Planejamento urbano: como Nova York foi pensada enquanto crescia?

5 de junho de 2022 5 mins. de leitura

Entenda como funcionaram os planos de desenvolvimento urbano para domar o crescimento assombroso de Nova York

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A Regional Plan Association (RPA) é uma organização não governamental que desenvolve planos urbanos para Nova York, New Jersey e Connecticut (EUA). Em 2022, a instituição completa 100 anos; ao longo de gerações, muitos de seus estudos e de suas sugestões ajudaram a moldar a maior megalópole dos Estados Unidos.

Revisitar os planos da RPA das décadas de 1920 e 1950 é como fazer um exercício de clarividência: muitas das pautas mais atuais de mobilidade urbana, como acessibilidade, foco no pedestre e criação de áreas verdes já estavam no cerne das discussões.

Isso não significa que tudo tenha sido realizado nem que os planos colocados em prática foram sempre um sucesso. A seguir, vamos analisar os principais projetos que ao longo de décadas ajudaram a moldar Nova York.

Primórdios do planejamento urbano de Nova York

Linhas de metrô de Nova York em 1929. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Linhas de metrô de Nova York em 1929. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

O planejamento municipal não surgiu como ciência ou área de estudo nos Estados Unidos até a virada do século 19 para o século 20. Na época, as regras de desenvolvimento das cidades eram de jurisdição dos Estados, o que impedia que houvesse regras nacionais mais claras. Nova York já era um ponto de ebulição e de convergência de imigrantes e era nítido que uma ordenação mais rigorosa no crescimento da cidade era necessária.

Após o fim da Guerra Civil, uma nova fase de crescimento econômico se deu nos Estados Unidos, e as elites de Nova York começaram a se preocupar em tornar a cidade mais “civilizada” e dar condições para que trabalhadores chegassem às fábricas e os produtos escoassem para portos e estradas com mais eficiência.

Nesse contexto, em 1922 surgiu o Comitê de Planejamento de Nova York e Adjacências e a Regional Plan Association (RPA). Na primeira reunião nasceu um documento considerado um marco para o planejamento urbano: o Regional Plan of New York and Its Environs.

Entre os principais feitos da época, estão a demarcação e a interligação planejada das principais rodovias com limite alto de velocidade, a criação de meios de transporte de massa (metrôs, ônibus e trens de superfície) e o planejamento de suas rotas, a configuração das hidrovias, a preservação de alguns pontos naturais, a criação de parques, o planejamento de desenvolvimento urbano por meio de linhas de trem e metrô e o zoneamento de indústrias e negócios.

Apesar dos avanços, houve muito debate no projeto. Alguns dos participantes criticaram o adensamento urbano do centro da cidade e o foco nas ruas e nos carros. Um dos planejadores preferia um sistema descentralizado com várias cidades-jardim, dizendo que o projeto como estava levaria a uma superpopulação que se adensaria por quilômetros — o que de fato aconteceu.

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Segundo planejamento

Ao longo das décadas seguintes, muitas transformações sociais ocorreram. Talvez a principal delas tenha sido o baixo custo para adquirir um automóvel, o que levou as ruas a estarem quase sempre ocupadas e os congestionamentos a alcançarem recordes. Concomitantemente, empresas de trem e metrô tiveram o orçamento diminuído e a especulação imobiliária acentuou a desigualdade socioespacial e a formação de regiões metropolitanas.

Nesse contexto, a RPA lançou um segundo plano, com uma série de documentos que previam problemas que ocorrem até hoje nas grandes cidades. Também foi criado o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos (U.S. Department of Housing and Urban Development — HUD), órgão federal que pretendia unificar e pensar soluções para as cidades. Na época, a RPA começou a dar espaço para pessoas das comunidades e deixou de ser representada apenas por homens brancos.

Nova York nos anos 1970. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Assim, muitos problemas foram abordados, e um deles foi como melhorar a integração dos deslocamentos das regiões mais afastadas com o centro, onde ficava a maioria dos empregos, e se deveriam ou não banir completamente os carros de Manhattan.

Apesar das ideias, pouco foi posto em prática nesse segundo momento, limitando a atualização de algumas linhas do transporte público.

Terceiro plano

Na década de 1990, houve uma terceira rodada de planejamento urbano. Depois das crises financeiras dos anos 1980, muitas áreas vizinhas ficaram abandonadas e muitos empregos foram perdidos. Em 1996 foi lançado o terceiro plano de desenvolvimento urbano, com um aporte de US$ 150 bilhões em investimentos que pretendiam recuperar a economia, o meio ambiente e o patrimônio local.

Com isso, projetos como a expansão das linhas de metrô, a transformação de áreas abandonadas em parques e os projetos de recuperação de empresas para geração de empregos foram colocados em prática. Essa última rodada de acontecimentos deu a cara atual do centro de Nova York.

Quer saber mais? Confira aqui a opinião e explicação dos nossos parceiros especialistas em Mobilidade.

Fonte: Bloomberg, New York Times, RPA, Fourth Plan, SPUR

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