Favela ou comunidade: qual é o termo correto?

6 de junho de 2022 4 mins. de leitura

Entenda os debates acerca dos termos “favela” e “comunidade”

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Favela” é um termo com significado em disputa. A palavra surgiu para designar as construções irregulares e improvisadas no contexto da Guerra de Canudos (1896-1897), quando grupos de soldados improvisaram moradias em alguns locais, como no Morro da Favela, que tinha esse nome devido à abundância da planta Cnidoscolus quercifolius, chamada popularmente de “favela” por produzir sementes em forma de favo.

Os soldados que retornaram ao Rio de Janeiro ficaram sem o soldo e se instalaram novamente em construções improvisadas. Logo, o termo começou a ser utilizado para definir o tipo de moradia que já existia nos morros do Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, a palavra “favela” e o uso de “favelado” para designar seus moradores foram ganhando uma série de significados pejorativos. O termo era, inclusive, uma estratégia para segregar as populações periféricas, como se morar na favela rebaixasse seus residentes.

Rocinha é a maior favela do Brasil, com população estimada entre 70 e 120 mil pessoas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Rocinha é a maior favela do Brasil, com população estimada em 120 mil pessoas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

O estigma do termo “favela”

Esse tópico é objeto de muitos estudos, como o dos pesquisadores Rafael Melo Pereira, Carolina Lescura de Carvalho Castro e Bernardo Lazary Cheibub, publicado na Revista Brasileira de Estudos do Lazer, que analisou a preferência de moradores, líderes comunitários e agentes de turismo do Morro de Santa Marta (RJ) em relação os termos “favela” e “comunidade”.

Muitos dos moradores disseram associar o termo “favela” a violência, tráfico de drogas, caos urbano e falta de respeito pelo espaço. Quem têm essa percepção costuma preferir que as regiões sejam designadas como comunidades, que dão a impressão de organização e camaradagem, algo que todos afirmam existir nesses locais.

O próprio governo do Rio de Janeiro parece ter adotado essa estratégia de “suprimir” o termo “favela”. Durante campanhas políticas nos anos 1990 e com a “pacificação” em alguns morros, termos como “bairros”, “comunidades” e “ex-favelas” foram utilizados para se referir às regiões em que o poder público conseguiu maior controle e criou melhor infraestrutura.

A impressão é que a mídia e o poder público promoveram o termo “comunidade” como forma de diminuir o estigma atrelado às favelas e de tornar os moradores mais integrados à cidade.

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Ressignificando as favelas

Muitos moradores e líderes comunitários, porém, criticam a negação do termo “favela”. Para eles, mais importante do que tentar renomear as favelas é dar dignidade aos moradores e visibilidade para suas reivindicações.

André Fernandes, jornalista, fundador e diretor da Agência de Notícias das Favelas (ANF), escreveu sobre como as localidades que têm demandas atendidas pelo poder público não simplesmente deixam de ser favelas. Sua história e a história de vida dos moradores vão sempre estar atreladas às dificuldades que passaram por estarem historicamente à margem da sociedade, sem receber seus direitos como cidadãos. Tentar apagar a palavra “favela”, seria, portanto, uma tentativa de apagar as lutas e as conquistas de seus moradores.

Vale ressaltar que, em diversas pesquisas, o termo “comunidade” surge como eufemismo, uma tentativa dos próprios moradores de rejeitar ou diminuir as noções negativas que são historicamente colocadas nas favelas.

IBGE estima que no Brasil 5,1 milhões de domicílios nas mais de 13 mil favelas do país. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
IBGE estima que no Brasil existem 5,1 milhões de domicílios em mais de 13 mil favelas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A discussão é complexa e envolve mais do que definir o termo “correto”. Infelizmente, as favelas, além de todos os problemas de estrutura urbana e de acesso a serviços públicos, precisam enfrentar o preconceito e o estigma. Os moradores precisam ser reconhecidos como cidadãos que têm mais dificuldade em realizar as tarefas da vida cotidiana pelo descaso do poder público e pelas heranças históricas.

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Fonte: Revistas UFRJ, Periódicos UFMG, PUC RIO, ANF, Circulando Aqui, Wiki Favelas, Rio Watch.

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