Como melhorar a mobilidade das regiões metropolitanas?

19 de julho de 2023 8 mins. de leitura

Investimentos em novos modais e na melhora da infraestrutura são fundamentais para avanços na esfera metropolitana

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A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou, em maio de 2023, o estudo Mobilidade Urbana no Brasil: marco institucional e propostas de modernização, que analisa as principais carências da mobilidade urbana brasileira

Segundo o relatório, o Brasil precisa investir mais de R$ 295 bilhões até 2042 para equiparar as estruturas das 15 principais regiões metropolitanas do País ao padrão da Cidade do México e Santiago do Chile, tidas como referência no assunto na América Latina. Porém, quais são os maiores problemas da mobilidade urbana no Brasil e como planejar e melhorar o acesso a essas regiões?

Prioridade do transporte individual

O estudo traz conclusões que não são surpreendentes para quem acompanha as discussões na mobilidade urbana no País, mas os números chegam a assustar. O Brasil subinveste no transporte público e prioriza investimentos e subsídios para o transporte individual e para veículos movidos a motores à combustão.

Um novo exemplo desta inversão de prioridade ocorreu com o subsídio do Governo Federal para as montadoras de veículos, com a finalidade de baixar o preço do “carro popular”. A discussão é complexa pois, por um lado, a medida reaquece a indústria nacional, garantindo empregos e avanços tecnológicos no País. Por outro lado, não apenas não resolve os problemas de mobilidade, como também pode agravar os efeitos nocivos dos veículos nas cidades (poluição, engarrafamentos e esvaziamento do transporte público).

Grandes cidades ainda priorizam o deslocamento por veículos individuais. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Grandes cidades ainda priorizam o deslocamento por veículos individuais. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Problemas crônicos das regiões metropolitanas

O estudo do CNI demonstra que, desde 2010, o Brasil vem passando por um movimento de conurbação, ou seja, quando duas ou mais cidades se expandem tanto que se encontram e se integram. Outro fenômeno que voltou a ocorrer, mas em menor escala, é o êxodo rural e a migração de pessoas para as grandes cidades. Estas, onde estão concentradas as vagas de emprego e oportunidades financeiras, atraem milhões de cidadãos que buscam melhores perspectivas de vida.

O movimento populacional não é novo, mas o tamanho das cidades geram novos problemas. A maioria da população recém-chegada se instala nas cidades-satélites ou nas regiões metropolitanas, onde os preços dos imóveis e de aluguéis são menores. Assim, as pessoas precisam se deslocar por longas distâncias para trabalhar nos principais centros urbanos e nas capitais. O fenômeno da ida dos trabalhadores para o centro das cidades pela manhã e volta após o horário de expediente é chamado de migração pendular.

Com a conurbação, muitos trabalhadores se deslocam por duas ou mais cidades para chegarem ao seu destino. Nem sempre o transporte público destes locais é integrado, gerando problemas como a necessidade de mudança de meios de transporte, pagamento de novas tarifas, a necessidade de usar aplicativos ou transporte ilegal para completar as rotas e mais. Com isso, o tempo de deslocamento aumenta bastante, o rendimento no trabalho diminui e a qualidade de vida é afetada.

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Dependência do modal rodoviário e possíveis soluções

Um dos principais problemas apontados pelo estudo é um velho conhecido dos especialistas em mobilidade urbana: a dependência de apenas um modal para realizar os deslocamentos. O Brasil é dependente do modal rodoviário para os seus transportes e, nas grandes cidades, isso é representado pelo fato de que, em muitas, o ônibus é o único transporte público disponível.

Segundo o estudo da CNI, para alcançar os padrões das cidades citadas, os maiores investimentos deveriam ser feitos na criação e expansão da malha de metrô. Em seguida, na expansão da malha ferroviária para trens urbanos e, por fim, investimentos da infraestrutura para ônibus (criação e expansão de corredores e faixas exclusivas).

A disponibilidade de diferentes modais garante a opção de escolha para os usuários, que podem fugir das rotas mais lotadas. Além disso, pode diminuir a lotação nos horários de pico e contribuir para a diminuição das passagens pelo aumento da concorrência.

A mera oferta de serviços, no entanto, não terá efeito se quem mais precisa não puder pagar por eles. Portanto, é fundamental que as cidades trabalhem em conjunto para garantir integração e otimização da logística. Bilhetes únicos são uma realidade que agiliza a vida de milhões de pessoas em algumas das principais regiões metropolitanas. 

Mais do que nunca, a tecnologia e a inteligência artificial apresentam soluções para os principais problemas de planejamento urbano e logístico, mas é preciso investimento para aplicá-las na melhora da qualidade de vida da população.

Ônibus elétricos são o caminho?

Os ônibus são um capítulo à parte na mobilidade urbana, e como protagonistas na vida dos trabalhadores brasileiros, eles não vão embora tão cedo. Porém, um novo avanço tecnológico pode transformar o setor: a chegada de veículos elétricos.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice, Geraldo Alckmin (PSB), na inauguração da fábrica de ônibus elétricos do grupo Eletra. (Fonte: Eletra/Divulgação)
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice, Geraldo Alckmin (PSB), na inauguração da fábrica de ônibus elétricos do grupo Eletra. (Fonte: Eletra/Divulgação)

Os ônibus elétricos não são novidades, e alguns modelos já circulam em algumas grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Porém, o setor deve sofrer fortes investimentos nos próximos anos. Leis federais e municipais estão atuando para a renovação das frotas e aumentando a porcentagem de veículos elétricos.

Os ônibus elétricos trazem uma série de vantagens: são mais silenciosos e emitem pouquíssima poluição quando comparados aos modelos à combustão. Além disso, apesar do custo inicial mais caro, eles têm um menor custo de manutenção a longo prazo, que pode garantir a redução do preço de passagens.

Dessa forma, a eletrificação da frota pode mitigar uma série de problemas da mobilidade urbana. Por outro lado, esse modelo de transporte pode ser pouco efetivo se simplesmente substituir os modelos das linhas já em atuação. Os ônibus são mais eficazes como transporte público quando não competem com o trânsito normal; por isso, modelos como BRTs, trólebus e até VLTs são comuns nas cidades com melhor mobilidade urbana. Criar faixas ou corredores (canaletas) exclusivos para os ônibus garante uma maior velocidade média de deslocamento e permite que tecnologias como a sincronização com semáforos sejam utilizadas.

Eletrificar e criar sistemas de BRTs nas grandes cidades e suas regiões metropolitanas pode revolucionar o transporte público brasileiro e com um baixo custo. O valor para a implementação de 1 km de BRT é de cerca de R$ 20 milhões, enquanto a implementação de 1 km de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é de R$ 80 milhões, e de 1 km de metrô pode chegar a R$ 200 milhões.

O baixo custo deve-se ao fato de que o modal utiliza a infraestrutura urbana que, em grande parte, já está pronta, bastando apenas reorganizar faixas e criar as estações. Para que um sistema de ônibus seja verdadeiramente de BRT é necessário que as estações sejam feitas de modo a terem o pagamento da passagem realizado antes da entrada no ônibus e que o embarque e desembarque sejam no nível do passageiro. Estas medidas garantem a agilidade do sistema, similar a um metro. Além disso, as estações podem ser planejadas para permitir a troca das linhas sem o pagamento de uma nova passagem.

Cidade para quem?

Em um cenário de baixo investimento no transporte público, um modal já existente e com baixo custo de adaptação pode ser ideal para mitigar os problemas de regiões metropolitanas. Um transporte mais ágil garante melhor qualidade de vida, e a eletrificação ataca de frente o problema da poluição nos centros urbanos.

Avanços na esfera metropolitana podem ocorrer, apesar das dificuldades financeiras. É preciso planejar, investir nas ferramentas corretas e integrar a tecnologia no caminho dos cidadãos.

Fontes: Portal da Indústria, Agência Brasil, Confederação Nacional da Indústria, Mobilize, Estadão

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