Por que a Visão Zero nem sempre é efetiva?

21 de junho de 2022 4 mins. de leitura

Mais que incluir novos instrumentos, mudar o paradigma da mobilidade urbana exige priorizar outros modais

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Mais que um projeto, a Visão Zero é um modo de olhar para a cultura da mobilidade urbana. A ideia passa por reconhecer duas dimensões básicas: 1. nenhuma morte no trânsito é aceitável; 2. se os seres humanos são falíveis, o planejamento precisa reconhecer isso e criar dispositivos a partir de uma nova arquitetura.

Na Europa, esse paradigma demonstrou ser um sucesso, mas, nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo, mesmo os locais que apostaram nele não tiveram bons resultados. Isso levanta um debate sensível sobre a real viabilidade da Visão Zero: afinal, quais são os limites do modelo?

Confira mais do assunto e entenda onde estão os gargalos desse modo de ver o trânsito.

Por que nem sempre a Visão Zero é efetiva?

Mais que pensar em soluções integradas com o carro, a Visão Zero exige uma mudança na estratégia dos modais
Mais que pensar em soluções integradas com o carro, a Visão Zero exige uma mudança na estratégia dos modais. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A Visão Zero é uma determinação das Nações Unidas para formular estratégias para a mobilidade e, em alguns casos, tem seus pressupostos previstos em lei, como ocorre na Suécia desde 1997. Mas não adianta isso ser garantido no papel se, na prática, a sociedade não estiver preparada para rever seu modo de vida.

Os Estados Unidos dão uma aula sobre essa limitação. Com 329 milhões de pessoas, o país mais populoso do Ocidente tem uma frota de nada menos que 289,5 milhões automóveis. Isso representa 0,87 carro por estadunidense, incluindo crianças e idosos. E, mais que carros, o que preocupa é a cultura centrada no modal particular.

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Não é à toa que os festejados anúncios de adesão ao modelo Visão Zero na terra do Tio Sam não produziram efeitos perenes. Diversas cidades aprovaram programas relacionados: Chicago, em 2012; Nova York e São Francisco, em 2014; Los Angeles, em 2015. Mas o número de óbitos no trânsito continuaram crescendo, sobretudo entre pedestres.

Ao que tudo indica, a efetivação do Visão Zero não se trata de um modo melhor de se acomodar o carro no trânsito, mas de tirá-lo de circulação tanto quanto for possível. E os Estados Unidos e outros países “carrocentrados” demonstram não estarem prontos para isso.

Quais são as resistências que a Visão Zero enfrenta?

A cultura
A cultura “carrocentrada” atinge a população, os técnicos da área e os líderes que tomam decisões estratégicas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Em entrevista ao portal Bloomberg, Corinne Kisner, diretora-executiva da Associação Nacional de Funcionários de Transportes Urbanos dos Estados Unidos, disse observar três tipos de resistência à efetivação da Visão Zero. Veja quais são a seguir.

1. Adesão popular

Por mais disposto que esteja o poder público em mudar a mobilidade, há resistência no modo de vida da população. Diminuir a velocidade máxima, dividir a via com ciclistas e ver ruas virarem calçadas ativas não são exatamente medidas populares entre uma população que adora automóveis.

2. Adesão de governos

Com uma população conservadora e resistente a novos modais, o poder público tende a se comportar do mesmo modo. Assim, por mais que segmentos específicos pressionem para haver mudanças no sistema de transporte, a exemplo dos movimentos sociais ligados à ciclomobilidade, os líderes podem ser o gargalo da agenda Visão Zero.

3. Adesão técnica

Além da população e dos políticos, os técnicos da área podem ser um problema. Kisner sinaliza que engenheiros e outros modeladores de tráfego precisam ser sensibilizados para que a métrica não seja a experiência do motorista, como ocorre hoje, mas, em vez disso, parta do polo mais vulnerável: pedestres, ciclistas e outros agentes da mobilidade ativa.

Portanto, a Visão Zero precisa ser um esforço coordenado que saia das plataformas de campanha e ganhe o conjunto da sociedade. Também nesse aspecto a educação para o trânsito cumpre um papel fundamental.

Quer saber mais? Confira aqui a opinião e a explicação de nossos parceiros especialistas em Mobilidade.

Fonte: Bloomberg, Finances Online.

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