Entenda como funcionaram os planos de desenvolvimento urbano para domar o crescimento assombroso de Nova York
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A Regional Plan Association (RPA) é uma organização não governamental que desenvolve planos urbanos para Nova York, New Jersey e Connecticut (EUA). Em 2022, a instituição completa 100 anos; ao longo de gerações, muitos de seus estudos e de suas sugestões ajudaram a moldar a maior megalópole dos Estados Unidos.
Revisitar os planos da RPA das décadas de 1920 e 1950 é como fazer um exercício de clarividência: muitas das pautas mais atuais de mobilidade urbana, como acessibilidade, foco no pedestre e criação de áreas verdes já estavam no cerne das discussões.
Isso não significa que tudo tenha sido realizado nem que os planos colocados em prática foram sempre um sucesso. A seguir, vamos analisar os principais projetos que ao longo de décadas ajudaram a moldar Nova York.
O planejamento municipal não surgiu como ciência ou área de estudo nos Estados Unidos até a virada do século 19 para o século 20. Na época, as regras de desenvolvimento das cidades eram de jurisdição dos Estados, o que impedia que houvesse regras nacionais mais claras. Nova York já era um ponto de ebulição e de convergência de imigrantes e era nítido que uma ordenação mais rigorosa no crescimento da cidade era necessária.
Após o fim da Guerra Civil, uma nova fase de crescimento econômico se deu nos Estados Unidos, e as elites de Nova York começaram a se preocupar em tornar a cidade mais “civilizada” e dar condições para que trabalhadores chegassem às fábricas e os produtos escoassem para portos e estradas com mais eficiência.
Nesse contexto, em 1922 surgiu o Comitê de Planejamento de Nova York e Adjacências e a Regional Plan Association (RPA). Na primeira reunião nasceu um documento considerado um marco para o planejamento urbano: o Regional Plan of New York and Its Environs.
Entre os principais feitos da época, estão a demarcação e a interligação planejada das principais rodovias com limite alto de velocidade, a criação de meios de transporte de massa (metrôs, ônibus e trens de superfície) e o planejamento de suas rotas, a configuração das hidrovias, a preservação de alguns pontos naturais, a criação de parques, o planejamento de desenvolvimento urbano por meio de linhas de trem e metrô e o zoneamento de indústrias e negócios.
Apesar dos avanços, houve muito debate no projeto. Alguns dos participantes criticaram o adensamento urbano do centro da cidade e o foco nas ruas e nos carros. Um dos planejadores preferia um sistema descentralizado com várias cidades-jardim, dizendo que o projeto como estava levaria a uma superpopulação que se adensaria por quilômetros — o que de fato aconteceu.
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Ao longo das décadas seguintes, muitas transformações sociais ocorreram. Talvez a principal delas tenha sido o baixo custo para adquirir um automóvel, o que levou as ruas a estarem quase sempre ocupadas e os congestionamentos a alcançarem recordes. Concomitantemente, empresas de trem e metrô tiveram o orçamento diminuído e a especulação imobiliária acentuou a desigualdade socioespacial e a formação de regiões metropolitanas.
Nesse contexto, a RPA lançou um segundo plano, com uma série de documentos que previam problemas que ocorrem até hoje nas grandes cidades. Também foi criado o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos (U.S. Department of Housing and Urban Development — HUD), órgão federal que pretendia unificar e pensar soluções para as cidades. Na época, a RPA começou a dar espaço para pessoas das comunidades e deixou de ser representada apenas por homens brancos.
Assim, muitos problemas foram abordados, e um deles foi como melhorar a integração dos deslocamentos das regiões mais afastadas com o centro, onde ficava a maioria dos empregos, e se deveriam ou não banir completamente os carros de Manhattan.
Apesar das ideias, pouco foi posto em prática nesse segundo momento, limitando a atualização de algumas linhas do transporte público.
Na década de 1990, houve uma terceira rodada de planejamento urbano. Depois das crises financeiras dos anos 1980, muitas áreas vizinhas ficaram abandonadas e muitos empregos foram perdidos. Em 1996 foi lançado o terceiro plano de desenvolvimento urbano, com um aporte de US$ 150 bilhões em investimentos que pretendiam recuperar a economia, o meio ambiente e o patrimônio local.
Com isso, projetos como a expansão das linhas de metrô, a transformação de áreas abandonadas em parques e os projetos de recuperação de empresas para geração de empregos foram colocados em prática. Essa última rodada de acontecimentos deu a cara atual do centro de Nova York.
Fonte: Bloomberg, New York Times, RPA, Fourth Plan, SPUR