No debate de especulação imobiliária e qualidade de vida, uma boa vista da janela também pode oferecer retorno financeiro para os investidores
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A verticalização permite que o número de imóveis e pessoas aumente sem que a área urbana precise crescer na mesma proporção. Contudo, a verticalização exagerada, impulsionada pela especulação imobiliária, gera outro problema: a falta de acesso à vista da cidade e até mesmo à luz do sol.
Os imóveis em que as janelas são viradas para outros prédios — inclusive para as janelas dos vizinhos — são cada vez mais comuns nas grandes metrópoles. Isso impacta a saúde física e mental das pessoas, além de gerar questões práticas, como a falta de privacidade e a necessidade de luz artificial.
O fenômeno dos imóveis “janela com janela” inspirou a interessante série Conhecidos de Vista, da fotógrafa brasileira Letícia Lampert, que conquistou vários reconhecimentos internacionais, como o Prêmio Verger.
Embora seja comum a sensação de que uma janela virada para outros prédios é desagradável e que uma vista ampla para a cidade ou a natureza é mais interessante, a especulação imobiliária pode ignorar essas demandas para aproveitar o máximo dos espaços disponíveis para construção. Em contrapartida, estudos comprovaram que manter uma vista privilegiada em um imóvel tem o potencial de valorizá-lo financeiramente.
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Uma pesquisa norte-americana submetida à revista científica Landscape and Urban Planning chegou à conclusão de que os imóveis comerciais em Manhattan (EUA) podem valer 6,3% a mais se tiverem acesso a boas vistas e 5,3% mais se receberem luz do sol.
Para chegar a esse resultado, a equipe contabilizou as coisas que uma pessoa poderia ver de determinado ponto na janela do prédio e calculou a área do local em que uma pessoa teria o mínimo de visão externa. Os números foram convertidos em uma porcentagem que determinou o acesso (baixo ou alto) do imóvel à vista externa.
Esses cálculos foram replicados para mais de 5,1 mil imóveis comerciais na ilha de Manhattan. Segundo o artigo, somente 16% das construções analisadas tinham boa vista, sendo que só 8% tinham “alto acesso à vista”. A equipe também cruzou os dados da vista com os preços, filtrando variáveis como áreas comuns, localização e conservação, para isolar a influência da vista nos valores.
Porém, como explica Eric Jaffe, jornalista especializado em Mercado Imobiliário, a pesquisa não analisou a qualidade da vista, apenas a quantidade. Se a vista era somente para outros prédios ou para o Central Park, não importava. Desse modo, uma vista realmente bonita pode gerar um valor muito maior que os 6,3% da média publicada.
Outro estudo, de 2004, analisou 5 mil casas na região de Auckland (Nova Zelândia). O artigo apresenta dados muito interessantes, como a indicação de que a vista para cursos d’água valoriza um imóvel em 59%, enquanto outras construções atrativas na vizinhança geram 37% mais valor. As vistas mais próximas, como jardins, contribuem com 27%.
Em resumo, além do ganho em qualidade de vida, investir em uma boa vista pode ser benéfico até para a especulação imobiliária, com imóveis mais valorizados. A grande questão é saber quem poderá pagar por esses benefícios sem que isso gere problemas como a gentrificação.
Fonte: Sidewalk Talk, Science Direct, SagePub