Conciliar turismo, circulação e preservação é o desafio de muitas cidades que têm sua economia baseada na visitação de áreas históricas
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Quando a cidade de Roma começou a construir sua nova linha de metrô, a C-Line, inaugurada em 2018, já imaginava encontrar surpresas pelo caminho. Afinal, escavar uma região cuja história é riquíssima não é uma tarefa fácil.
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De fato, as surpresas vieram. Em 2016, escavando quase 10 metros abaixo do nível da rua, bem ao lado do Coliseu (onde será inaugurada a estação Amba Aradam), os trabalhadores encontraram um complexo gigante com 39 quartos. Especula-se que o local serviu como base militar para a poderosa Guarda Pretoriana.
Mais tarde, foi descoberto outro local importante: a casa do comandante da guarda, que ostentava 14 quartos, uma área central e uma fonte, além de uma casa de banhos.
A obra é essencial para melhorar a circulação de moradores e turistas em um dos sítios históricos mais visitados da Itália, mas, ao mesmo tempo, como não preservar uma área tão valiosa? A solução encontrada pela administração municipal foi a de transformar a estação de metrô em um museu.
Com previsão de inauguração para 2021 — possivelmente, alterada agora pela pandemia —, a estação Amba Aradam deve se tornar uma das estações de metrô mais belas do mundo, tornando-se uma atração turística.
Nem toda cidade histórica tem a sorte e o cuidado desse novo metrô de Roma, onde mobilidade e turismo dialogam com perfeição. Fora do subsolo, regiões mais visadas pelos viajantes costumam estar cercadas tráfego intenso, prejudicando não apenas a experiência do passeio, mas também a estrutura urbana.
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Nesse sentido, a Itália tem também muita experiência para compartilhar. Boa parte das soluções que o país adota segue justamente a lógica da nova linha de metrô de Roma: tornar a mobilidade parte do turismo, não acessório para chegar até o local de visitação.
Na maior parte das cidades turísticas do país, a circulação de veículos é limitada, e algumas regiões de algumas cidades, como Roma e Milão, aceitam somente a entrada de moradores. A prática garante menos poluição visual e sonora, mas também incentiva os visitantes a caminhar ou contratar um motorista local para chegar a seu destino.
O efeito colateral é ecológico: a atividade turística é responsável por 5% das emissões anuais de CO2, de acordo com o relatório da World Trade Organization de 2012.
Em abril deste ano, quando a Itália sofria com a pandemia de coronavírus, Milão decretou, como parte de seu lockdown, uma medida que limitava a circulação de veículos automotivos na cidade. Agora que o isolamento social afrouxou, o objetivo da administração local é que os longos congestionamentos e a lotação intensa do metrô não retornem da quarentena.
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Em declaração para a imprensa, o vice-prefeito de Milão, Marco Granelli, apresentou um plano para transformar 35 quilômetros de ruas e avenidas em vias para ciclistas e pedestres. O planejamento se chama Strade Aperte (Estradas Abertas) e quer realocar as vias introduzindo o espaço para a micromobilidade.
É claro que mesmo em um país com estrutura vigorosa existem desafios. Um relatório da Comissão Europeia verificou que, em 2019, o volume de passageiros entrando e saindo da Itália por meio das companhias nacionais foi de 915.663 milhões. O problema é que 91,86% dessas pessoas chegavam de carro ou ônibus pelas estradas.
Para tentar equilibrar o uso dos modais, a Itália vem investindo desde então na divulgação e no incentivo do uso de outras estruturas (como os metrôs e as ferrovias) com ações para facilitar a integração e de incentivos financeiros para o uso desses modais.
Fonte: Urban Hub, Smithsonian Magazine, Forbes, Research Gate.
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