Cidades buscam soluções e recorrem à criatividade para se adaptar ao novo cenário
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A tecnologia tem sido uma poderosa aliada no desenvolvimento de novos meios de comunicação, além de contribuir com maior acesso à informação e promover a oferta de recursos de conectividade e segurança na mobilidade urbana que são cada vez mais eficientes.
Por outro lado, há inúmeras evidências que apontam como a forte presença dela no dia a dia pode afetar o comportamento das pessoas, fazendo do uso de celulares um vício cada vez mais comum. Tal condição tem motivado a realização de diversos estudos que mostram os efeitos nocivos na memória e na atenção da população.
Quando são considerados os impactos na mobilidade, esses danos são potencialmente perigosos, já que, além das ligações, o simples ato de escrever uma mensagem pode reduzir a atenção no volante de forma expressiva.
Como se não bastasse, os danos cognitivos também são percebidos após uma simples ligação, afetando o condutor por mais de 90 metros adiante quando o veículo se encontra a uma velocidade média de 100 quilômetros por hora, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Os acidentes de trânsito são um reflexo direto disso.
É importante destacar que esses impactos podem ser percebidos não apenas em motoristas, mas também em pedestres. Se por um lado há iniciativas que visam coibir o uso de smartphones ao volante com a aplicação de uma legislação menos tolerante, por outro lado há ações que buscam mitigar os riscos entre as pessoas que se deslocam a pé.
Como exemplo desse tipo de medida está a cidade de Yamato, no Japão, que propôs vetar o uso de smartphones ao caminhar, já que a atividade tem sido associada tanto ao aumento de colisões entre pedestres quanto de graves casos de atropelamento. A ideia foi aprovada em consulta pública e levada adiante, resultando na aprovação da “lei antismartphone” em 2020.
A cultura coletivista do país pode ajudar a de fato haver a aplicação da medida, que autoriza o uso dos aparelhos somente em locais que não interrompam o fluxo. Ainda assim, ampliar a compreensão do público sobre como uma simples notificação é nociva pode ser bastante desafiador, principalmente considerando o quanto a noção de vício é subestimada.
As interrupções provocadas pelas notificações em smartphones já são encaradas como tão prejudiciais quanto os efeitos percebidos durante o uso ativo do aparelho, resultando em falhas de atenção e atrasando a conclusão de tarefas, segundo um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida (Estados Unidos).
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Também há cidades que já encaram essa realidade como um ponto de partida para modificar a dinâmica dos deslocamentos a pé e buscam soluções alternativas com o objetivo de adaptar a sinalização a esse público mais específico e ter maior aderência.
A cidade de Chongqing, na China, está entre elas. Para tanto, adotou calçadas com divisão entre pedestres que usam e que não usam celular. Dessa forma, uma área fica reservada para pessoas que frequentemente se deslocam a uma velocidade mais lenta de caminhada e com a cabeça voltada para baixo, as chamadas “smombies”, ou zumbis de smartphone.
Além disso, foram implantados semáforos visuais no chão, visando facilitar que a luz colorida seja mais bem percebida pelos pedestres dentro do campo visual restrito, evitando a ocorrência de acidentes em meio à distração. A cidade sul-coreana de Seul também apostou nesse modelo adaptado de semáforo.
Conjuntamente, tais ações mostram o esforço tanto para se adaptar a um novo cenário quanto para reduzir a ocorrência de acidentes, evidenciando o quanto chamar a atenção de quem usa o celular pode exigir boas doses de criatividade. Ainda assim, provocar mudanças de comportamento em larga escala exige o emprego de investimentos constantes a médio e longo prazos.
Interessou-se pelo tema? Clique aqui para ler a matéria publicada pelo Estadão que aborda a adoção de semáforos no chão em diferentes cidades.
Fonte: Forbes, Estadão, Abramet, National Library of Medicine, Japan Times