Como redistribuir o espaço viário pode transformar cidades?

1 de dezembro de 2022 5 mins. de leitura

Entenda porque manter grandes espaços públicos dependentes dos carros não coopera para a mobilidade urbana

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É comum encontrar nas grandes cidades milhares de pessoas dividindo calçadas apertadas e, mesmo onde o espaço viário costuma estar cheio, a ocupação das ruas poderia ser repensada, já que a maioria dos carros trafega apenas com um ou dois passageiros.

O século 20 foi considerado o século dos carros. A maioria das políticas públicas de infraestrutura nas grandes cidades atuaram de forma a se adequar a este novo tipo de meio de transporte. Em pouco tempo, o espaço urbano se tornou similar em todo o mundo, com prédios e ruas tomadas por carros.

Carros dominando as ruas são imagem comum em todas as grandes cidades do mundo. (Fonte: Pexels/Reprodução)
Carros dominando as ruas são imagem comum em todas as grandes cidades do mundo. (Fonte: Pexels/Reprodução)

Mais ruas, mais carros

Com mais ruas disponíveis e melhor infraestrutura viária, os veículos particulares tornam-se um meio de transporte mais atrativo. Afinal, em condições ideais, eles são mais confortáveis e fazem o trajeto em menos tempo.

Neste cenário, muitas megalópoles chegaram a um ponto comum: sem a possibilidade de ampliar a malha viária, sugestões alternativas precisaram ser implementadas. O que se viu com o fechamento de algumas ruas para carros ou com o compartilhamento dos espaços entre veículos, pedestres e outras finalidades foi positivo. Na maioria dos casos, não houve nenhum caos no trânsito, o tráfego flui para outras áreas ou horários e, em muitos casos, grandes contingentes populacionais buscam outros meios de transporte.

Fechar alguns pontos da cidade também se tornou uma medida comum em grandes metrópoles. Nova York e Paris já estão fazendo isso com êxito, recuperando o comércio e o tráfego a pé em partes centrais e turísticas.

Obviamente, para fechar ou diminuir a possibilidade de oferta de vagas em um modal de transporte, é preciso oferecer opções. Isto exige um investimento para qualificar o transporte público, a malha cicloviária e calçadas, seja para bikes, patinetes, skates ou caminhadas.

Privatização dos espaços urbanos

No Brasil, segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), a maior parte da população se desloca diariamente a pé. São 39% que dependem apenas das próprias pernas para se locomoverem diariamente. Outros 28% utilizam o transporte coletivo, dos quais a maioria precisa complementar a rota a pé, apenas 26% dos deslocamentos diários são realizados por carros e outros 4% por motos.

Carros ocupam muito espaço mas carregam pouca gente. (Fonte: Pexels/Reprodução)
Carros ocupam muito espaço mas carregam pouca gente. (Fonte: Pexels/Reprodução)

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Nota-se, portanto, que apesar do espaço viário ser público, seu uso é privado. Para usufruir deste espaço é preciso ter ou estar de posse de um veículo (seja por aluguel ou uso de aplicativo). Infelizmente, o acesso a veículos está cada vez mais difícil. O movimento do fim do carro popular foi escancarado com a crise de covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, que levaram a falta de semi-condutores e outras peças no mercado internacional.

De repente, o preço dos carros novos dispararam e o mercado de usados seguiu este movimento. A estratégia das montadoras de priorizar a fabricação e venda de carros mais caros, com maior tecnologia embarcada e maior taxa de lucro se concretizou. Com isso, ficou mais difícil para boa parte da população conseguir alcançar o sonho do carro próprio. Logo, também ficou mais difícil acessar e usufruir partes da cidade que deveriam ser abertas e gratuitas.

Cidade para quem?

O modelo de cidade pensada para carros mostra sinais de esgotamento. Os veículos a combustão são os maiores responsáveis pela poluição nos grandes centros urbanos e a mera substituição destes por veículos elétricos parece não ser solução para vários problemas ambientais.

Grande parte das soluções apontadas por especialistas sobre mobilidade urbana apontam para a redistribuição do espaço viário como caminho. Diminuir a velocidade nas vias e compartilhar faixas ou até ruas inteiras com carros são opções que fazem motoristas andar com mais cuidado e redefinem o papel dos veículos nas cidades.

O carro, assim, deixa de ser protagonista para ser apenas mais uma forma de locomoção e, portanto, precisa aprender a conviver com outros agentes mais frágeis, como ciclistas e pedestres. Para isso, a cidade precisa oferecer uma diversidade de modais, integrar metrôs, ônibus e espaços seguros para caminhadas. Ou seja: a mobilidade ativa precisa estar no centro dos debates.

Quer saber mais de mobilidade urbana? Assista aqui à opinião e à explicação de nossos parceiros especialistas sobre diversas pautas ligadas ao tema.

Fonte: Caos Planejado, Arch Daily, Brookings, Ideas

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