A camada de ozônio protege a vida na Terra dos efeitos do Sol, de modo que sua possível destruição mobilizou uma ação global jamais vista
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A camada de ozônio — e sua possível destruição — são assuntos recorrentes na sociedade e na mídia desde meados dos anos 1980. Mas as razões para tanto debate e preocupação ainda não são muito nítidas para grande parcela da população: afinal, qual é a função da camada de ozônio e quais os perigos do buraco?
Para entender essa questão, podemos pensar em um dia de sol na praia: todo mundo precisa passar protetor solar para evitar a ação nociva dos raios solares, não é mesmo? Em casos mais graves, a radiação pode causar queimaduras e câncer de pele. Pois bem: a camada de ozônio funciona como uma espécie de “protetor solar natural” para toda a vida na Terra.
Por isso os buracos preocupam tanto: se essa camada for destruída, a vida como conhecemos está gravemente ameaçada.
A camada é composta de moléculas de ozônio (O3) e está localizada entre a troposfera e a estratosfera, a cerca de 20 km a 35 km da superfície. Esses gases impedem a passagem de boa parte da radiação ultravioleta vinda do Sol, como os raios UVC e UVB, mais nocivos. Desse modo, como dito, eles funcionam como um protetor solar da natureza.
A questão é que, mesmo sendo um protetor poderoso e indispensável, o ozônio também é um protetor frágil. Entre os anos 1970 e 1980, cientistas descobriram que os clorofluorcarbonetos — conhecidos como gases CFC, popularmente — são capazes de diminuir a concentração de ozônio em certas regiões da camada. Isso porque o cloro quebra a molécula de O3, formando óxido de cloro e oxigênio (O2). Posteriormente, átomos de oxigênio isolados quebram o óxido de cloro, gerando uma reação em cadeia — destruindo mais ozônio, em resumo.
O problema é que a humanidade liberou muito gás CFC na atmosfera, ao longo do século XX: esse gás era usado em aerossóis, sprays, geladeiras e condicionadores de ar, por exemplo. O buraco na camada de ozônio já estava saindo de controle quando foi descoberto, em meados dos anos 1980.
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É importante compreender que o problema na camada de ozônio não é estático: um buraco que se abriu e precisamos fechar, simplesmente. Ele se abre na primavera no Hemisfério Sul, conforme as condições climáticas favorecem as reações químicas descritas anteriormente.
Ali por novembro ou dezembro, com a aproximação do verão, ele se fecha novamente — isto é, até a próxima primavera, claro. Em 1985, uma expedição científica à Antártica descobriu que, a cada ano em que o buraco se abria, ele ficava maior.
Esse processo precisava ser revertido de forma urgente — senão, em primaveras futuras, o ozônio iria se dissipar em moléculas de óxido de cloro e oxigênio por áreas muito maiores que a Antártica. Nossa proteção estaria ameaçada, com consequências catastróficas. Para piorar o prognóstico, a vida útil do CFC na atmosfera é muito longa: de 50 a 150 anos, de modo que o gás lançado em anos anteriores vai se acumulando, gerando buracos maiores.
Na época, os cientistas que participaram dessa expedição na Antártica fizeram coletivas de imprensa e contribuíram para que o assunto dominasse o noticiário, entrando até na cultura popular. Com isso, os líderes precisaram tomar uma atitude — gerando uma ação global em conjunto sem precedentes.
Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, determinando ações para proteção da camada de ozônio — a principal delas sendo a substituição do CFC por outros gases, na indústria. Esse foi o primeiro documento ratificado por todos os países membros da Organização das Nações Unidas, entrando em vigor em 1º de janeiro de 1989.
A partir disso, o consumo de gases CFC em todo o mundo diminuiu drasticamente — embora, como sabemos, ainda exista muito daquilo que foi liberado antes de 1989. De todo modo, os buracos anuais pararam de crescer e os cientistas acreditam que a camada de ozônio entrou em um lento processo de recuperação. Estima-se que, até 2060 ou 2065, ela deva retornar a níveis pré-1980.
Contudo, esse processo depende de variações anuais e das condições climáticas que podem favorecer as reações químicas. Em 2020, por exemplo, o buraco foi o maior e mais duradouro dos últimos anos, fechando-se apenas no final do ano — mesmo que, em 2019, o mundo tenha comemorado um dos menores buracos da história. O cuidado precisa ser mantido, com todas as mudanças possíveis para proteger o planeta.
Fonte: Vox, Nações Unidas.