Ao vencer as eleições, Gabriel Boric anunciou que moraria em Yungay, bairro popular na região central da capital chilena
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O advogado e ex-líder estudantil Gabriel Boric fez história ao ser eleito presidente do Chile em dezembro de 2021. Tanto por ser o presidente mais jovem da história do país, aos 36 anos, quanto por romper uma alternância de poder entre os partidos estabelecidos de centro-direita e centro-esquerda. Depois, também quebrou o protocolo ao escolher sua nova casa, no bairro Yungay, uma região popular na área central de Santiago.
Diferente do Brasil e de outros países, o Chile não tem uma residência oficial para os seus presidentes — eles escolhem onde morar. O antecessor de Boric, Sebastian Piñera, continuou na rica mansão onde vivia antes de ser eleito. Michele Bachelet, a anterior, mudou-se por questões de segurança, mas também vivia em um bairro abastado na zona leste da capital.
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Em vez de um palácio construído apenas para receber autoridades com todo conforto ou uma mansão em um bairro abastado, o lar do novo presidente chileno é um antigo casarão que já foi um albergue, um centro médico e uma pizzaria.
O local tem 500 metros quadrados (m²) e recebeu todos os aparatos de segurança e conforto comuns a presidentes de países — mas, ainda assim, a mudança de Boric causou burburinho no país. A mudança, afinal, é simbólica para o novo governo.
Boric anunciou a intenção de se mudar para o bairro Yungay logo após sua vitória no segundo turno contra o conservador José Antonio Kast. Uma decisão coerente com seus discursos de quebrar padrões, nos quais ele fala de fazer reformas sociais progressistas, acabar com o capitalismo agressivo e diminuir as desigualdades sociais do país.
Vale observar que também é uma escolha inteligente em termos de mobilidade, pois, em Yungay, o presidente chileno está a três estações de metrô, meia hora de caminhada ou dez minutos de carro de seu local de trabalho, o Palácio de La Moneda.
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Como dito, a nova casa de Boric é um antigo casarão de 500 m² — assim como várias outras construções em Yungay. Este foi um dos primeiros bairros que surgiram em Santiago, criado no século 19 para abrigar a crescente burguesia do país recém-independente.
Yungay destoa de outros bairros centrais de Santiago, com prédios altos, por manter a arquitetura antiga, de casas baixas. Mas nem toda a arquitetura do bairro está conservada como a casa de Boric.
Isso porque, ao longo das décadas, a burguesia se mudou para os bairros mais altos, perto das montanhas que margeiam a capital e com grandes mansões distantes umas das outras.
Dessa maneira, é visível uma divisão bem clara na capital, a qual vai da Plaza Itália para baixo, simbolizando as desigualdades sociais que assombram o Chile há décadas.
Sendo assim, com o tempo, muitos casarões de Yungay se deterioraram, sendo tomados por pichações, ocupações irregulares e lixos nas calçadas. A criminalidade também aumentou em anos recentes, obrigando os comércios a fechar mais cedo, embora a arquitetura ainda faça da região um atrativo turístico.
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Se a intenção do novo presidente era transformar a região, ele parece estar conseguindo. Há mais policiamento nas ruas para proteger as autoridades, e isso afugentou traficantes. Lotes abandonados estão sendo limpos e sites de classificados relatam que a busca por imóveis na região aumentou 15%.
Moradores antigos entrevistados por agências de notícias estrangeiras, como Bloomberg, AFP e Reuters, afirmam que se sentem mais seguros e que a chegada do novo presidente já resolveu alguns problemas de Yungay.
Porém, teme-se que as melhorias sejam apenas temporárias: o mandato de Gabriel Boric será de quatro anos e não há reeleição no Chile. Rosario Carvajal, membro da Câmara Municipal e vizinha do presidente, sugeriu transformar o casarão na residência oficial dos próximos presidentes. Mas ela acredita que ninguém — além de Boric — aprovaria o local.
Fonte: Bloomberg, Reuters, Pauta CI.