Realizado em Chicago, estudo foi feito durante três anos e apresenta resultados que indicam riscos a construções sob e sobre o solo, sobretudo no meio urbano
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Para além das altas temperaturas provocadas pelo aquecimento global, um outro problema entre os vários apontados por especialistas está despontando nas pesquisas: a deformação do solo. Foi o que identificou Alessandro F. Rotta Loria, professor assistente de Engenharia Civil e Ambiental da Northwestern University, nos Estados Unidos, e que liderou as análises junto de sua equipe.
O estudo foi divulgado na revista científica Nature, de maior prestígio no meio acadêmico, e é considerado o primeiro do tipo a quantificar as deformações do solo causadas por “ilhas de calor subterrâneas” e seus efeitos na infraestrutura civil.
A análise ocorreu na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, em uma das regiões com maior densidade populacional, chamada de Loop, o centro financeiro da região.
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Na sua observação, Loria avaliou que a medida em que o solo esquenta de forma subterrânea, tudo ao redor, seja sob ou sobre ele, tende a colapsar em algum momento.
Uma vez que há uma deformidade do solo, as construções podem sofrer uma série de rachaduras que, por sua vez, tendem a evoluir para danos estruturais potencialmente graves em determinados casos, colocando em risco a integridade das edificações.
Entretanto, os pesquisadores alertaram que não se trata de algo que simplesmente irá colapsar da noite para o dia. Levará tempo; porém, vale se atentar desde já para prever, em construções atuais e que ainda serão erguidas, formas para tentar reverter o problema.
Sob o ponto de vista de quem conduziu a pesquisa, provavelmente o problema, apesar de ter sido identificado agora, não é recente, mas sim resultante das temperaturas acumuladas ao longo dos anos.
Dessa forma, não apenas os túneis pelos quais transitam os trens subterrâneos, como todas as construção no entorno e sobre eles podem estar em risco.
Apesar da má notícia, também foram apontadas soluções para atacar o problema e corrigi-lo antes que evolua. De acordo com informações da própria pesquisa, o mesmo calor que serve como risco, também pode ajudar a resolver o impasse.
Na visão de Loria, as altas temperaturas tendem a afetar as estruturas construídas desde que tenham centenas de anos. Já aquelas mais recentes terão menos impacto. A avaliação leva em conta as técnicas e as tecnologias utilizadas no passado e que foram se aperfeiçoando com a evolução da humanidade.
Dessa forma, para os pesquisadores, as construções do futuro precisam considerar tecnologias geotérmicas. É por meio delas que é possível coletar o calor residual emitido no solo e entorno e aquecer os ambientes. Ou, ainda, realizar isolamento térmico nas edificações existentes, minimizando a troca de calor entre os materiais usados, como o concreto, que retém calor, e o próprio solo.
Os pesquisadores identificaram que a argila presente no solo da cidade de Chicago é composta por uma granulação fina, contraindo-se quando atinge determinadas temperaturas.
Essa observação foi possível de ser concluída com a ajuda de 150 sensores de temperatura que foram instalados junto ao solo, em construções como túneis de trens subterrâneos, garagens e porões. A partir dos dados gerados durante os três anos de estudo, os pesquisadores conseguiram realizar as análises e torná-las públicas.
Por sua vez, analisaram que várias edificações estão passando por um processo chamado de assentamento, que é quando o peso da própria construção se acomoda e move-se, sem que ninguém perceba de fato. Isso porque esse processo é gradual e ocorre lentamente. Contudo, com o aquecimento, ele tende a acelerar.
Também chamado de “ilhas de calor subterrâneas”, o fenômeno vem ocorrendo há algumas décadas. Foi identificado na mesma pesquisa que o solo está aquecendo de 0,1 a 2,5 graus Celsius a cada dez anos.
Além de afetar os recursos hídricos e, consequentemente, gerar problemas de saúde nas populações que utilizam ou dependem da água derivada dos lençóis freáticos subterrâneos, a infraestrutura civil também é impactada, algo que até então era ignorado.
O problema, porém, restringe-se ao meio urbano, uma vez que os próprios materiais usados na construção civil, como o concreto, tendem a reter calor. Já na zona rural, a mesma questão parece ser inexistente.
A conclusão foi possível pois, ao mesmo tempo em que os pesquisadores analisaram as ruas da cidade de Chicago, também utilizaram a mesma estratégia e tecnologia para avaliar o solo de um dos grandes parques verdes presentes no local. Os resultados obtidos foram diferentes, servindo assim como parâmetro de comparação.
Fonte: Nature, Northwestern