Entenda como a substituição de combustíveis fósseis por energia renovável é possível
Publicidade
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, abriu a COP-27 com uma fala alarmante: “Estamos em uma autoestrada para o inferno climático, com o pé no acelerador”. Segundo ele, países não podem continuar ignorando os avisos de cientistas sem respeitar metas ambientais definidas.
Um dos principais entraves continua sendo a poluição; nas cidades, os grandes responsáveis por ela são os meios de transporte. A dependência dos combustíveis fósseis nos modais de transporte rodoviário é um problema conhecido, mas será que as energias renováveis já são substitutos possíveis? Conheça as vantagens e as desvantagens das alternativas de energia renovável para os transportes.
Leia também:
Biocombustíveis são aqueles provenientes de biomassa, composta de restos de matéria orgânica, em que a matéria-prima é renovável, diferente dos combustíveis derivados do petróleo e do gás natural. Esses produtos são considerados energia limpa porque a queima deles produz uma quantidade quase nula de gases nocivos ao meio ambiente quando comparada aos combustíveis fósseis. Além disso, é uma energia renovável, pois a matéria-prima pode ser plantada.
O Brasil tem grande potencial de produção de biocombustíveis, sendo a cana-de-açúcar protagonista na produção de etanol, enquanto produtos com base em óleo vegetal dão origem ao biodiesel.
Apesar das qualidades, a grande aposta em biocombustíveis pode gerar outros problemas ambientais. As plantações de matéria-prima requerem boa quantidade de água, recurso cada vez mais escasso. Além disso, muitas terras destinadas à monocultura causam problemas de esgotamento do solo e, consequentemente, a necessidade do uso de agrotóxicos.
Outro problema grave e pouco abordado é que a maior procura por produtos vegetais que gerem biomassa e etanol pode ocasionar desmatamento. A competição pela matéria-prima pode levar produtores a derrubar áreas de florestas para as dedicar a monoculturas, por exemplo.
Veículos movidos a motores elétricos têm sido vistos como a solução para o meio ambiente. Com as grandes cidades pensadas e desenvolvidas para receber veículos particulares, os carros elétricos parecem a evolução natural, já que não emitem gases poluentes nem causam poluição sonora.
Apesar dos avanços nas vendas, os veículos elétricos ainda são um sonho distante para a maioria dos consumidores, tendo boas vendas apenas na Europa e nos Estados Unidos. O principal problema dos elétricos diz respeito à matriz energética dos países que abastecem as baterias e ao processo produtivo dos veículos, pois eles podem não ser tão eco-friendly assim.
Um estudo divulgado pela Volvo afirmou que um carro elétrico pode ser até 70% mais poluente do que os modelos a combustíveis fósseis. Isso acontece quando a matriz energética dos países não é renovável, então as frotas elétricas consumiriam mais energia poluente, zerando os benefícios ambientais e até poluindo mais do que carros que usam gasolina.
Outro problema para a indústria de veículos elétricos é a pegada de carbono durante a construção dos produtos. O estudo The Life Cycle Energy Consumption and Greenhouse Gas Emissions from Lithium-Ion Batteries, da Administração dos Transportes da Suécia em conjunto com a Agência Energética da Suécia, mostrou que fabricar uma bateria de lítio para um carro elétrico emite tanto dióxido de carbono (CO2) quanto um carro a gasolina rodando por 8 anos.
Nesse caso, o gargalo é novamente a matriz energética dos países. Se elas fossem de fontes renováveis, esses números seriam reduzidos e até zerados, mas a Europa, principal mercado de carros elétricos, ainda tem 60% da matriz energética dependentes de combustíveis fósseis.
As baterias também se tornam um problema após o fim da vida útil. A reciclagem delas é considerada difícil, e poucos países têm tecnologia para a realizar de forma completa. A maioria acaba reciclando alguns elementos e descartando outros, que são poluentes, tóxicos e até inflamáveis.
Como se pode notar, a mera substituição do combustível fóssil por biocombustíveis ou veículos elétricos pode mitigar problemas ambientais, mas não resolvê-los. Por isso, as discussões mais modernas sobre mobilidade urbana apontam a necessidade de repensar o uso de veículos individuais e as distribuições do espaço nas metrópoles.
Cidades menos poluentes, como Estocolmo (Suécia), Copenhague (Dinamarca) e Amsterdã (Holanda), têm boas estruturas urbanas que priorizam a mobilidade ativa, como andar a pé e de bicicleta. Para isso, é preciso que as pessoas possam chegar ao trabalho, ao local de estudo ou lazer em distâncias razoáveis. Isso passa por repensar as distribuições de centros urbanos e realizar uma ocupação mais democrática da cidade, combatendo a gentrificação e as desigualdades socioespaciais.
Fonte: Portal Solar, Mundo Educação, Akatu, BlueSol, Transport & Environment, energimyndigheten, Euronews