Entenda por que o modal tem sua importância questionada em relação à sustentabilidade
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As vendas globais de carros elétricos alcançaram 1,1 milhão de unidades no primeiro trimestre de 2021, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). O crescimento foi impulsionado pelo endurecimento dos padrões de emissões de CO2 na China, na Europa e nos Estados Unidos.
Somente em 2020, os governos desembolsaram cerca de US$ 13 bilhões em subsídios para a compra dos veículos movidos a eletricidade, o equivalente a cerca de 10% dos gastos totais para aquisição desses carros — e a ajuda governamental para popularizar a tecnologia parece estar apenas começando.
Apesar disso, a importância do papel dos veículos motorizados na mobilidade urbana sustentável tem sido questionada por especialistas. Os carros elétricos não oferecem uma solução suficientemente necessária para reduzir a pegada de carbono nos transportes. Os modais não motorizados, como bicicletas, são uma alternativa mais eficiente, segundo Christian Brand, professor associado em Transporte, Energia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford.
Os veículos com motores elétricos, sem dúvida, emitem menos poluentes do que os carros à combustão. De acordo com Alexandre Milovanoff, pesquisador de transporte sustentável da Universidade de Toronto, um veículo elétrico produz apenas um terço das emissões de um carro a gasolina. Porém, isso não significa que a emissão de carbono dos carros elétricos seja zero.
As emissões de gases de efeito estufa são criadas nas atividades de mineração, fabricação, transporte e reciclagem das peças que compõem cada veículo eletrificado. Um Tesla Model 3, por exemplo, emite o equivalente a 16,5 toneladas de dióxido de carbono ao longo de uma vida inteira, calcula Milovanoff.
Além disso, a geração de eletricidade, em grande parte, ainda depende de combustíveis fósseis. Em 2019, cerca de 64% da eletricidade gerada no mundo veio dessas fontes, de acordo com a Revisão Estatística da Energia Mundial realizada pela companhia British Petroleum (BP). Enquanto isso, as energias renováveis responderam por apenas 10,4%.
Dessa maneira, substituir a frota de veículos fósseis por elétricos, como propõe Joe Biden com todos os carros do governo dos Estados Unidos, apenas diminuirá o ritmo de poluição atmosférica, mas não é um meio eficaz para alcançar a emissão líquida zero — cenário considerado ideal para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, liderada por Christian Brand, observou as viagens cotidianas de cerca de 4 mil pessoas vivendo em Londres, Antuérpia, Barcelona, Viena, Orebro, Roma e Zurique durante dois anos.
A conclusão do estudo foi que o aumento na mobilidade ativa, mesmo em zonas urbanas europeias que já apresentam altas taxas de caminhada e ciclismo, trazem benefícios significativos quando o assunto são as emissões de carbono.
Segundo a pesquisa, as pessoas que pedalaram diariamente tiveram 84% menos emissões de carbono em todas as suas viagens diárias do que aquelas que não o fizeram.
Brand e sua equipe compararam o ciclo de vida de cada modo de viagem, levando em consideração o carbono gerado ao abastecer o veículo e descartá-lo. Os pesquisadores descobriram que as emissões de bicicletas podem ser mais de 30 vezes menores para cada viagem do que dirigir com um combustível fóssil de carro e cerca de dez vezes menor do que dirigir um elétrico.
Fonte: Reuters, IEA, Stuff, British Petroleum, Global Environmental Change, The Conversation, Transportation Research Part D: Transport and Environment.