Entenda o que é migração pendular e como esse movimento afeta a mobilidade urbana em todo o mundo
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A segunda metade do século 20 foi marcada por uma grande redistribuição da população pelo território do País. A rápida industrialização e o avanço de algumas fronteiras agrícolas delimitaram algumas áreas como o grande destino a ser alcançado em busca das oportunidades de emprego.
Tanto as migrações nacionais, em direção a Região Sudeste, quanto as locais, em direção aos principais centros urbanos, aceleraram nas décadas seguintes até chegar a um extremo nos anos 1980.
Foi na década de 1980 que o termo “migração pendular” foi cunhado para definir os deslocamentos realizados por grandes contingentes da população, que faziam dois grandes deslocamentos diários: a ida ao trabalho e a volta para casa.
Essa população recém-chegada de outras regiões do País fixava residência nos locais onde a moradia era mais barata, nas periferias e até mesmo em outras cidades da região metropolitana.
Nesse contexto, surgiu o conceito de “cidades-dormitório”, as cidades que serviam para abrigar moradores que trabalhavam na área mais urbanizada da região. Mas até que ponto esses conceitos idealizados há pelo menos 40 anos ainda dão conta de explicar a situação da mobilidade urbana atual?
Uma das primeiras atualizações dos conceitos realizada pelos especialistas é a preferência do termo “deslocamento pendular”, já que “migração” dá um sentido de saída da cidade. “Deslocamento” é um termo mais abrangente e consegue denominar também as parcelas da população que vivem nas áreas periféricas e precisam se deslocar para dentro dos limites da mesma cidade.
Apesar da ampliação do termo, as cidades-dormitório ainda são uma realidade. O artigo Movimento pendular e perspectivas de pesquisas em aglomerados urbanos, de Rosa Moura, Maria Luisa Gomes Castello Branco e Olga Lúcia C. de Freitas Firkowski, mostra que, nas principais regiões metropolitanas do País, cerca de 40% da população das cidades menores se deslocam para as capitais para trabalhar ou estudar.
Com a ampliação das cidades, é possível se deslocar por longos períodos dentro dos limites de um mesmo município. Segundo alguns estudos, habitantes das grandes cidades da América Latina chegam a gastar 50% do tempo que trabalham no deslocamento diário.
Estudos mais recentes dos deslocamentos pendulares mostram que eles não ocorrem mais apenas em um sentido. Principalmente nas grandes metrópoles, vários polos urbanos surgiram, como bairros dedicados à indústria ou grandes centros em cidades maiores nas regiões metropolitanas. Com isso, muitas linhas de ônibus e de metrô são perpassadas por diferentes fluxos populacionais ao longo do dia, seguindo as tendências de migrações populares.
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Entre as soluções citadas por especialistas para que os deslocamentos pendulares tenham efeitos menos nocivos na mobilidade urbana, está a necessidade da integração de linhas e de diferentes modais do transporte coletivo.
A possibilidade de novas conexões faz que as linhas mais lotadas se desafoguem e, em um país tão dependente do transporte rodoviário como o Brasil, isso pode ser a diferença para se ter um trânsito mais fluido e com menos poluição.
Apesar de o movimento de migração pendular ocorrer há praticamente um século nas grandes cidades, mudanças inesperadas podem ocorrer. A recente pandemia de covid-19 chocou o mundo pela imposição de mudanças nos deslocamentos urbanos tradicionais.
Após o lockdown em diversos países, muitas empresas adotaram o home office de forma emergencial, mas logo adotaram a modalidade pelas suas vantagens e sua economia. Em alguns países, isso gerou um movimento de pessoas saindo dos centros urbanos mais lotados e procurando moradias em cidades mais remotas, tranquilas e menos poluídas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, várias cidades com centros urbanos muito caros estão sofrendo com a falta de ocupação dos imóveis comerciais. Se estamos diante de uma nova tendência de fluxo migratório que equilibrará melhor a distribuição populacional, só o tempo dirá, mas, pela primeira vez, em muito tempo, o movimento de fuga da cidade foi registrado de forma tão ampla.
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mobilize, ES Brasil, Mercator, São Paulo Perspec.