Gentrificação e filtragem: conheça a diferença entre os fenômenos

26 de julho de 2022 5 mins. de leitura

Processos de ocupação e desocupação de imóveis em grandes cidades são comuns

Publicidade

Conheça o maior evento de mobilidade urbana do Brasil

O desenvolvimento das cidades é marcado por uma série de dinâmicas migratórias e de ocupação de moradias. Com o tempo, algumas disciplinas, como Sociologia e Arquitetura e Urbanismo, criaram ferramentas para compreender melhor os movimentos de pessoas que acontecem nesse fenômeno que são as grandes cidades capitalistas.

Nesse sentido, entre os conceitos que surgiram para explicar essas novas realidades, estão a gentrificação e a filtragem. A seguir, entenda o que eles significam.

Gentrificação

A gentrificação ocorre quando a população de determinado bairro ou localidade é substituída por outra mais rica. Isso ocorre quando a referida localidade ganha um status, seja por obra do Estado, que realiza processos de melhoria, seja por um processo “natural”, com a chegada de novos contingentes populacionais mais ricos em busca de preço baixo de aluguéis ou de imóveis.

Gradativamente, os recém-chegados começam a exigir serviços, comércios e até obras do poder público para valorizar a área, o que encarece o custo de vida e obriga a população original daquela localidade a ir em busca de outras áreas, normalmente mais periféricas, em que o custo de imóveis, aluguéis e serviços seja mais barato.

O termo “gentrificação” foi cunhado pela socióloga britânica Ruth Glass, que descreveu o fenômeno acontecendo em vários bairros tradicionalmente habitados por classes operárias. A palavra vêm do inglês gentry, que significa “relativo à nobreza”.

Bairros tradicionalmente habitados pelas classes operárias de Londres sofreram tamanha valorização que tornou impeditiva o custo de vida dos moradores originais. (Fonte: Unsplash/Reprodução)
Bairros tradicionalmente habitados por classes operárias de Londres sofreram tamanha valorização que aumentou o custo de vida dos moradores originais. (Fonte: Unsplash/Reprodução)

Segundo o arquiteto e urbanista Guilherme David dos Santos Viana, autor da dissertação Processos de Gentrificação, defendida na Universidade de São Paulo (USP), o termo “gentrificação” teria sido mais bem traduzido pelas palavras “elitização” ou “enobrecimento”. Isso porque estas expressariam melhor o movimento de encarecimento do espaço físico que acontece durante o fenômeno.

Assim, como afirma Carlos Ribeiro Furtado no artigo Intervenção do Estado e (re)estruturação urbana, a gentrificação é uma consequência do permanente processo de organização espacial, especificamente em um modelo capitalista (no qual os espaços são produzidos segundo os ditames da economia).

Filtragem

Entre as dinâmicas habitacionais das cidades, um movimento oposto à gentrificação foi observado: a filtragem. O conceito descreve o movimento no qual os imóveis e os empreendimentos inicialmente destinados a pessoas de classes sociais mais altas passam por desvalorização, seja do próprio imóvel, seja da localidade.

Com isso, as classes mais abastadas se mudam para novas localidades que oferecem os serviços e as comodidades desejadas. Os imóveis vagos são, então, ocupados por novas famílias de classes mais baixas que tentam adequar a própria moradia à situação financeira em que se encontra.

O processo tem esse nome porque as habitações filtram os moradores segundo a sua escala social e a deterioração de seu capital. Podemos notar que os dois fenômenos podem ser facetas de um mesmo movimento.

Um bairro com muitos imóveis vagos e baratos atraí um público que pode pagar por seus serviços. Com o tempo, esse bairro pode se valorizar, e as famílias que não subiram na escala das classes sociais pode precisar se mudar em busca de moradias mais baratas.

Leia também:

O processo de gentrificação ocorreu nos centros das maiores megalópoles, como Nova York, Chicago, Paris, Berlim, São Paulo e várias cidades de menor porte. Muitas dessas cidades criaram políticas de fixação de um teto para o valor do aluguel, a fim de impedir práticas predatórias de especulação imobiliária.

Cidade de Chicago também passou por intenso processo de gentrificação. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Cidade de Chicago também passou por intenso processo de gentrificação. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Apesar de o processo de gentrificação e filtragem também ser visto no Brasil e em outros países em desenvolvimento, as dinâmicas podem ser diferentes, uma vez que a maior taxa de desigualdade faz que muitas localidades comportem diferentes classes sociais.

Algumas cidades veem movimentos com a descentralização, em que as classes mais ricas começam a fugir do centro e criar uma série de pequenos centros em outras regiões, com a criação de condomínios, escolas de luxo e shoppings. Nesse sentido, o processo de filtragem pode recomeçar e dar início a um novo ciclo de deslocamentos urbanos.

Quer saber mais? Confira aqui a opinião e a explicação de nossos parceiros especialistas em Mobilidade.

Fonte: USP, Cad. Metrópole, Upjohn Institute, Caos Planejado, Política Livre, ArchDaily.

146551cookie-checkGentrificação e filtragem: conheça a diferença entre os fenômenos

Webstories