Estudos sugerem que transporte público não precisa ser vilão

10 de janeiro de 2021 5 mins. de leitura

Conclusões até agora podem direcionar novos caminhos para tornar ônibus, trens e metrôs mais seguros na pandemia de covid-19

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O transporte público é um serviço fundamental para a população, mas por ter veículos fechados e com grande circulação de pessoas de várias regiões da cidade, ônibus, trens e metrôs têm sido vistos como verdadeiros vilões na proliferação de covid-19. 

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Pesquisas seguem questionando o argumento, relativizando o uso desses modais e apontando soluções que possam reduzir os riscos de contágio. Para tais estudos, quando são tomadas as medidas corretas partindo do que já se descobriu até agora sobre o vírus, o transporte público não precisa ser a forma de deslocamento mais temida durante a pandemia.

Estudos e medidas 

Depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgar que a forma como o ar circula impacta diretamente na transmissão da covid-19, prefeituras e empresas de transporte coletivo passaram a investir em formas inteligentes de dar vazão ao ar do interior dos veículos. 

Bons exemplos vêm da Colômbia. O metrô de Medelín, a segunda maior cidade do país, conta com um sistema de circulação de ar na direção vertical em que o ar é injetado na parte superior do vagão e expelido na parte inferior. As gotículas liberadas pelos passageiros se depositam no piso dos vagões, o que evita a transmissão aérea. Esse sistema proporciona uma renovação rápida de 50% do ar em 43 segundos, 80% em 2 minutos e 100% em 3 minutos e 30 segundos.

Como diferentes países lidam com a crise do transporte coletivo?

Os ônibus em Bogotá também têm circulação diferenciada de ar. Os veículos convencionais têm tempo de renovação de 10 a 15 minutos e os micro-ônibus, de até 20 minutos.

Japão orienta as pessoas a não atenderem a ligações no transporte nem a falarem durante o trajeto. (Fonte: Shutterstock)
Japão orienta as pessoas a não atenderem a ligações no transporte nem a falarem durante o trajeto. (Fonte: Shutterstock)

As máscaras são outra saída eficiente quando usadas de maneira correta por quem está em um mesmo ambiente. Uma das primeiras pesquisas a demonstrar essa eficácia foi feita na China com o mapeamento da trajetória de transmissão de um passageiro infectado em Chongqing, que fez um trajeto de ônibus em que ele e a maior parte dos passageiros não estava utilizando máscara. Em 2 horas e 10 minutos, 5 das 39 pessoas foram contaminadas. Ao fim da viagem, o indivíduo comprou uma máscara e embarcou em um micro-ônibus em um novo trajeto de 50 minutos, no qual nenhum dos outros 14 passageiros foi contaminado.

Desinfecção em veículos é um dos mecanismos mais usados para evitar a proliferação de coronavírus em ônibus e metrôs. (Fonte: Shutterstock)
Desinfecção em veículos é um dos mecanismos mais usados para evitar a proliferação de coronavírus em ônibus e metrôs. (Fonte: Shutterstock)

Outro aspecto descoberto durante a pandemia e que impactou a rotina e a segurança no transporte público foi o impacto da fala na transmissão do vírus. Estudos mostraram que falar por 4 minutos é o equivalente a tossir ou cantar por 30 segundos em termos de dispersão do coronavírus. Isso fez que no Japão as pessoas fossem orientadas a não atenderem a ligações nem falarem durante o trajeto.

Para além desses cuidados, surgiram inúmeros mecanismos de desinfecção de veículos que em muitos lugares devem seguir funcionando após a pandemia como legado sanitário.

Transporte coletivo: o que 2008 pode ensinar sobre a crise atual?

Salvar o transporte público de uma das maiores crises de sua história passa por reinventá-lo de forma inteligente. Para pesquisadores, caminhos não faltam. Assim, ônibus, trens e metrôs não necessariamente estão fadados à ruína; resta saber até que ponto empresas e autoridades brasileiras estão dispostas a se lançar a essa transformação.

Serviço essencial

Segundo a OMS, a mobilidade ativa é a forma mais segura para evitar a proliferação do coronavírus em deslocamentos diários, mas nem sempre é possível chegar ao trabalho a pé ou de bicicleta. Populações que atuam em áreas centrais e vivem na região metropolitana de grandes cidades, por exemplo, têm bastante dificuldade em fazer seu trajeto habitual caminhando ou pedalando devido às longas distâncias.

É nesse sentido que ônibus, trens e metrôs são muitas vezes as únicas alternativas de transporte para trabalhadores, e essa realidade é ainda mais comum entre os mais pobres. Um estudo do Instituto de Sistemas Complexos de Engenharia realizado no Chile mostrou que o uso do transporte coletivo caiu por volta de 80% entre a população com renda mais alta; entre os de baixa renda, a queda foi de apenas metade disso. 

Fonte: ISCI, Caos Planejado, WRI Brasil

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