do criador condizia com a expectativa de boa parte do mercado. Steve Jobs, por exemplo, chegou a sugerir que o produto seria tão importante quanto o PC; John Doerr, capitalista de risco, previu que a Segway Inc. seria a empresa mais rápida da história a faturar US$ 1 bilhão em vendas.

Com giroscópios internos que “detectavam” a direção que a pessoa queria seguir, o Segway PT, movido a bateria, poderia atingir velocidade máxima de 16 quilômetros por hora. Prático e inovador à época, tratava-se de uma solução que por algum tempo foi muito bem vista. Para Kamen, o produto ofereceria uma solução para o velho problema da “última milha” do transporte público e poderia conectar pessoas de estações de trem e pontos de ônibus a suas casas ou escritórios. Ele esperava vender 10 mil veículos por semana.

Homem e mulher testando veículo Segway PT em rua
Com duas rodas e velocidade de até 16 km/h, o Segway PT era considerado um dos veículos mais promissores dos anos 2000. (Fonte: Shutterstock)

No meio dessa rota de sucesso havia uma série de pedras a serem contornadas. Uma delas dizia respeito a questões de segurança, que passaram a contribuir para a má fama da invenção.

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O presidente George W. Bush, por exemplo, sofreu uma queda enquanto andava de Segway, e o incidente ficou famoso, levantando preocupações. Mas a mais trágica história foi a do chefe da Segway, Jimi Heselden, que comprou a empresa de Kamen em 2009 e morreu um ano depois quando o veículo que pilotava despencou de um penhasco.

Alternativa cara

Além da má fama, o Segway PT enfrentou, desde o início de sua fabricação, problemas relacionados ao preço. A distribuição era feita mediante um sistema convencional de venda, e, na época, quem quisesse pilotar um precisaria desembolsar US$ 5 mil; mais adiante, o veículo chegou a custar US$ 10 mil.

Nada acessível, a novidade vendeu apenas 140 mil unidades. Por ser tão cara quanto um carro usado e ter poucas vantagens práticas com relação a bikes e scooters, foi sendo deixada de lado. No fim das contas, a maior fonte de receita da Segway Inc. eram parcerias institucionais com organizações como correios, Amazon e departamentos de polícia locais.

Falta de estrutura para a micromobilidade

Pessoas utilizando o veículo Segway PT
A falta de infraestrutura para a circulação do Segway PT foi um dos empecilhos para seu sucesso. (Fonte: Shutterstock)

A empresa pode ter acertado na ideia de apostar em um veículo ágil e eficaz, mas falhado por não enxergar como dar acesso à proposta. Hoje, o compartilhamento de scooters e bikes fomenta um terreno fértil nesse sentido — pena que tarde demais para alimentar o velho sonho do Segway PT. Se hoje os incentivos e a atenção para micromobilidade têm crescido, na época do surgimento da invenção de Kamen o cenário era bem diferente, o que contribuiu bastante para a decadência do modal.

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Um dos aspectos mais desafiadores para a circulação era a precariedade da infraestrutura de bicicletas e pedestres. A regulamentação excessiva era outro entrave. Inúmeras cidades dos Estados Unidos, como São Francisco, baniram completamente o veículo; na Europa, regiões turísticas, como Barcelona (Espanha) e Praga (República Checa) adotaram proibições parciais.

O interessante é que todos esses debates provenientes do surgimento do Segway PT precederam pautas relativamente recentes ligadas à demanda de melhor infraestrutura e regulamentação mais eficiente de bikes compartilhadas. Conforme menciona um artigo publicado no portal CityLab, da Bloomberg, assim como em 2001, hoje o planejamento de transporte nos EUA ainda privilegia os carros perigosos em detrimento de pedestres, ciclistas e usuários de scooters.

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Mais do que nunca, esse cenário precisa ser repensado: em meio a uma pandemia que tem impulsionado o boom da bicicleta e de serviços de patinetes compartilhados, ruas mais seguras são urgentes. Sem essa transformação, soluções novas, como scooters, estão destinadas a seguir o caminho do Segway. Se a invenção por um lado foi um fracasso, por outro precedeu uma pauta fundamental à micromobilidade. Valeu a lição.

Fonte: CityLab/Bloomberg

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