Columbia, em Maryland (Estados Unidos), é uma cidade planejada que manteve muito das suas características originais. Agora, a cidade tenta crescer sem botar em risco suas características de cidade-jardim
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Columbia é uma comunidade planejada localizada no Estado de Maryland nos Estados Unidos. Ela fica entre as regiões metropolitanas de Baltimore e Washington. De acordo com o censo de 2020, Columbia, à época, contava com pouco mais de 100 mil habitantes.
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Inaugurada em 1967, a cidade tem uma história inusitada: foi planejada para eliminar as subdivisões de terrenos (como muros e portões) e os preconceitos racial e religioso, bem como a segregação de classes.
James W. Rouse, ideólogo e criador do projeto, sonhava que empresários bem-sucedidos e faxineiros vivessem tranquilamente nos mesmos complexos habitacionais da cidade. Após várias negociações com os condados locais, Rouse adquiriu cerca de 5.665 hectares de terra e começou a desenvolver o projeto de uma cidade planejada.
A ideia principal era construir pequenas vilas, constituídas com casas e apartamentos, em volta de shoppings, escolas, igrejas e parques com caminhos que interligassem esses pontos e pudessem ser percorridos a pé. No centro de tudo, ficaria o distrito de escritórios e opções culturais, e as vilas ao redor teriam características de parques, com grandes áreas verdes.
Até hoje algumas das características da cidade são louváveis e fazem do local uma opção muito procurada para se morar. Mais de 160 quilômetros de calçadas para pedestres interligam diversos parques e lagos bem-preservados, e o sistema escolar da cidade é considerado ótimo.
A posse das propriedades da cidade também são bem diversificadas para o panorama norte-americano: 54% dos proprietários são brancos, 27% afrodescendentes, 13% asiáticos e 9% são de origem latina. Porém, alguns desafios foram surgindo ao longo dos anos, e agora novos planos são feitos para que a cidade cresça mantendo o que tem de bom.
Um dos principais problemas em Columbia é o deslocamento para quem precisa trabalhar no centro. Aqueles que não têm empregos nas vilas precisam enfrentar um labirinto de ruas sem saída e grandes avenidas para chegar ao centro.
Isso, somado à falta de opções de transporte público, fez a cidade se tornar altamente dependente de carros. Apenas 6% das casas de Columbia não têm um veículo particular à disposição, ou seja, mais da metade tem dois veículos e 16% têm três ou mais.
Sem um aeroporto e ligação direta com as ferrovias, os habitantes dependem dos carros. Uma das soluções discutidas é criar uma linha de bus rapid transit (BRT) que ligue a cidade até os pontos de trem próximos e façam o transporte até o aeroporto de Baltimore. Nesse sentido, os BRTs ou os veículos leves sobre trilhos (VLTs) podem ser as soluções para o deslocamento dentro da cidade também.
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Em 2010, foi traçado um plano de 30 anos para o desenvolvimento da cidade. Nele, estão alguns dos princípios que balizaram a fundação do empreendimento, como montar conjuntos habitacionais próximos a outros estabelecimentos que permitam fazer tudo que precisam mediante curtas distâncias.
Muitas das novas construções estão perto de trilhas e de prédios comerciais. Essa nova proposta tem atraído negócios e escritórios que querem fugir das grandes cidades, seja pelo preço, seja pela qualidade de vida.
Após a pandemia, a cidade tem sido muito procurada por trabalhadores que adotaram o home office. A possibilidade de viver em centros menores, com opções de lazer e restaurantes próximos, tem atraído as novas gerações.
Algumas legislações também tentam fazer com que o preço dos imóveis não dispare. Por exemplo, em 2016 uma emenda fez que um dos planos de crescimento do centro da cidade mantivesse 15% das 6.250 novas unidades, com preços voltados para moradores de renda moderada ou baixa.
Alguns dos críticos dos projetos sublinham o fato de que não adianta existir imóveis mais baratos se essa população – que não consegue adquirir e manter carros – não tem acesso ao centro da cidade, onde estão os empregos.
Para eles, é preciso que o novo planejamento do centro da cidade leve essas questões de mobilidade urbana, transporte público e acessibilidade a sério. Caso contrário, existe o risco da comunidade virar apenas uma junção de subúrbios que, com o tempo, serão voltados para os mais ricos.
Resta saber se os novos planos e projetos conseguirão manter a visão original e criar uma cidade com menos divisões físicas e sociais.
Fonte: Bloomberg, The Baltmore Sun, Greater Washington.