A capital inglesa adota o pedágio urbano em várias estradas para tentar diminuir o tráfego de veículos no centro da cidade
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Londres (Inglaterra) tem um longo histórico de poluição e de medidas de combate a ela. Em 1952, por exemplo, a combinação de condições climáticas incomuns impediu a circulação normal do ar na cidade, fazendo que a grande poluição causada pelas indústrias movidas a carvão não se dissipasse e uma espessa neblina tóxica cobrisse a cidade por quatro dias. O episódio, conhecido como o Grande Nevoeiro de Londres, vitimou pelo menos 4 mil pessoas.
Mais recentemente, as indústrias deixaram de ser a principal preocupação quando o assunto é poluição, e os carros assumiram esse protagonismo. Na cidade, estima-se que 9 mil pessoas morrem por ano por causa de problemas de saúde decorrentes da poluição, como acidente vascular cerebral (AVC), câncer de pulmão, doenças cardíacas e respiratórias.
Para combater o problema nas áreas centrais da cidade, que são mais complicadas por estarem sempre com o trânsito lotado, a cidade adotou os pedágios urbanos. Na prática, são taxas aplicadas para quem circular em zonas específicas em horários determinados. Em vez de usar uma cancela, como um pedágio tradicional, a aplicação das taxas é feita pela fiscalização por meio de câmeras espalhadas pela cidade.
A cobrança de taxa em estradas do centro da cidade começou em 2003. Na época, quem circulasse com carros movidos a combustíveis fósseis em determinadas vias entre as 7h e as 18h tinha que pagar 8 libras.
Em 2019, o governo local decidiu adotar medidas mais drásticas e criou a Zona de Ultrabaixa Emissão (Ulez), que funciona 24 horas por dia e aplica taxas bem mais pesadas a quem ainda insiste em circular pelo centro. As cobranças variam entre 12,5 libras e 100 libras, dependendo da adequação dos veículos às leis antipoluição.
Além disso, a zona de restrição foi ampliada em 2021 e abrange uma área que abriga 3,8 milhões de pessoas. Há planos para que, em 2023, a medida seja expandida à cidade toda.
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A cobrança de taxas é um forma de incentivar (ou forçar) os moradores a trocar carros muito poluentes por modelos mais novos que não poluam tanto (como os elétricos) ou que estejam de acordo com as novas leis europeias de emissões de dióxido de carbono (CO2) e dióxido de nitrogênio (NO2). Na prática, a medida também é uma forma de lidar com o problema de congestionamentos nas grandes cidades, já que a frota de veículos nunca para de crescer.
Mais do que incentivar a troca de carro, medidas como essa querem levar os moradores a adotar o transporte público, por isso parte do grande volume arrecado com as taxas financia programas de qualificação do transporte coletivo. Em Londres, a maior parte da tradicional frota de ônibus já é composta de veículos elétricos.
Independentemente da polêmica sobre o efeito da cobrança para a população, a medida mostra resultados. Em dez meses após a aplicação da ampliação da restrição, 49% a menos de veículos poluentes se dirigiam ao centro da cidade. O número de escolas expostas a níveis altos de poluição caiu de 455 para 14, as emissões de CO2 de veículos diminuíram 6% e as concentrações de NO2 foram reduzidas em 44%.
Outro ponto positivo da adoção de taxa nas estradas do centro foi que a poluição ficou mais “democrática”. Antes das medidas, as áreas mais pobres eram as mais afetadas pelo ar contaminado.
No Brasil, em 2021 foi editada a Lei nº 12.587, que regulamenta a política de mobilidade urbana nas cidades. Desde então, os municípios estão liberados para aplicar a cobrança de taxa nos centros. O grande problema é que a maioria das cidades brasileiras não tem transporte público efetivo e variado. Assim, a cobrança pode deixar milhões de cidadãos sem opções para se locomover.
De qualquer forma, soluções precisam ser encontradas. Em São Paulo (SP), por exemplo, a frota de veículos cresce cerca de 400 mil unidades a cada ano, com a maioria das famílias que têm carro tendo comprado outro para driblar as regras do rodízio.
Na capital paulista, os carros particulares ocupam 88% da área das avenidas e só transportam 49% das pessoas em trânsito. Em outras grandes cidades, como Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG), as taxas de congestionamento crescem entre 15% e 19% ao ano.
Fonte: Transport for London, London Borough of Hounslow, ThinkSeg.